Achou que os últimos Romanov eram carta fora do baralho? Então veja estas preciosidades

História
ANNA SORÔKINA
O baralho de “estilo russo” foi o mais difundido da época soviética. Mas poucos sabiam que as figuras retratadas nessas cartas eram os membros da família imperial russa em requintados trajes de baile.

O baile de máscaras que ocorreu no Palácio de Inverno, em 1903, foi um dos mais glamorosos e fora do comum e reuniu toda a elite política do país daquela época. Todos os convidados do evento tinham que se vestir com trajes históricos do século 17. E essas vestimentas eram maravilhosas, feitas com os tecidos mais caros e enfeitadas com joias de família.

Graças à imperatriz Alexandra Feodorovna, que desejou capturar este evento para a posteridade, mais de 100 fotogravuras do baile estão em arquivos hoje (algumas chegaram até mesmo a ser pintadas por artistas contemporâneos).

Em 1913, para marcar o 300º aniversário da dinastia Romanov, foi lançado em em São Petersburgo um baralho intitulado “Estilo Russo”. Nele, estavam retratados os convidados desse mesmo baile. Após a Revolução de 1917, a Fábricas Imperial de Cartas foi fechada, mas nos anos soviéticos a produção do baralho foi retomada, já que os jogos de cartas eram um passatempo popular.

Apresentamos a seguir os personagens desse baralho:

Valete de ouros: grão-duque Andrêi Vladímirovitch

Neto de Alexandre II, Andrêi Vladímirovitch (1879-1956) escolheu para o baile o traje cerimonial de falcoeiro: dos séculos 16 a 17 estes eram os chefes da caça a falcões no palácio imperial. Após a Revolução, junto com sua mãe Maria Pavlovna (uma das raras membras da família Romanov que conseguiu tirar suas joias do país) ele emigrou para a França, onde permaneceu até a morte. Oficialmente, ele é considerado o último Grão-Duque da dinastia Romanov.

Dama de copas: grã-duquesa Ksenia Aleksandrovna

Uma irmã do último imperador Nicolau 2°, Ksenia Aleksandrovna (1875-1960) foi vestida ao baile como boiarina russa. Seu leque e seu kokochnik foram feitos pela joalheria Fabergé, e o vestido era inspirado no traje da tsarina Maria para o espetáculo “Tsar Borís”, de 1890,.

Ela emigrou em 1919, junto com a mãe, a imperatriz viúva Maria Feodorovna, inicialmente para a Dinamarca e, depois, para a Grã-Bretanha (a rainha Alexandra da Dinamarca, mãe do rei Jorge 5°, era irmã de Maria Feodorovna).

Valete de paus: grão-duque Mikhail Alexandrovich

Após a Revolução, Nicolau 2° abdicou em favor de seu irmão mais novo, Mikhail (1878-1918), que, por um dia, foi considerado legalmente o último governante do Império Russo — até que também abdicou e foi logo preso pelo novo governo. Mikhail Alexandrovich passou seus últimos dias no exílio em Perm, onde acabou sendo morto por tchekistas (membros da Tcheká) locais. Em uma fotografia do baile de 1903, o grão-duque veste um traje de campanha de tsarevitch.

Dama de paus: grã-duquesa Isabel Feodorovna

Conhecida na família apenas como Ella (1864-1918), esta irmã da última imperatriz era casada com o governador-geral de Moscou, Serguêi Alexandrovitch Romanov. Nesta foto, ela está vestida com roupa de princesa: um vestido bordado de ouro e enfeitado com uma pele preta e um kokochnik com joias.

Dois anos depois desse baile, o marido dela foi morto após um revolucionário explodir uma bomba, e a grã-duquesa doou todas as suas joias e se tornou enfermeira em um convento que ela mesma fundou. Em 1918, junto com outros membros da família imperial, ela foi jogada, ainda viva, em uma mina na cidade de Alapaievsk, na região dos Urais. Na década de 1990, ela foi canonizada e uma estátua dela foi instalada na fachada da Abadia de Westminster, em Londres.

