Os feitiços de Catarina 1ª, a primeira mulher no trono russo

História
ALEKSÊI TIMOFEITCHEV
Catarina 1ª foi uma imperatriz incomum. Era estrangeira e não sabia escrever em russo. Era de origem comum e foi parar no trono como um troféu de guerra. Ainda assim, Pedro, o Grande, permaneceu com ela por mais de duas décadas e deixou como herança um grande império. Na época, porém, algumas pessoas suspeitavam que a ascensão ao trono teria resultado de experimentos com magia negra.

A esposa do reformista Pedro, o Grande era tão peculiar quanto o reinado do marido – ele vivia no ritmo frenético da modernização, visando desarraigar o estilo de vida tradicional da Rússia e substituí-lo por hábitos europeus.

Não se sabe ao certo onde nasceu a primeira imperatriz russa Catarina 1ª.

Alguns especialistas afirmam que era sueca, mas a maioria dos pesquisadores acredita que a imperatriz tenha nascido no território de um dos atuais países bálticos – Estônia ou, mais provavelmente, Letônia. Ficou órfã durante a peste e foi criada por um pastor local. Era então conhecida como Marta Skavronskaia e trabalhava como lavadeira.

Caminho ao trono

Quando tinha 17 anos, a futura imperatriz casou-se com um cavaleiro sueco (que poderia ter sido um trompetista militar). Por volta dessa época, em 1702, a vida de Marta foi drasticamente afetada pela Grande Guerra do Norte, travada entre a Rússia e a Suécia, já que o lugar onde morava fora tomado pelas tropas russas.

A jovem tornou-se prisioneira e mudou de mãos várias vezes, dos patamares mais baixos até o marechal de campo Boris Sheremetiev. Na casa deste, conheceu o homem de confiança do tsar, Aleksandr Menchikov, que se interessou pela jovem. Marta mudou-se como criada para o lugar favorito do tsar Pedro, o Grande – que também se encantou com a mulher.

Marta manteve amizade com Menchikov durante a vida toda. A proximidade entre eles se devia ao fato de terem origens semelhantes – ambos plebeus.

Metida com magia?

A relação de Marta com Pedro durou até a morte dele, em 1725 – quando assumiu o trono, tornando-se a primeira mulher na história a governar a Rússia.

O tsar havia coroado Marta como cogovernante do Império Russo no ano anterior. A essa altura, ela já havia sido batizada como cristã ortodoxa e tinha tido o nome trocado para Catarina.

Há opiniões contraditórias sobre a aparência de Catarina.

De acordo com um de seus contemporâneos, “ela se destacava por sua beleza e estatura”. Paralelemente, o historiador Evguêni Anisimov alega que a imperatriz “não tinha a beleza angelical de sua filha Isabel 1ª e a refinada graça de Catarina 2ª. Ela tinha ossos largos, era gordinha e queimada de sol como uma camponesa”.

A polêmica sobre seu visual e a forma como havia atingido o nível mais alto da sociedade russa fez com que algumas pessoas pensassem que a imperatriz tinha algum envolvimento com magia. O cabo de um dos regimentos do Exército russo Vassíli Kobilin chegou a afirmar com seriedade que Catarina usara algum tipo de feitiçaria para “amarrar” o tsar. Segundo o cabo, a magia teria participação de Menchikov – o que também explicava sua longa presença perto do trono. 

“Katerinuchka” é amor

Ao ler as cartas que Pedro e Catarina trocavam, é evidente que a relação era forte e sincera. “Katerinuchka [pequena Catarina], minha amiga”, inicia ele.

Ela era uma das poucas pessoas que não temia os famosos ataques de raiva de Pedro, conhecido por seu temperamento severo. O tsar decapitou pessoalmente vários soldados que participaram de um motim e participou da tortura do próprio filho Aleksêi, condenado por traição. Dizem que Catarina o “acalmava”.

Pedro até perdoou a infidelidade da mulher divulgada pouco antes de sua morte. O amante, no entanto, perdeu a cabeça como resultado da ira do imperador.

Após a morte de Pedro, Catarina 1ª tornou-se imperatriz com a ajuda da guarda de elite e de Menchikov. Foi ele quem atuou como governante de facto durante seu breve reinado de dois anos, que terminou com a morte da imperatriz em 1727.