Vassili Záitsev, o lendário franco-atirador de Stalingrado

Záitsev (esquerda) durante a Batalha de Stalingrado, em 1942

Záitsev (esquerda) durante a Batalha de Stalingrado, em 1942

Ria Novosti
As façanhas de Záitsev serviram para elevar o moral das tropas em uma das batalhas mais importantes da Segunda Guerra Mundial. O Russia Beyond lembra desse destemido soldado no aniversário de seu nascimento.

“A cada sete segundos morre um soldado alemão na Rússia. Stalingrado é uma vala comum”, foi a mensagem que a Rádio Moscou repetiu aos membros do 6º Exército Alemão comandado pelo Marechal Von Paulus. Enquanto as temperaturas na Rússia caíam para 25 graus Celsius negativos e o Exército Vermelho os cercava, as tropas que 30 meses antes haviam marchado tranquilamente pela Champs Elysees, em Paris, estavam à beira do colapso.

O que parecia uma vitória fácil se transformou no pior pesadelo dos nazistas. Apenas um mês depois, em 3 de fevereiro de 1943, Von Paulus assinou a rendição.

Tropas russas em ataque

A batalha em si teve proporções épicas: mais de um milhão de baixas e 700 mil feridos. Somente 6.000 alemães sobreviveram ao cativeiro. A vitória soviética em Stalingrado foi uma virada na Segunda Guerra Mundial que marcou o renascimento do Exército Vermelho, dizimado após os expurgos stalinistas e desmoralizado por uma série de derrotas.

Soldados soviéticos em ataque

Um dos heróis mais lembrados da batalha de Stalingrado é Vassili Záitsev, o contador transformado em atirador de elite. Ele chegou à cidade em 22 de setembro de 1942 e uma semana depois já estava no túmulo.

De acordo com suas memórias, intituladas “Notas de um Sniper em Stalingrado”, ele foi jogado em uma vala comum enquanto dormia. Ao acordar, conseguiu sair e matar dois nazistas que estavam por perto com granadas que havia encontrado entre os cadáveres. Embora algumas partes dessas memórias devam ser lidas com cautela, não há dúvida do esforço sobre-humano feito pelos defensores da cidade contra invasores aparentemente invencíveis.

“O celeiro não está ocupado por homens, mas por demônios que nem a chama nem o fogo podem destruir ... Para onde quer que você olhe, há fogo e chamas. Canhões e metralhadoras russos disparam contra a cidade em chamas”, escreveu Wilhelm Hoffman em seu diário.

A verdade é que houve atiradores que mataram mais nazistas do que Zaitsev, que em meados de novembro já havia eliminado 224, mas nenhum capturou a imaginação do povo soviético da mesma maneira. A propaganda usava o fenômeno dos atiradores para elevar o moral das tropas e porque, em circunstâncias em que os tanques mal conseguiam passar pelas ruínas, um atirador experiente poderia ter grande impacto.

Vassili Záitsev

Astúcia e resistência

Para os soldados que se sentiam impotentes diante de uma força mais bem equipada e que avançava com sucesso, as façanhas de um homem carregando apenas um fuzil eram uma fonte de esperança.

As memórias de Záitsev são um testemunho impactante e sincero da dura realidade de combate, enfatizando a astúcia e a resistência dos homens que viviam à base de mingau e quantidades escassas de tabaco barato.

"Adoro observar o comportamento do inimigo", recordava Záitsev. “Você vê um oficial nazista sair do bunker e agir com arrogância, dando ordens a seus soldados a todo momento e com ar de autoridade. O oficial nem imagina que só tem alguns segundos de vida.” 

Após seu sucesso, Záitsev treinou outros franco-atiradores, que ficaram conhecidos como leverets (filhote de lebre), um trocadilho com seu sobrenome que se traduz como "lebre". Além da precisão, os atiradores precisavam ser pacientes e especialistas em camuflagem.

Uma das manobras favoritas de Záitsev era convencer um atirador inimigo de que ele havia conseguido acertar alguém. O soviético esperava que o outro fosse buscar seus cartuchos, tal como mandava a tradição alemã. Também construía dispositivos com polias para erguer bandeiras brancas, após a qual um soldado alemão se levantava e dizia "Rus, komm, komm".

Franco-atiradores nazistas em Voronej, junho de 1942

Houve outros atiradores que também fizeram fama em Stalingrado. Anatoli Tchekhov, de 20 anos, ficou famoso por sua audácia e capacidade de improvisar canhões de barro. O jovem a mostrou ao correspondente Vassili Grossman, que mais tarde escreveria “ Vida e destino”. 

As forças alemãs começaram então a usar civis russos, incluindo crianças, para se locomover entre as ruínas. Após grande esforço, a batalha acabou sendo uma vitória soviética.

Pouco mais de dois anos após o inverno gelado de 1942, o Exército Vermelho avançava rapidamente em direção a Berlim, graças, entre outras coisas, aos esforços de homens como Záitsev.

Em 2001, foi lançado o filme "Círculo de Fogo”, que conta a história de dois atiradores adversários, Vasili Záitsev (interpretado por Jude Law) do lado soviético e o major König do lado alemão, durante a Batalha de Stalingrado.

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