O visual dos orelhões soviéticos e pré-revolucionários (FOTOS)

Estilo de vida
EKATERINA SINELSCHIKOVA
Os telefones públicos reuniam cidades grandes e aldeias russas e não só tinham um estilo bem peculiar, mas também incorporavam um fenômeno social e cultural.

Os primeiros orelhões russos surgiram ainda durante o império. O engenheiro e inventor Alexander Popov (um dos inventores do rádio, que efetuou uma transmissão entre dois edifícios do campus universitário em 1896 e em 1898 transmitiu sinais entre terra e um barco que se encontrava a 5 quilômetros da costa) passou muito tempo fazendo lobby por sua introdução, mas a Duma municipal de Moscou refutou duas vezes as ofertas de Popov. Foi somente em 1909 que 26 telefones públicos da empresa americana Bell surgiram na capital.

Para isolar o som e também tornar mais confortável a situação, foram instaladas cabines telefônicas especiais, e a evolução delas andou lado a lado com a dos telefones públicos em si. No início, os orelhões eram cabines maciças de madeira, que depois foram cada vez mais adaptados ao ambiente urbano e passaram a ser feitos de vidro e metal.

Em 1916, lia-se nas instruções de uso: "Para ligar para a central telefônica basta tirar o fone do gancho. A operadora responderá na central, informando seu número. Depois disso, o usuário deve informar claramente o número para o qual quer ligar.”

A Revolução de 1917 causou enormes danos à rede telefônica. O que restou foi nacionalizado. Um ano depois, Vladímir Lênin assinou uma resolução ordenando que uma "quantidade suficiente" de telefones públicos fossem instalados em Moscou urgentemente. Mas o plano fracassou: em 1921 havia apenas 10 orelhões na cidade.

No início da década de 1930, quando toda a rede telefônica estava sendo modernizada, os telefones públicos se tornaram totalmente automáticos. Os bolcheviques entenderam que o telefone público era sinal de uma sociedade industrial e progressista. Mas, mesmo naquela época, havia uma grave escassez deles: era típico naquele tempo haver um telefone público por bairro.

Mas a introdução de orelhões ganhava força. No ano de 1938 surgiu o telefone público soviético "V", que também podia receber chamadas — já que cada telefone tinha seu próprio número.

Na década de 1960, havia 6.000 telefones públicos somente em Moscou e, naquela época, não havia restrições quanto à duração das chamadas. Com dois copeques (por muito tempo, esse foi o preço da ligação) as pessoas podiam falar o tempo que quisessem. Havia uma intensa atividade em torno das cabines telefônicas: formavam-se filas para usá-las, as pessoas faziam amizades ao lado delas e ali se abrigavam da chuva ou para tomarem uma bebida com os amigos etc.

O regulamento mudou na década de 1980, quando as chamadas passaram a ser limitadas a um determinado número de minutos. Quando o tempo acabava, era preciso inserir outra moeda.

Mas nem todo mundo concordava com a nova política de preços e havia uma infinidade de maneiras de "enganar" o mecanismo dos orelhões: por exemplo, havia quem pendurasse as moedas por um fio e as puxasse de volta e também quem batesse no aparelho até que ele devolvesse as moedas.

Moscou alcançou seu maior número de telefones públicos em 1991: quase 34.000. Este foi o recorde da cidade. Depois disso, os números caíram sem parar.

Na segunda metade da década de 1990, quando os telefones públicos passaram a aceitar cartões (que limitavam a duração das chamadas), um tipo específico de golpe floresceu. Os bandidos adulteravam o equipamento para fazê-los engolirem os cartões e, depois, pegavam os cartões presos e vendiam.

Com o desenvolvimento da comunicação móvel e da internet, as pessoas começaram a esquecer os telefones públicos, que se tornaram uma espécie de monumento a uma época passada. Mas, para surpresa de muitos, eles continuaram funcionando — apesar da baixa demanda. Em 2019, os orelhões chegaram até a se tornar gratuitos!

A provedora de serviços de comunicação Rostelecom observou que a demanda por telefones públicos aumentou novamente durante a pandemia de coronavírus. "O fenômeno parece estar ligado ao impacto das restrições e ao aumento da preocupação das pessoas com a saúde de parentes e amigos", anunciou em comunicado a assessoria de imprensa da companhia.