5 curiosidades sobre o envolvimento soviético na Guerra Civil Espanhola

História
BORIS EGOROV
O cruel conflito civil espanhol deu ao Exército soviético a oportunidade de testar sua prontidão para o combate no caso de eclodir alguma “grande guerra” no continente. Em solo espanhol, ele enfrentou um velho adversário: oficiais do Exército Branco russo buscando vingança após os terríveis eventos da guerra civil na terra natal.

1. Militares soviéticos tiveram papel decisivo na defesa de Madrid

As forças soviéticas foram úteis para ajudar o Exército Popular da República (Ejército Popular de la República) a manter a principal cidade do país durante todo o curso da guerra. Eles chegaram em grande quantidade quando a cidade estava por um fio entre outubro e novembro de 1936 e entraram na batalha.

Os franquistas haviam lançado uma ofensiva de grandes proporções contra a capital e não esperavam encontrar grande resistência. Em 23 de outubro, seus tanques alcançaram as vizinhanças de Madrid a sul e a cidade parecia praticamente estar fadada à conquista deles.

Mas eles ficaram surpresos, e de maneira desagradável, ao serem recebidos por um contra-ataque do Exército Popular da República, cheio de tanques T-26 que acabavam de ser recebidos da União Soviética. As unidades de tanques do capitão Paul “Greize” Arman e do brigadeiro Dmítri “Pablo” Pavlov tiveram um desempenho admirável.

Nos céus de Madrid, também dezenas de caças soviéticos I-15 lutaram contra pilotos alemães e italianos. Mais que isso, bombardeiros Tupolev ANT-40 realizavam ataques frequentes e unidades de sabotagem soviéticas começaram a operar a retaguarda das tropas de Franco.

A ofensiva nacionalista foi sufocada e conseguiu entrar em Madrid apenas no finalzinho da guerra, em 28 de março de 1939, quando os dias da República já estavam contados.

2. Forças armadas soviéticas executaram primeira batida de tanques do mundo

A primeiríssima batida de tanques do mundo foi colocado em ação por uma tripulação de tanques soviéticos. Em 29 de outubro de 1936, durante a Batalha de Seseña (a 30 quilômetros de Madrid), o Tenente de T-26 Semiôn Osadtchi bateu em um tanquete italiano CV-33, jogando-o em um buraco.

O próprio Osadtchi não teve muito tempo para celebrar seu feito. Em 3 de novembro, ambas suas pernas foram arrancadas por uma bomba e, dez dias depois, ele morreu no hospital devido a uma gangrena.

Não só a primeira, mas também a segunda batida de tanques da história foi realizada pela União Soviética - novamente na Espanha. Em março de 1938, um tanque leve BT-5 soviético era superado por um número de tanques T-1 alemães.

Com os instrumentos de visão e observação danificados, o veículo soviético não podia mais disparar efetivamente contra o inimigo. Foi quando o Comandante Aleksêi Razguliaev decidiu transformar o tanque em um carro de bate-bate.

O BT-5 bateu no T-1 mais próximo, fazendo-o capotar. Pasmos, os outros tanques alemães recuaram.

3. Guerra Civil Espanhola, uma nova versão da Guerra Civil Russa

A Guerra Civil Russa (1918-1922) dividiu o país em diversos grupos irreconciliáveis. Mas, a grosso modo, a maioria dos combatentes ficou ou do lado dos “vermelhos” (comunistas) ou do lado dos “brancos” (tsaristas e anticomunistas).

Depois de um terrível derramamento de sangue, a vitória vermelha levou milhares de brancos a fugir de sua terra natal para sempre. Mas nem todos os brancos aceitaram de bom grado seu destino.

Muitos imigrantes provenientes dos brancos viram na Guerra Civil Espanhola, tão cruel quanto a russa, uma oportunidade de se vingar da Rússia Soviética por seu sofrimento.

Vendo as potências mundiais entrando no conflito, eles perceberam que a Guerra Civil Espanhola era um aquecimento para um conflito ainda maior contra o bolchevismo, e acreditavam que era seu dever tomar parte nele.

Voluntários russos que se uniram à causa nacionalista receberam uma recepção calorosa. Franco precisava de uma equipe de comando, e os oficiais brancos, extremamente experientes, encaixavam-se perfeitamente em suas necessidades.

Dos 72 emigrantes russos que participaram da Guerra Civil Espanhola ao lado dos franquistas, 34 foram mortos. Na parada da vitória, em Valência, em 3 de maio de 1939, os voluntários russos marcharam em uma coluna separada erguendo a bandeira do Império Russo.

4. Antigos inimigos se uniram às tropas soviéticas na Espanha esperando voltar para a terra natal

Mas nem todos os emigrantes brancos estavam prontos a lutar contra a União Soviética. Alguns deles viram o banho de sangue espanhol não como uma oportunidade para se vingar dos comunistas, mas, ao contrário, como uma chance de fazer as pazes com seus antigos inimigos.

Dezenas de emigrantes russos, muitas vezes com seus filhos, entraram nas Brigadas Internacionais para ganhar o direito de voltar para casa. Um deles disse a um oficial soviético ter “respondido a um chamado do coração” e ido à Espanha “para lutar pela República e, pelo menos em partes, reparar seus pecados contra a Rússia”.

Os emigrantes russos ficaram muito surpresos com a decisão do general Andrêi Iesimontovski de se colocar ao lado dos republicanos. Ele tinah lutado ativamente contra os vermelhos durante a Guerra Civil Russa e, no exílio, era considerado um monarquista inveterado.

Mais de 300 russos lutaram nas Brigadas Internacionais da Guerra Civil Espanhola. Após a guerra, a maioria foi para campos na França. Mas não eram, de jeito algum, todos os que desejavam retornar à Rússia, agora bolchevique. Mas o consulado soviético emitiu permissões de saída para as poucas dezenas que desejavam fazê-lo.

  1. Rancor de Franco permitiu vitória soviética (no futebol, pelo menos)

O envolvimento da União Soviética na Guerra Civil Espanhola teve consequências negativas para as relações entre Moscou e Madrid por muitos anos que se seguiram. Oo ditador espanhol Francisco Franco nutria um ódio profundo por tudo o que era soviético – inclusive os esportes.

Na Copa das Nações Europeias de 1960 (precursora do Campeonato Europeu), a seleção soviética enfrentaria a Espanha nas quartas de final. O vencedor da disputa viajaria para a França nas semifinais.

Na época, a Espanha já era uma superpotência do futebol. O Real e o Barcelona não tinham rivais equiparáveis por todo o continente, e Alfredo Di Stéfano (que jogava pela Espanha, apesar de ser argentino) e Luis Suárez Miramontes eram considerados os melhores jogadores da Europa.

A seleção soviética, também levada em alta conta, babava com a perspectiva de enfrentar os espanhóis em uma arena menos violenta, mas Franco impediu a seleção espanhola de ir a Moscou para a primeira etapa do torneio.

Com o boicote espanhol e depois de vencer a Tchecoslováquia e, depois, a Iugoslávia na final, os jogadores soviéticos foram campeões da Europa. Em grande parte, graças a Franco.

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