Na Rússia, como nos países do hemisfério norte, o verão termina em 22 setembro. Assim, no final da estação, em 1° de setembro, terminam também as férias para todas as crianças russas.
O início das aulas não foi sempre obrigatório em 1º de setembro. Mas, após a Revolução, essa passou a ser a data mais comum para o início do ano letivo em todo o país. A partir de 1984, o 1º de setembro passou a ser oficialmente conhecido como “Dia do Conhecimento” e o dia oficial de início do ano letivo na maior parte da antiga União Soviética.
Nesse período, as crianças costumavam voltar das dátchas dos avós ou dos acampamentos de “pioneiros” (agrupamento juvenil equivalente ao dos escoteiros na URSS), onde passavam os três meses de férias de verão.
Na preparação para retornar às aulas, era preciso fazer as mochilas para a escola, comprar material, como cadernos e canetas, pegar livros na biblioteca e passar o uniforme. Havia um uniforme diferente para ocasiões especiais, como 1° de setembro. Ele tinha avental branco e laço para as meninas e camisa branca para os meninos.
No início da manhã de 1º de setembro, as crianças iam para a escola, geralmente acompanhadas pelos pais ou outros parentes, principalmente se fosse o primeiro ano. O mais importante, além de levar a mochila e estar arrumadinho, era levar flores para a professora.
Cerca de meia hora antes do início das aulas, todos os alunos faziam fila em frente à escola e o líder da turma carregava uma placa com o número e a letra dela. Normalmente, havia três classes em cada ano, intituladas, em cirílico, “А”, “Б”, “В” (o equivalente a “A”, “B”, “C” no alfabeto latino).
A partir do final da era soviética, todo mundo passou a tirar fotos no dia 1º de setembro com os pais, com o professor da turma, ou com a turma inteira. Às vezes, a turma não mudava da 1ª à 10ª série, e os alunos permaneciam juntos por uma década inteira.
O novo ano letivo significava uma vida totalmente nova para uma criança, por isso era um momento muito especial.
Terminada a correria do encontro com os amigos, as crianças faziam fila e ouviam o diretor da escola, que costumava fazer um discurso cerimonial, advertindo-os a estudar com atenção e a pensar no futuro.
A partir daí, era hora de todos entrarem na escola e ir para a sala de aula. Normalmente, a professora preparava placas com antecedência e as colocava nas carteiras escolares, para que os alunos se sentassem em locais já estipulados por ele. Depois disso, as crianças davam flores à professora.
O primeiro dia letivo geralmente buscava refrescar os conhecimentos esquecidos após as férias de verão e apresentar os alunos.
A queda da URSS não mudou muito as tradições escolares — apesar de muitas escolas desistirem de obrigar os alunos a usar uniformes e permitirem que eles usassem roupas casuais.
No entanto, a tradição de usar laços no cabelo se tornou um símbolo, tanto do dia 1º de setembro, quanto da cerimônia do "Último sino" (em 25 de maio) para a turma de formandos.
Outra tradição que se mantém até hoje é a dos alunos da turma de formandos levando os do primeiro ano para a escola, como um gesto simbólico da passagem do conhecimento para a próxima geração.
As escolas militares também seguem essas tradições.
Na Rússia moderna, o feriado do 1º de setembro é um verdadeiro fenômeno — capitalista, inclusive. Pouco antes da data, shoppings centers e supermercados ficam repletos de material escolar: mochilas, canetas, cadernos e muitos outros objetos!
Durante a pandemia de Covid-19, as aulas do ensino médio se realizaram principalmente no modo on-line, enquanto no ensino fundamental continuou a haver aulas presenciais. A cerimônio de 1° de setembro foi mantida — mas os pais não podiam mais participar.
Outra imagem forte nas cabeças dos russos é a de um evento trágico ocorrido em 1° de setembro de 2004. Nesse dia, um grupo de terroristas tomou uma escola em Beslan, na Ossétia do Norte, durante as cerimônias de início do ano escolar. O ataque deixou 314 mortos, a maioria, crianças.
Os reféns restantes foram finalmente libertados em 3 de setembro. Por isso, a data hoje é conhecida como "Dia da Memória" e, todos os anos, é realizada uma vigília em homenagem às vítimas nas ruínas da escola de Beslan.
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