Os tesouros culturais que os nazistas levaram da URSS

História
ALEKSANDRA GÚZEVA
Durante a Segunda Guerra Mundial, mais de um milhão de objetos de museus e bibliotecas foram levados para a Alemanha. Muitos nunca retornaram à pátria, e alguns se perderam para sempre no caminho...

Hitler e aqueles que o rodeavam se consideravam grandes conhecedores de arte. Eles sonhavam em criar um gigantesco museu com obras-primas de todo o mundo: livros, manuscritos, instrumentos musicais, partituras, pinturas, esculturas e artefatos históricos. Unidades especiais SS eram encarregadas de apreender tesouros culturais e transportá-los para a Alemanha.

Durante a guerra, mais de 400 museus soviéticos foram danificados e 115 milhões de livros foram destruídos em bibliotecas. O catálogo de valores culturais roubados ou perdidos na época tem 18 volumes e lista 1.177.291 itens de museus — o rol continua  a ser constantemente atualizado.

Eis alguns dos objetos mais notórios tomados pelos nazistas da URSS:

Pinturas da Galeria Tretiakóv

No início da guerra, um grande número de pinturas foi evacuado para a Sibéria e depois foi devolvido a suas instituições de origem. Entretanto, mais de 30 pinturas da Galeria Tretiakóv se encontravam em exposições temporárias em missões soviéticas na Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia e Polônia.

A pilhagem de objetos de valor soviéticos começou nas primeiras horas de ataque alemão, e batalhões especiais removeram documentos valiosos, móveis e pinturas das embaixadas soviéticas e missões comerciais.

Muitos deles provavelmente caíram nas mãos de colecionadores privados, como foi o caso de obras-primas como "Miseráveis Cegos na Feira de Malorossia", de Vladímir Makovski, "Noite de Inverno" e "Monte de feno" de Nikolai Dubovski, "Pinheiros sobre o precipício", de Ivan Chíchkin. Essas pinturas foram perdidas para sempre.

Esse também foi o destino de várias pinturas de paisagens do norte de Aleksandr Boríssov que tinham sido adquiridas pelo próprio Pável Tretiakóv, fundador da galeria homônima. Em 2006, uma dessas obras, “Montanhas Viltchiki com iluminação noturna em meados de setembro” (1896), foi encontrada no mercado de antiguidades e devolvida à Galeria Tretiakóv.

Quarto de Âmbar de Tsárskoie Selô

Trabalhadores de museus em São Petersburgo (então Leningrado) embalaram, esconderam e evacuaram em tempo recorde milhões de itens das galerias de arte e palácios reais. Apesar de seu enorme heroísmo, nem tudo foi salvo.

Os itens das demais exposições foram cuidadosamente embalados, e as preciosas paredes do Salão Âmbar, do século 18, no Palácio de Catarina, em Tsárskoie Selô, cuidadosamente cobertas com algodão e papel - para proteger contra explosões.

Mas os nazistas invadiram Tsárskoie Selô e outros subúrbios de Leningrado w roubaram a maioria das pinturas restantes, tirando também o papel de parede de seda e o piso de madeira em mosaico dos palácios.

Quanto ao Salão de Âmbar, eles tinham uma ordem especial: desmontar e remover todo seu conteúdo — o que fizeram em uma questão de dias.

Depois da guerra, seu conteúdo se perdeu. Estudiosos acreditam que isso ocorreu no Castelo de Koenigsberg e na queimada durante a captura da cidade (que se tornou, então, a Kaliningrado soviética). No entanto, existem outras hipóteses, como a de que o conteúdo foi escondido nas minas e até mesmo que retirado da Europa pelos americanos. A busca pelo conteúdo da sala, continua até os dias atuais.

O Salão de Âmbar é uma das maiores e mais famosas perdas culturais dos soviéticos. No final dos anos 1990, fragmentos da sala original - um mosaico e um baú de gavetas âmbar - foram confiscados na Alemanha, em uma tentativa de comercializar as peças.

 Isso ocorreu porque um oficial da SS os havia contrabandeado como lembrança. No ano 2000, as peças foram entregues à Rússia e, em 2003, a restauração do Salão de Âmbar foi concluída em Tsárskoie Selô. O processo foi patrocinado por empresas alemãs.

Arte do jardim do palácio do Tsar em Petergof

Petergof estava em território ocupado pela Alemanha e foi muito danificado. Os nazistas transformaram o suntuoso Palácio de Petergof em ruínas, destruíram o sistema de fontes e queimaram as árvores do jardim imperial.

Para proteger as valiosas esculturas de jardim, elas foram enterradas antes de os nazistas atacarem. Algumas delas chegaram a ser removidas e escondidas na Catedral de São Isaac, em São Petersburgo.

Após a libertação de Petergof, em janeiro de 1944, a maioria das esculturas escondidas foram encontradas. Mas os funcionários do museu não encontraram grandes estátuas de grande porte de Sansão, Volhov e outras. Elas simplesmente desapareceram sem deixar rastro.

A maior perda foi a da fonte de Netuno. Os alemães a levaram para Nuremberg — onde, ironicamente, no século 18, o imperador russo Paulo 1° a tinha comprado. Entretanto, em 1948, a composição foi encontrada e devolvida a Petergof.

Tesouros da Igreja da região de Nôvgorod

Durante a guerra, a região de Nôvgorod foi ocupada por tropas alemãs. Em 1942, uma das mais antigas igrejas russas, a catedral de Sofia de Nôvgorod, foi extremamente danificada por um bombardeio. As bombas penetraram nas paredes e no teto e, como resultado, muitos afrescos se perderam.

A cúpula do templo também foi danificada, e seu revestimento dourado foi derretido pelos alemães em suvenires que foram enviados de volta para casa. Muitos objetos de valor, incluindo a iconostasia e os mosaicos, foram retirados da catedral.

Soldados da Divisão Azul da Espanha, que lutaram ao lado dos nazistas, também roubaram a cruz dourada de dois metros que coroava a cúpula principal da igreja. Ela ficou por mais de 50 anos na Academia de Engenharia Militar, perto de Madri, e, em 2004, foi devolvida em uma cerimônia à Igreja Ortodoxa Russa. A relíquia é agora preservada dentro da igreja.

Os alemães ainda retiraram o sino da Igreja de Santa Mina, em Stáraia Russa, perto de Nôvgorod, pois encontraram nele a inscrição “Albert Benningk Me Fecit Lubeca Anno 1672 ("Albert Benning. Lubeck, 1672"). Isso porque Nôvgorod era membro da Liga Hanseática na antiguidade, assim como Lubeck. E, assim, os alemães enviaram o sino "de volta para casa" como um "presente da frente oriental".

"O velho sino do Lago Ilmen não curará todas as feridas causadas por bombas e cartuchos. Mas ele será um símbolo do soldado alemão que não é um Landsknecht ou um escravizador feroz, mas um defensor da cultura antiga", lê-se em um jornal alemão da frente de batalha de1942.

O artigo, com fotos de Stáraia Russa, foi encontrado e guardado por um soldado soviético. Muitos anos mais tarde, ele contou o ocorrido a uma historiadora local, Nina Bogdanova, e ela descobriu a localização do sino. Em 2001, o prefeito de Lubeck devolveu o sino a Stáraia Russa, que o preserva desde então no museu local.

 

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