Elizar Langman e sua revolução fotográfica na URSS

Uma das figuras mais enigmáticas da história da fotografia soviética, ele formava o núcleo da sociedade 'Outubro' junto a Aleksandr Rodtcheko e Boris Ignatovitch.

Elizar Mikhailovitch Langman (1895-1940) continua sendo uma das figuras mais enigmáticas da história da fotografia soviética.  No início da década de 1930, a simples menção dos nomes de Elizar (que também é grafado como Eleazar), Aleksandr Rodtchenko e Boris Ignatovitch, que juntos formavam o núcleo da sociedade fotográfica “Outubro”, gerava debates acalorados.  Langman foi acusado de ter uma propensão ao formalismo e ao esquerdismo e de “inclinar” intencionalmente suas imagens.

Entre 1929 e 1930, Langman trabalhou como fotojornalista na “equipe de Ignatovitch”, que fotografava para o jornal “Moscou Vespertina”. Neste período, ele desenvolveu sua marca criativa, caracterizada pelo desejo de superar os clichês visuais da composição fotográfica.

“Elizar Langman é um dos fotógrafos da nova geração em busca de uma forma original e dinâmica de arte fotográfica, mas ele está entre seus representantes mais extremos”, lê-se em artigo escrito provavelmente por Lev Mejerikher, o catalogador da exposição “Mestres” e pertencia ao grupo de artistas “Outubro”.

Elizar afirmou ele próprio que seu objetivo era encontrar uma “forma nova e revolucionária” de retratar temas soviéticos. Os traços característicos de suas interpretações composicionais eram “racionalidade, forte acentuação de alguns elementos da imagem, ângulos e linearidade distintos e completa saturação do quadro fotográfico”.

As fotos de Langman se destacam por sua saturação interna e intencionalidade. Elas foram criadas intencionalmente e são lembradas por serem singularmente verossímeis e extremamente informativas. Aproveitando-se das pequenas dimensões de sua câmera Leica, ele concentrou informações, formas e espaço em cada enquadramento.

No início da década de 1930, os títulos das fotografias de Langman passaram a descrever vividamente a época.

Durante o movimentado período que se iniciou em outubro de 1930 e foi até 1931, quando uma exposição na “Casa da Impressão” causou um escândalo provocando a publicação de artigos com críticas mordazes na revista “Foto Proletária” sobre o evidente formalismo, títulos literários eram abundantes nas obras de Langman.

Por exemplo, “Velha e Nova Simonovka” (Monastério de Simonov na região de Moscou) e “Mulher Cronometrista em uma Fazenda Educacional-Experimental Estatal de Grãos”.

As inscrições literárias intencionalmente definiam o contexto político ou progressivo (no sentido técnico) no qual as fotografias foram feitas.

No entanto, a exatidão dos títulos nem sempre agradava. No auge da crítica ao grupo “Outubro”, a revista “Foto Proletária” escreveu: “resistiremos implacavelmente aos projetos modernos de processo criativo do ‘Outubro’, nos quais a forma suprime o conteúdo e a insipidez (essencialmente um conteúdo que é alheio a nossas sensibilidades de classe) é velada sob a alcunha de dinamismo”.

De todos os membros do “Outubro”, Langman foi o experimentador mais extremo, franco e arrojado. Em comparação, Rodtchenko é mais clássico, Ignatovitch mais narrativo e Vladimir Gruntal mais circunspecto com seus ângulos e inclinações. Nenhum dos citados acima possui um primeiro plano tão expressivo como o que é encontrado nas fotografias de Langman.

“Imagem” em nome da forma. “Uma vez que algo já foi feito, não há nenhum motivo para refazê-lo. Eu não vou fazê-lo melhor e não quero fazê-lo pior. Uma coisa estava clara para mim: a forma refinada que eu tinha atingido poderia ser usada como base para coisas genuínas e realistas.”

Langman explicou a origem de suas fotografias “inclinadas”, que, nas palavras dele, “deram o que falar”, isto é, o acusaram repetidamente de formalismo - palavras que significava uma tendência execrável na URSS.

Ele observou que o efeito de “inclinação” em seus quadros era um “protesto contra o cinzento clichê da fotografia”. Em meados dos anos 1930, quando esta “assimetria” tornou-se banal, Langman concentrou sua atenção em outro aspectos.

Ele tentou abandonar sua marca registrada, as diagonais e os ângulos, mas tentou manter a expressividade da composição de suas fotografias.

Em uma edição da revista “USSR em Construção” dedicada ao Cazaquistão e o álbum fotográfico "10 Anos de Uzbequistão" figuram as primeiras fotografias de destaque de Langman.

Seu ponto de vista – levemente de baixo para cima e em close-up extremo – oferece um claro estudo do rosto humano.

Quando cortados e editados para publicação por Rodtchenko e Stepanov, os pontos de vista de Langman enfatizavam o contraste entre um grande primeiro plano e um fundo minúsculo.

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