Alguns dos combates aéreos mais emocionantes da história ocorreram durante a Guerra da Coreia. Os pilotos soviéticos não tiveram uma vida tão fácil no combate aéreo – eles só podiam voar sob as marcas de identificação do Exército da República Popular da China ou das forças aéreas norte-coreanas. Além disso, no ar eles só podiam se comunicar em mandarim ou coreano, e russo era proibido. Como se não bastasse, os pilotos soviéticos foram proibidos de se aproximar, em hipótese alguma, do paralelo 38 (a fronteira entre as duas Coreias) ou da costa.
Estrada para Coreia
Nikolai Sutiaguin nasceu em 1923 em Smáguino, perto de Níjni Novgorod. Ao ingressar no Komsomol em 1939, teve acesso ao programa DOSAAF, onde começou a pilotar o biplano Po-2. Em março de 1941, Sutiaguin foi convocado para o Exército Vermelho, mas mais tarde acabou sendo destacado para a Força Aérea Soviética.
Com sua base no leste da URSS, Sutiaguin adquiriu alguma experiência de combate na guerra com o Japão, no final da Segunda Guerra Mundial. Mas sem abates.
Em 1950, sua divisão inteira foi equipada com o novo avião de combate MiG-15. Sutiaguin realizou 54 voos nesta aeronave antes de a unidade ser transferida para o 64º Corpo de Aviação de Caças em Mukden, na Manchúria. Com o agrupamento, foi enviado para os campos de aviação de Miaogao e Antung, na fronteira com a Coreia, para conter as forças da ONU no país vizinho.
“Estávamos vestidos como voluntários chineses e olhando um para o outro, ríamos melancolicamente”, escreveu Sutiaguin em seu diário. “Estávamos muito estranhos com aquelas túnicas de algodão azul, calças largas e amarrotadas, quepes com viseira de panqueca mastigada e sapatos, em vez das botas de sempre. (…). Nos nossos aviões havia placas de identificação da Força Aérea da República Popular.”
O melhor piloto no melhor caça
O MiG-15 foi um fator-chave para estabelecer a superioridade russa. A aeronave tinha um teto de ação mais alto do que os modelos ocidentais, como o F-86 Sabre. Os pilotos russos poderiam facilmente recuar subindo a mais de 15 mil quilômetros, com a certeza de que o inimigo não conseguiria acompanhá-los.
O caça soviético também tinha aceleração e velocidade superiores – 1.005 km/h, contra 972 km/h de seus oponentes, e a velocidade de subida de 2,8 km por minuto do MiG era maior do que os 2,19 km por minuto da maioria das versões do F-86.
Um fator decisivo nas batalhas aéreas travadas na Coreia foi a diferença de armamento. Os MiGs estavam armados com canhões capazes de atingir um alvo a 1.000 metros de distância, enquanto metralhadoras a bordo dos bombardeiros americanos B-29, por exemplo, tinham alcance de 400 metros.
Ascensão, literalmente
Quando deixou a Coreia em fevereiro de 1952, Sutiaguin tinha 22 aviões das Nações Unidas abatidos em seu placar. Foi o às absoluto da Guerra da Coreia, superando em 5 aviões derrubados ao melhor às dos Estados Unidos, capitão Joseph C. McConnell.
Quinze F-86 Sabre, três F-84 Thunderjet, dois P-80 Shooting Star e dois Gloster Meteor caíram sob o fogo das metralhadoras de Sutiaguin – durante um total de 149 missões de combate, em que participou de 66 embates aéreos.
Sua primeira vitória ocorreu em 19 de junho de 1951, contra um F-86 pilotado por Robert H. Laier. Seu último avião abatido, no comando do pequeno, porém letal MiG-15, em 11 de janeiro de 1952, também foi um F-86E, pilotado por Thiel M. Reeves.
E o que aconteceu depois?
Sutiaguin recebeu a Estrela de Ouro e o título de Herói da União Soviética, e logo foi promovido a major. Em 1970, como major-general da Aviação, ele partiu para outra viagem de combate como instrutor chefe de treinamento de voo da Força Aérea do Povo do Vietnã e deu grande ajuda na organização da luta contra a aviação americana.
Durante seu serviço na aviação, Sutiaguin dominou a pilotagem de mais de 20 tipos de aeronaves e helicópteros Mi-8 e Mi-24. Jamais foi abatido.
Depois de deixar a aviação, trabalhou em Kiev como chefe de gabinete do Instituto de Pesquisa de Defesa Civil de Engenharia Hidráulica e Recuperação de Terras.
Sutiaguin aposentou-se em maio de 1978, aos 55 anos, e passou os últimos anos de vida com sua família. Faleceu em novembro de 1986, aos 63 anos. Ele havia recebido o título de Herói da União Soviética em 1952, além da Ordem de Lenin, três Ordens da Bandeira Vermelha e a Ordem da Guerra Patriótica de primeira classe.
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