Centenas de homens e mulheres excepcionais estavam entre os que fugiram da Rússia entre 1917 e 1923 (os anos da sangrenta Guerra Civil). Apesar de deixarem o país e de criticarem duramente os soviéticos, eles continuavam a glorificar a Rússia no exterior por meio de trabalho árduo e realizações impressionantes. O Russia Beyond compilou uma lista com quatro dessas figuras:
1. Ivan Búnin (1870–1953)
Búnin, um escritor aristocrático russo que adorava a velha Rússia com suas propriedades e fazendas, não suportou a revolução de outubro.
Ele a viu, como observou o crítico literário Ígor Sukhikh, como "a cacofonia do tumulto" e odiava a coragem dos bolcheviques. Em 1920, ele deixou Odessa (hoje, território da Ucrânia) com a mulher e partiu para Istambul e depois para Paris.
"De repente entendi: estou no Mar Negro, em algum navio estrangeiro... A Rússia acabou, e assim o fez minha vida antiga", escreveu em suas memórias.
A família Búnin se estabeleceu na França, o autor continuou a escrever e permanecia a principal estrela da literatura emigrante (pelo menos antes de Vladímir Nabôkov ganhar popularidade), mas a família mal conseguia sobreviver.
Em 1933, Búnin ganhou o Prêmio Nobel de literatura. Então, perguntaram sobre sua cidadania, e ele respondeu: "exiliado russo".
Ele morreu em Paris, em 1953.
2. Serguêi Rachmaninoff (1873–1943)
Em 1917, Rachmaninoff já era compositor e pianista de fama mundial. Cético quanto às ideias comunistas, ele usou a primeira oportunidade que teve para fugir para a Europa através da Suécia e da Dinamarca, em 1918.
Ali, realizando concertos frequentes, dentro de um ano ganhou dinheiro suficiente para se mudar para os EUA, onde se dedicou a turnês como pianista e logo se tornou uma estrela.
Ele realizou, por exemplo 92 concertos no renomado Carnegie Hall, em Nova York, entre 1918 e 1943. Porém, escreveu apenas seis obras musicais durante esse período. Como compositor, foi-lhe difícil ficar longe de casa.
"Quando perdi minha pátria, também me perdi... Não tenho vontade de criar sem tradições e solo russo sob meus pés", dizia.
Durante a Segunda Guerra Mundial, ele se preocupou muito com a Rússia e chegou até a enviar dinheiro que recebeu por diversos concertos para o fundo do Exército Vermelho.
Infelizmente, porém, Rachmaninoff não viveu o suficiente para ver a vitória da Rússia. Morreu em 1943, em Beverley Hills.
3. Nikolai Berdiaev (1874–1948)
Filósofo que criou a concepção de "existencialismo religioso russo" e promoveu ideias libertárias em suas obras, Berdiaev não queria deixar a URSS. Mas sua crítica aos bolcheviques, que ele considerava muito racionais e rigorosos, não lhe deixarou escolha.
"[Após a prisão em 1922] as autoridades disseram que havia sido expulso iriam me executar se eu tentasse voltar", relembrou em suas memórias.
Junto a outros opositores do bolchevismo, Berdiaev foi forçado a abandonar a Rússia no chamado "navio filosófico".
Ele viveu na Alemanha e na França, nunca parou de escrever e se tornou bastante famoso no Ocidente, principalmente por seu livro "A Nova Idade Média". Ele próprio, porém, permaneceu sombrio e tinha saudades de seu país.
"Sou muito conhecido na Europa e na América, meus trabalhos são traduzidos para muitos idiomas. O único país que não conhece quase nada sobre mim é a minha Rússia", escreveu com tristeza.
4. Ígor Sikorski (1889–1972)
Antes da revolução, a posição de Sikorski na Rússia era mais que de alto nível: ele estava, literalmente, acima das nuvens. Projetista e aviador de aeronaves talentoso, ele criou o primeiro avião pesado do mundo com quatro motores e foi premiado com diversas ordens condecoradas pelo próprio tsar.
Como chefe de sua própria empresa, Sikorski produziu aviões para o exército russo durante a Primeira Guerra Mundial, mas perdeu tudo em 1917.
Leal a Nikolai II, ele fugiu da Rússia através da fronteira do norte, mudou-se para a França e depois para os EUA, onde começou tudo novamente.
A empresa Sikorsky Aircraft Corporation foi extremamente bem-sucedida nas décadas de 1940 e 1950, principalmente por seus helicópteros tecnologicamente sofisticados. Em 2015, a Sikorsky Aircraft foi adquirida pela empresa aeroespacial norte-americana Lockheed Martin.
O próprio Sikorsky foi fiel seguidor da Igreja Ortodoxa e patriota russo durante toda a vida, apesar de todo o sucesso que alcançou nos Estados Unidos.
"Deveríamos trabalhar e aprender todas as coisas que nos ajudarão a reconstruir nossa pátria quando ela exigir isso de nós", ele costumava dizer.
Leia mais sobre o “navio filosófico” em “Por que Lênin expulsou dezenas de intelectuais da URSS?”.
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