Rei de copas: imperador Nicolau 2°

Para o grande baile, Nicolau II (1868-1918) escolheu uma roupa de tsar Alexei Mikhailovitch (1629-1676), o segundo Romanov no trono russo. Curiosamente, os botões e listras de seu traje foram feitos no século 17, enquanto o cetro que o imperador segurava tinha pertencido ao próprio Alexei Mikhailovitch. Este cetro, enfeitado com diamantes, esmeraldas, pérolas e turmalinas, é mantido no Fundo de Diamantes do Kremlin. A vida do último imperador russo terminou no porão de uma casa em Ekaterimburgo, onde ele foi executado junto com toda sua família.

Dama de espadas: princesa Zinaída Iussupova

Além dos Romanov, as cartas também traziam membros de seu círculo mais próximo. Zinaída Nikolaievna (1861-1939) era uma membra da rica família Iussupov. Seu filho Felix, que se casou com Irina, filha de Ksenia Alexandrovna, foi um dos assassinos de Grigóri Raspútin. Durante sua fuga da Rússia, em 1919, a princesa conseguiu levar embora do país uma parte da fortuna da família, o que lhes permitiu manter a boa vida em Paris.

Rei de paus: conde Mikhail Grabbe

O tenente-general Mikhail Grabbe (1868-1942) foi ao baile como um membro da guarda real do século 17. Ele permaneceu leal ao tsar muito depois da Revolução: no exílio em Paris, foi membro ativo da União Imperial Russa, da União dos Defensores da Memória de Nicolau 2° e de sociedades semelhantes.

Rei de ouros: conselheiro de Estado Nikolai Gartung

Pouco se sabe sobre Nikolai Gartung, exceto pelo fato de que ele foi ao baile vestido de boiar e, assim, virou um protótipo de rei de ouros.

Dama de ouros: condessa Alexandra Tolstaia

Dama de companhia da mãe de Nicolau 2°, Maria Feodorovna, e da mulher dele, Alexandra Feodorovna, a condessa Tolstaia se vestiu de filha solteira de um boiar no baile. Há rumores, porém, de que a rainha de ouros do baralho é inspirada em várias personalidades da vida real — não só a condessa, mas também as princesas Vera Kudacheva e Sofia Durnovo, que foram ao baile com os mesmos trajes.

Valete de copas: assessor Nikolai Volkov e outros

Esta é mais uma carta inspirada em convidados diversos do baile — mais precisamente, três. Nikolai Volkov (1870-1954), vestido de boiar, serviu na época como ajudante do grão-duque Alexei Alexandrovitch (filho de Alexandre 2°). Durante a Primeira Guerra Mundial, ele se tornou adido naval na Grã-Bretanha. Durante a Revolução de 1917, ele estava no exterior e nunca mais voltou para a Rússia.

A segunda fonte de inspiração da carta era um segundo-tenente da guarda imperial do Regimento Preobrajenski, Nikolai Chter, que usava roupa de militar no baile.

E a terceira figura por trás do valete de copas era um alferes da cavalaria, Aleksei Tizel, que foi ao baile vestido de falcoeiro.

Valete de espadas: assessor Alexander Bezak

Alexander Bezak (1864-1942), vestido de boyar no baile, foi ajudante do grão-duque Nikolai Mikhailovich, tio de Nicolau II. Ele terminou o serviço militar antes da Primeira Guerra Mundial e, após a revolução, morou na França e viajou ao redor do mundo.

Rei de espadas: imagem de Ivan, o Terrível

Esta é a única carta que não representa um convidado do baile de 1903. A imagem do rei de espadas foi inspirada em uma pintura de Aleksandr Litovchenko chamada "Ivan, o Terrível, mostra tesouros ao embaixador inglês Horsey".

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