Em 9 de maio de 1945, às 2h10, a rádio soviética anunciou aos cidadãos da URSS as tão esperadas boas novas: um ato de rendição incondicional da Alemanha tinha sido assinado no subúrbio de Berlim de Karlshorst.
O locutor da Rádio da Pan-União Iúri Levitan, que leu a famosa notícia, relembrou depois: “À noite anunciamos várias vezes que a rádio funcionaria naquele dia, excepcionalmente, até as quatro da manhã. Buscamos ler esta informação, que parecia simples, para que as pessoas entendessem que não deviam ir para a cama, que deviam esperar. E, imediatamente, começava um novo fluxo de chamadas telefônicas. Vozes familiares e desconhecidas, já felizes, gritavam ao telefone: ‘Obrigado! Entendemos a dica! Estamos montando a mesa de jantar! Parabéns!’”
Naquela noite, o enorme país não dormiu. As pessoas abriam as janelas, acordavam os vizinhos, música e gritos alegres de “Vitória! Vitória!" ressoavam. “Todos saíram para a rua, se abraçando, chorando, rindo. Uma espécie de euforia reinava!”, lembra o jornalista Iassen Zassúrski.
Se as pessoas vissem um soldado ou oficial, elas imediatamente o pegavam nos braços e começavam a balançá-lo. “Estranhos se beijavam. Não me lembro de uma unidade assim entre pessoas como em 9 de maio de 1945. Éramos todos um só: russos, tártaros, uzbeques e georgianos estávamos todos unidos como nunca antes”, diz o moscovita Guennádi Tsipin.
Liudmila Surkova, que morava na capital naquela época, relembrou: “A multidão corria pela rua como um rio. Todos rumavam para o centro. Caminhões com soldados também tentavam chegar lá. Os soldados se abaixavam, beijavam aqueles que alcançavam. Pacotes de cigarros Belomor eram arremessados, garrafas eram oferecidas... Tudo o que havia se acumulado por quatro anos — tormento, esperança, decepção, perda — explodiu em um só espírito, abraçou todos. Parecia impossível, mas todos se entendiam.”
“Janelas abertas, das quais provinham canções e luz. A rua Lêninskaia em holofotes, em cada trecho mais alto havia baterias antiaéreas. Parecia que eles estavam atirando de todos os lugares”, descrevei Viatcheslav Ignatenko aquele dia memorável na distante Vladivostok, no Extremo Oriente russo.
O ponto culminante da celebração foi o levantamento da bandeira da Vitória sobre a Baía do Chifre de Ouro por um balão. “Das colinas mais próximas, em direção ao céu, no Chifre de Ouro, raios deslumbrantes surgiam e a Bandeira da Vitória tremulava! Foi algo incrível: uma mensagem do céu. Lá em cima soprava o vento e a deslumbrante Bandeira vermelha aberta tremulava em direção à cidade.”
Muitos soldados do Exército Vermelho foram tomados pela mensagem da rendição da Alemanha durante combate. Em maio de 1945, o fuzileiro naval da Frota do Báltico Pável Klimov, estava no oeste da Letônia, onde um grande agrupamento inimigo ainda se mantinha.
“Os alemães foram os primeiros a nos informar que a guerra havia acabado. Íamos ao longo do litoral. Não entendíamos por que havia tanto barulho e alegria ao longo das trincheiras alemãs. Acontece que eles tinham descoberto que a guerra tinha acabado. Descobrimos com os fogos de artifício e disparos no ar que era o fim. Depois, só pelo rádio recebemos a ordem de cancelar a operação. Foi uma grande alegria”, lembrou Pavel Fedorovich.
À noite, uma enorme quantidade de fogos de artifício foi lançada na Praça Vermelha de Moscou: 30 salvas de artilharia de mil canhões, acompanhadas por luzes cruzadas de 160 holofotes e o lançamento de foguetes multicoloridos. O jornalista Iassen Zassúrski relembra: “Por algum motivo, me lembro de como as rajadas assustavam agrupamentos de corvos: quando os fogos de artifício começaram, os pássaros subiam de trás dos muros do Kremlin crocitando e voavam no ar, como se estivessem felizes junto com a gente. Isso tudo era incrível!”