A história ilustrada da conquista da Rússia pelos mongóis

História
BORIS EGOROV
Incrivelmente grande, bem treinado e cruel, o exército oriental não apenas destruiu todo o país, mas também aterrorizou o povo russo. Em sete pinturas temáticas, explicamos como isso ocorreu.

“Por causa de nossos pecados, chegaram povos desconhecidos, moabitas sem Deus, que ninguém sabe exatamente quem são, de onde vieram, que língua falam, de que tribo são e qual é sua fé”, escreveu um cronista desconhecido sobre a primeira aparição das tropas mongóis nas fronteiras russas, em 1223, Os mongóis inicialmente não planejavam invadir a Rússia, e o objetivo da campanha militar dos comandantes Subedei e Jebe para a planície da Europa Oriental era o de reconhecimento.

Depois de atravessar as montanhas do Cáucaso, o exército mongol, composto por 30 mil soldados, alcançou as estepes da região norte do Mar Negro e atacou as tribos de cumanos, povos nômades turcomanos, atrás de cujas terras ficavam os principados russos. Embora as relações entre os príncipes russos e as tribos turcas não fossem boas, os russos decidiram responder ao pedido de ajuda de Khan Kotyan e se opor aos mongóis em uma frente comum.

A batalha no rio Kalka (no território da Ucrânia Oriental), que ocorreu em 31 de maio de 1223, terminou com a derrota completa do exército russo-cumano, e foram mortos 90% dos soldados e pelo menos nove príncipes. As causas do desastre foram a subestimação do inimigo, a falta de um comando unificado e a inconsistência das ações dos líderes militares.

Após a vitória, os mongóis foram para o leste e, ao longo dos anos, o medo e o horror começaram a ser gradualmente esquecidos. Em 1237, porém, o poderoso exército do oriente voltou. Na campanha ocidental sob o comando de Batu Cã, neto de Genghis Khan, os mongóis reuniram um exército composto por 40 mil a 140 mil soldados.

Esse enorme exército para a época dominava perfeitamente a equitação e o tiro com arco, e foi reforçado por um grande arsenal de armas de cerco tomadas da China, que havia sido conquistada pelos mongóis. Os mongóis foram combatidos pelas forças dispersas dos principados russos, que sempre brigavam entre si e não conseguiam se unir mesmo diante de um perigo tão terrível em comum.

No caminho dos mongóis estava o principado de Riazán, que pediu ajuda a seus vizinhos: os principados de Vladimir-Suzdal e de Tchernigov. O primeiro, no entanto, atrasou o envio de tropas e o segundo se recusou a enviar as suas porque Riazán tinha evitado a participação do conflito com os mongóis em 1223.

Apesar da falta de apoio, o principado de Riazán decidiu resistir e, ao ultimato dos mongóis de lhes dar um décimo de toda sua riqueza, responderam: “Se todos nós formos mortos, então tudo será seu!” A cidade caiu em 21 de dezembro de 1237, após um cerco de cinco dias. “Não restava um único homem vivo na cidade, todos morreram ao mesmo tempo e beberam de um cálice da morte. Não havia gemido nem choro ali: nem pai e mãe por filhos, nem filho por pai e mãe, nem irmão por irmão, nem por parentes: todos foram mortos juntos. E tudo isso aconteceu por nossos pecados!”, lê-se na crônica "O conto da destruição de Riazán".

Em 1º de janeiro de 1238, em uma batalha perto da cidade de Kolomna, os mongóis derrotaram o exército do principado de Vladimir, que fora para lá para resgatar Riazán. No entanto, os invasores também sofreram uma grande perda, e na batalha foi morto um proeminente líder militar, Kulkhan, um dos filhos de Genghis Khan.

Durante a marcha dos mongóis, o “pequeno esquadrão” de Ievpáti Kolovrat atacou os mongóis. Com forças limitadas, Kolovrat conseguiu causar danos significativos e destruir sua retaguarda. O próprio Batu Cã elogiou o bravo guerreiro. Após a morte de Kolovrat, Batu Cã ordenou que seu corpo fosse entregue aos soldados da Riazán capturados e libertá-los.

Os mongóis atravessaram as terras do principado Vladimir-Suzdal, devastando inúmeras aldeias e cidades, incluindo Moscou. Em 7 de fevereiro, a capital do principado, Vladimir, também caiu, enquanto a família do governante, Iúri Vsevolodovitch, morreu no incêndio. Mas o Grão-Duque não estava na cidade naquele momento. Ele reuniu forças no rio Sit, onde morreu com quase todo o seu exército em 4 de março, derrotado pelo comandante Burundai. Assim, todo o nordeste da Rússia foi submetido aos mongóis.

Durante as batalhas com o exército de Vladimir, porém, os mongóis perderam muitos soldados e decidiram não atacar a maior cidade comercial russa, Nôvgorod. Assim, suas tropas foram expulsas de Smolensk. O cerco à pequena cidade de Kozelsk durou mais de 50 dias. Quando a cidade foi finalmente tomada, Batu Cã, enfurecido, ordenou matar todos os habitantes e destruir a cidade.

Os mongóis precisavam de uma pausa e retomaram seu ataque às terras russas apenas no ano seguinte. Desta vez, os principados do sul foram derrotados. Em 3 de março de 1239, Pereslavl, considerado inexpugnável, foi tomada; em 18 de outubro, Tchernigov; e, em 6 de dezembro, Kiev. “Esta cidade era muito grande e muito populosa, e agora quase não existe mais. Há apenas 200 casas…”, escreveu o italiano John de Plano Carpini, que visitou Kiev em 1245. Após passar pelas terras russas, os mongóis invadiram a Hungria e a Polônia.

A Rússia sofreu uma terrível derrota: um grande número de pessoas foram mortas ou feitas prisioneiras, 49 das 74 cidades conhecidas foram destruídas, 14 delas nunca foram reconstruídas, outras 15 cidades foram reduzidas a pequenas aldeias. Um forte golpe foi desferido na economia e na cultura, muitos manuscritos valiosos foram queimados, muitos templos foram destruídos.

O poderoso Estado mongol, chamado de Canato da Horda Dourada e que se estendia da Crimeia até a Sibéria, não ocupou as terras russas, mas estabeleceu seu poder político e econômico. Os cãs decidiam quem governaria a Rússia e como, e os príncipes foram forçados a visitar os cãs para obter os “iarlíks”, ou seja, cartas com autorização para reinar em suas próprias terras.

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