Após a Revolução de 1917 e a Guerra Civil na Rússia, a economia ficou praticamente destruída e o país, ameaçado de fome. As medidas brutais do comunismo de guerra geraram descontentamento popular e manifestações antibolcheviques.
Em 1912, para enfrentar essa situação e manter sua posição no poder, os bolcheviques deram o passo inesperado de reintroduzir a iniciativa privada no âmbito de pequenas e médias empresas – no que ficou conhecido na história como Nova Política Econômica (NEP).
Em primeiro lugar, a nova política afetou o setor de alimentos. O enorme imposto sobre alimentos, que era um fardo pesado para os camponeses durante o comunismo de guerra, foi bem reduzido, e indivíduos foram autorizados a comercializar alimentos excedentes.
Em vez de receber “rações” de alimentos, as pessoas passaram a ser pagas em dinheiro com o qual podiam comprar sua própria comida.
Também foi permitido contratar mão de obra e até criar pequenos negócios privados. No país do vitorioso comunismo, as relações de mercado passaram a ser efetivamente permitidas.
Ao lado de lojas particulares, surgiram bares, cabarés e restaurantes. As pessoas sentiam, na época, um senso de liberdade e renascimento após a guerra sangrenta.
Especialmente evidente foi o impacto da era NEP na moda – não era mais vergonhoso se envolver em tal “burguesisse”, como cuidar da aparência.
Os uniformes de trabalho foram substituídos por peças da moda: as mulheres se enfeitavam com chapéus, meias e vestidos extravagantes e, pela primeira vez, começaram a cortar o cabelo curto e fazer penteados à la Zelda Fitzgerald. Os homens também passaram a vestir ternos mais elaborados de três peças, com suspensórios.
Alheio ao comunismo, o espírito da era NEP também penetrou na cultura, dando continuidade às tradições da vanguarda. Artistas, designers, músicos e cineastas realizaram experimentos ousados.
A atmosfera da época da NEP em Moscou e Petrogrado (atual São Petersburgo) pode ser comparada a uma versão modesta dos loucos anos 1920 norte-americanos e de ‘O Grande Gatsby’. No início da década de 1920, as duas capitais tinham um quê de Berlim ou Paris.
No entanto, a era NEP não durou muito. A política não foi capaz de resolver os desafios econômicos que o país estava enfrentando. Em 1927, não havia comida suficiente para abastecer os trabalhadores das cidades, e os pequenos produtores e lojistas não seriam capazes de sustentar o país após a devastação da guerra civil.
Além disso, a Rússia precisava de uma rápida industrialização para resistir à ameaça de intervenção estrangeira. Sem falar da razão ideológica: muitos bolcheviques na direção do Partido estavam preocupados que o “desprezível” capitalismo voltasse a penetrar no país.
A preocupação com comida, diversão e acúmulo de capital passou a ser percebida como o retorno do modo de vida burguês, que contrariava a ideologia da Revolução.
Os “homens da NEP” que ficaram ricos começaram a ser percebidos como uma reencarnação de exploradores e inimigos da classe trabalhadora. “Homem da NEP” se tornou um termo tão negativo na propaganda soviética quanto “burguês”.
O início da reversão da NEP foi a tomada à força de grãos dos camponeses em 1928. Em abril de 1929, a 16ª Conferência do Partido aprovou o plano de industrialização forçada da URSS, que implicava o fim da economia de mercado e sua total centralização. Como resultado, o Estado concentrou o controle de todos os “negócios” em suas próprias mãos.
LEIA TAMBÉM: Por que o Império Russo enfrentou 3 revoluções em apenas 10 anos
Caros leitores e leitoras,
Nosso site e nossas contas nas redes sociais estão sob ameaça de restrição ou banimento, devido às atuais circunstâncias. Portanto, para acompanhar o nosso conteúdo mais recente, basta fazer o seguinte:
Inscreva-se em nosso canal no Telegram t.me/russiabeyond_br
Assine a nossa newsletter semanal
Ative as notificações push, quando solicitado(a), em nosso site