Relembrando a Euro-2008: a Rússia é capaz de superar o feito de uma década atrás?

Andrei Archavin no jogo contra a Holanda, em junho de 2008

Andrei Archavin no jogo contra a Holanda, em junho de 2008

Getty Images
Há 10 anos, o país comemorava uma enorme vitória sobre a Holanda, mas, desde então, a seleção nacional é marcada por constantes derrotas. O que acontecerá na Copa do Mundo de 2018 ainda é um palpite, mas as expectativas não são grandes.

Moscou quase nunca dorme – e que o diga em 22 de junho de 2008, após as quartas-de-final da Eurocopa na Áustria e na Suíça, onde a Rússia derrotou a seleção da Holanda por 3 a 1. Comandados pelo técnico holandês Guus Hiddink, os russos esmagaram os holandeses, então favoritos no torneio. E como os russos celebraram...

“É inesquecível”, relembra Maksim, um moscovita que tinha 16 anos na época. “Nos segundos após o jogo acabar, eu e meus amigos corremos para as ruas, chegamos ao centro da cidade. (...) Estava cheio de gente – pessoas felizes pra caramba, muitas delas bêbadas, gritando e aplaudindo, buzinando sem parar. Estranhos se abraçavam e gritavam “Rússia! Rússia! Foi pura felicidade”, continua Maksim. 

Praça Vermelha, em Moscou, após o jogo contra a Holanda, em 2008

Assim como grande parte dos russos, o repórter esportivo Vassíli Utkin ficou eufórico e escreveu logo após a partida: “Agora, na Euro, ninguém joga futebol melhor que nós. Ninguém pode contestar isso”. Depois de três vitórias consecutivas – contra a Grécia (1 a 0), Suécia (2 a 0) e Holanda (3 a 1), com a seleção russa jogava com mais vigor e beleza a cada jogo. Mas, afinal, como a Rússia chegou lá?

Longo caminho

Desde a queda da URSS, a Rússia nunca foi favorita de nenhum torneio sério. O país sequer se classificou para a Copa do Mundo em 2006. Depois disso, a federação nacional de futebol contratou o primeiro técnico estrangeiro, Guus Hiddink, que já havia treinado as seleções da Holanda, da Coreia do Sul e da Austrália.

Durante as eliminatórias para a Euro-2008, a Rússia passou raspando, ao derrotar a Inglaterra, mas perder para Israel – foi somente a vitória da Croácia sobre a Inglaterra que levou a Rússia às fases finais da Euro. No Grupo D, a seleção começou com uma lavada da Espanha (4 a 1), mas demostrou coragem vencendo três equipes seguidas.

Roman Pavliutchenko marcando na partida contra a Inglaterra (2 a 1); esta vitória levou a Rússia à Euro-2008, deixando a equipe inglesa para trás

Na semifinal, porém, a equipe russa perdeu para a Espanha novamente, desta vez por 3 a 0, e teve de voltar para casa. No entanto, para um azarão como a Rússia, ganhar o bronze foi um grande sucesso – e até mesmo um filme sobre o torneio foi rodado com o título “O Bronze Dourado”. Voltemos à pergunta: como a Rússia conseguiu isso? 

Combinação perfeita

De acordo com Stanislav Minin, repórter esportivo da Match TV, “houve uma combinação de fatores que levaram ao sucesso – é impossível destacar apenas um”. Aqui estão os três principais.

1) Investimento maciço

Especialistas apontam que o fundo da Academia Nacional de Futebol da Rússia, estabelecido em 2004 e patrocinado pelo empresário Roman Abramovich, contribuiu para o progresso do futebol russo. Este fundo investiu cerca de US$ 150 a 200 milhões em desenvolvimento de infraestrutura, construindo 140 novos campos de futebol e contratando o técnico holandês Guus Hiddink para treinar a seleção.

Roman Abramovich, dono do clube britânico 'Chelsea', fez grande contribuição para o futebol russo

“A ‘academia’ de Abramovich construiu uma base para o futebol russo, algo com que pudesse se erguer”, disse Minin ao Russia Beyond. “Isso foi muito útil.”

2) Geração de jogadores excepcionais

Andrei Archavin, que marcou dois gols em três partidas e garantiu uma vaga na seleção russa da Euro-2008, ainda é considerado um dos maiores jogadores russos da história. Ele, Roman Pavliutchenko (três gols) e várias outras estrelas da Euro-2008 foram contratados por equipes da Premier League inglesa após o torneio.

Andrei Archavin

“Foi uma geração muito forte de futebolistas”, comentou Minin. “Além disso, eles estavam no auge em 2008, no melhor momento de suas carreiras. E não só a seleção nacional jogou muito – o Zenit de São Petersburg venceu a Copa da UEFA naquele ano, e muitos jogadores do clube também atuaram na equipe russa.”

3) As habilidades de Guus Hiddink

Após o jogo contra a Holanda, Hiddink se tornou herói nacional na Rússia. O então presidente russo Dmítri Medvedev brincou que poderia conceder cidadania ao técnico holandês, vários bebês foram nomeados em sua homenagem (Guus não é um nome nada típico na Rússia), e o treinador acabou sendo apelidado como “O Mágico”.

'O Mágico' Guus durante treino para o torneio

Todos concordam que Hiddink mudou o jogo russo. “Era o seu estilo”, explicou Minin. “Ele havia trabalhado com times médios antes – Coreia do Sul e Austrália – e foi bem-sucedido em todos, pois entendia os pontos fortes e fracos de cada jogador. Antes da Euro, ele e seus assistentes escolheram um sistema de preparação racional, fazendo com que a equipe atingisse seu máximo nos jogos mais importantes.”

Ladeira abaixo

Os torcedores achavam que o sucesso da Rússia na Euro-2008 anunciaria uma nova era, mas não foi o caso. A equipe de Hiddink não se classificou para a Copa de 2010, na África do Sul, perdendo para a Eslovênia na segunda rodada das eliminatórias.

Depois da derrota, “O Mágico” deixou a seleção da Rússia, e as coisas apenas pioraram. A equipe voltou a tentar diferentes técnicas, tanto estrangeiros renomados como nacionais – mas todas as tentativas foram infrutíferas.

Minin acredita que o futebol russo não aproveitou as oportunidades.

Vitória sobre Holanda em 2008 foi momento de euforia para a seleção russa, mas, desde então, situação permanece desfavorável para a equipe

“Convidar Hiddink, o primeiro técnico estrangeiro, foi um risco – depois, os oficiais começaram a agir com muita cautela, com medo de arriscar, contratando técnicos como o italiano Fabio Cappello, cujos melhores dias tinham acabado há muito tempo. Infelizmente, nossos jogadores também não atingiram outro nível – alguns, como Archavin, passaram algumas temporadas no exterior, mas mostraram que não conseguiam manter o alto padrão o tempo todo”, disse o repórter ao Russia Beyond.

Passados 10 anos, a Rússia enfrenta mais um Mundial, e as expectativas não são muito altas. O último jogo que a seleção russa venceu foi em outubro de 2017 – agora é esperar o resultado da partida inaugural nesta quinta (14), contra a Arábia Saudita.

Por que a seleção russa não vai para frente? Leia mais aqui.

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