Homem em buraco no gelo durante Epifania na Rússia.
Valentina Pevtsova/TASS"O batismo de Cristo", de cerca do ano 1515. Joachim Patinir.
Museu de História da Arte em VienaA Epifania é uma festa cristã estabelecida em homenagem à história do Evangelho sobre o batismo de Jesus Cristo no rio Jordão por São João Batista. O feriado é comemorado na Igreja Ortodoxa no dia 6 de janeiro (19 de janeiro na Rússia, de acordo com o atual calendário gregoriano).
A “Enciclopédia Ortodoxa” cita duas hipóteses para a escolha da data.
De acordo com a primeira, as festas do Natal e da Epifania costumavam ser o mesmo feriado, que substituiu a antiga celebração pagã do solstício: 25 de dezembro no antigo calendário e 6 de janeiro no calendário juliano (e 19 de janeiro, conforme o gregoriano). Pela segunda hipótese, a data de 6 de janeiro foi estabelecida por meio de complexos cálculos cronológicos e está ligada às datas da morte de Cristo e da Páscoa judaica.
Mas é especificamente na Igreja Ortodoxa Russa que a Epifania é celebrada separadamente — na Igreja Católica, este feriado comemora a visita dos Reis Magos, e não o batismo de Jesus no rio Jordão.
Padre batiza água.
Aleksandr Kriajev/SputnikSegundo o Evangelho, quando Jesus se aproximou de João, que estava batizando pessoas no rio Jordão, o último se surpreendeu e disse: “Eu é que preciso ser batizado por você, e você vem até mim?” A isto Jesus respondeu que “nós precisamos cumprir toda a justiça”, e foi então batizado por João.
Durante o batismo, de acordo com o Evangelho, o Espírito Santo desceu dos céus sobre Jesus em forma de pomba e uma voz disse dos céus: “Tu és meu filho amado; em ti está minha benevolência!”
Dessa forma, Jesus deixou um exemplo para todos os seus seguidores. Como escreve o teólogo Aleksandr Moiseienkov, “tal rito é realizado para enfatizar a conexão entre ele e aqueles que acreditam nele”. Dessa forma, quem é submetido ao ritual do batismo está conectado com Deus através dele.
Homem em buraco no gelo em São Petersburgo.
Aleksandr Demiantchuk/TASSO batismo no Cristianismo não é apenas uma festa, mas um sacramento à parte relacionado com a nomeação da pessoa batizada em nome de Cristo. Durante o sacramento, o padre usa água benta – ele mergulha a pessoa a ser batizada nela três vezes (geralmente, se for um bebê) ou borrifa água benta nela (se for um adulto).
A água benta é água santificada com uma oração especial e um rito de consagração. Esta tradição, no Cristianismo, é conhecida desde os séculos 2 ou 3. João Crisóstomo disse, em seu sermão do ano de 387: “À meia-noite desta festa, todos, tendo recolhido água, trazem-na para casa e guardam-na durante um ano inteiro… A qualidade desta água não se deteriora com o passar do tempo; pelo contrário, a água recolhida hoje permanece intacta e fresca durante um ano inteiro e, muitas vezes, durante dois ou três."
A consagração da água no Cristianismo Ortodoxo pode ser grande (na Epifania) ou pequena (em diferentes dias do ano nos templos, durante as orações de santificação da água). Na Epifania, a água é santificada com uma procissão solene até os reservatórios de água, conhecida como “caminhada ao Jordão”. A água é consagrada por dois dias – na véspera da Epifania, em 18 de janeiro, e na própria Epifania. A água consagrada segundo o rito da “grande” consagração só pode ser bebida com o estômago vazio, após uma oração especial.
"O caminho batismal" na aldeia Orlino, próximo a São Petersburgo.
Aleksêi Dánitchev/SputnikOs teólogos cristãos ortodoxos são unânimes: o banho batismal não é uma tradição cristã. Ele não “lava os pecados”, como acredita o povo. Ainda em 1892, o escritor espiritual russo Serguêi Bulgakov observou: "Aqueles que se banham neste dia atribuem supersticiosamente um poder purificador ao banho."
Aliás, em São Petersburgo, durante uma bênção da água perto do Palácio de Inverno que contou com a presença da família do tsar, as pessoas ingeriam água benta diretamente do rio Neva, mas ninguém entrava nele.
Os historiadores hoje acreditam que esses banhos são provavelmente um legado de um antigo feriado pagão da água que é ligado ao solstício de inverno.
No interior da Rússia, a festa da Epifania estava ligada a muitas tradições fortes, provavelmente pré-cristãs. O nome popular desse feriado é “Vodokreschi” (uma mistura de “água” e “cruz”) e a água benta tem papel central nele. A água era borrifada em casa, nas pessoas, no quintal, no gado, nas colmeias, nas hortas, despejada no poço, adicionada à forragem do gado ou em barricas de vinho.
Para os camponeses, o banho no buraco batismal era obrigatório; o próprio buraco e tudo ao seu redor eram considerados “sagrados” - por exemplo, por 12 dias após a santificação da água no buraco, era proibido lavar roupas lá. Mergulhar no buraco no gelo “curava” as pessoas e “lavava” as saudáveis de seus pecados. A água também estava associada aos feitiços contra o fogo, que costumavam ser lidos na Epifania: “Os santos me seguiram carregando uma concha de água. Se houver fogo, os santos o apagarão”.
Na Epifania, eram realizados rituais de purificação nas casas, “expulsando demônios” com o barulho dos pratos, estalos de chicotes e apenas gritos altos. Ao mesmo tempo, a Festa da Epifania “abria” as semanas de casamento, que duravam até a semana de Máslenitsa.
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