Retrato de Petrov em 1999
Legion MediaO militar soviético Stanislav Petrov, que ficou conhecido por evitar uma guerra nuclear, faleceu em maio de 2017, segundo informou o jornal alemão “WAZ”.
O ocorrido recebeu cobertura internacional apenas agora por acaso – Carl Schumacher, um amigo alemão de Petrov, ficou sabendo que Petrov havia morrido aos 77 anos ao tentar ligar para desejar-lhe feliz aniversário, em 9 de setembro.
“Eu não sou um herói”, dizia o tenente-coronel soviético com uma certa irritação na maioria de suas entrevistas. Em 2014, foi lançado um documentário sobre ele: “O homem que salvou o mundo”. “Eu estava no lugar certo na hora certa”, argumentava.
Segundo o militar, os estrangeiros exageravam em seu heroísmo e, por isso, se cansou da atenção do público. Mas foi difícil para a mídia não rotular Petrov como um herói.
Em 26 de setembro de 1983, o destino do mundo esteve em suas mãos – ele foi o oficial responsável pela decisão de iniciar uma guerra nuclear ou não.
15 minutos
“O alarme soou no posto de controle e comando, com luzes vermelhas piscando no terminal”, lembrava Petrov em suas entrevistas. Ele estava na base militar fechada Serpukhov-15, onde ficava o centro de comando do sistema de alerta precoce Oko.
Era o turno de Petrov quando o sistema informou os oficiais sobre o lançamento de um míssil dos Estados Unidos, seguido por outros cinco. Se Washington realmente tivesse pressionado o botão, isso significaria o início de uma guerra nuclear.
Jovem Stanislav Petrov
Legion MediaNa época, as relações entre as duas potências nucleares estavam muito abaladas. Apenas três semanas antes, a URSS havia derrubado acidentalmente um Boeing coreano sobre a ilha de Sacalina, matando 62 americanos. O presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, chegou a defender a ideia de se levantar contra o ‘império do mal’. Com ambos os lados trocando ameaças, a guerra parecia possível.
Petrov tinha que se decidir: os Estados Unidos haviam lançado foguetes? Seu computador disse isso – e todos os 30 coeficientes do sistema confirmavam que o ataque havia sido feito. Ele tinha apenas 15 minutos para reagir.
Se acreditasse no computador, teria dito às autoridades soviéticas que lançassem um ataque de retaliação em grande escala, eliminando praticamente metade da população dos EUA e iniciando uma possível Terceira Guerra Mundial.
Se o ataque fosse verídico e Petrov não reagisse, centenas de milhares de seus compatriotas teriam morrido em vão. O relógio estava marcando.
Erro e paz
Petrov tomou uma decisão. Quando a linha do governo tocou, Petrov pegou o telefone e disse: “Nosso sistema está dando informações falsas”. Por mais que não tivesse certeza na hora, ele estava certo: o sistema não estava funcionando bem devido a um raro alinhamento da luz solar sobre nuvens em alta altitude.
Os EUA não tinham lançado nenhum míssil.
Questionado sobre como tomou a decisão, Petrov respondia calmamente que não podia acreditar que Washington atacaria a URSS com apenas cinco mísseis.
Além disso, Petrov – que estudou minuciosamente o sistema de informática da URSS – revelou-se cético em relação aos computadores. “Eu me permito desconfiar do sistema porque sou um homem, não um computador”, disse, certa vez, ao Gazeta.ru.
Fama tardia
O oficial não foi maciçamente recompensado nem punido seriamente após o incidente. Como o próprio relatou, o comando não queria elogiá-lo oficialmente, pois isso evidenciava falhas graves no sistema de alerta nuclear.
Embora satisfeitos, seus superiores economizaram nos elogios e o repreenderam por “não preencher o diário corretamente” durante o incidente.
O falso alarme foi mantido como segredo de Estado até o início dos anos 1990, quando o general Iúri Votintsev, ex-comandante das unidades de defesa antiaérea soviética, publicou suas memórias mencionando o papel de Petrov na ocasião.
Petrov em sua casa em Friazino
APPetrov – que havia se aposentado do Exército – se viu nos holofotes, sobretudo no Ocidente. Ele não estava muito satisfeito com isso, porém. De seu pequeno apartamento em Friazino, na região de Moscou, ele se comunicava com jornalistas com relutância e sempre enfatizava que “não era um herói”.
“Foi apenas trabalho”, costumava dizer, mesmo depois de ter sido premiado com o Prêmio Dresden em 2013 e tema de um documentário.
Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: