O visual dos orelhões soviéticos e pré-revolucionários (FOTOS)

Russia Beyond (Igor Zôtin, Guennádi Khamelianin / TASS; B. Kossarev/Sputnik)
Os telefones públicos reuniam cidades grandes e aldeias russas e não só tinham um estilo bem peculiar, mas também incorporavam um fenômeno social e cultural.

Os primeiros orelhões russos surgiram ainda durante o império. O engenheiro e inventor Alexander Popov (um dos inventores do rádio, que efetuou uma transmissão entre dois edifícios do campus universitário em 1896 e em 1898 transmitiu sinais entre terra e um barco que se encontrava a 5 quilômetros da costa) passou muito tempo fazendo lobby por sua introdução, mas a Duma municipal de Moscou refutou duas vezes as ofertas de Popov. Foi somente em 1909 que 26 telefones públicos da empresa americana Bell surgiram na capital.

Cabine telefônica, 1929.

Para isolar o som e também tornar mais confortável a situação, foram instaladas cabines telefônicas especiais, e a evolução delas andou lado a lado com a dos telefones públicos em si. No início, os orelhões eram cabines maciças de madeira, que depois foram cada vez mais adaptados ao ambiente urbano e passaram a ser feitos de vidro e metal.

Em 1916, lia-se nas instruções de uso: "Para ligar para a central telefônica basta tirar o fone do gancho. A operadora responderá na central, informando seu número. Depois disso, o usuário deve informar claramente o número para o qual quer ligar.”

Estação telefônica em Petrogrado, 1917.

A Revolução de 1917 causou enormes danos à rede telefônica. O que restou foi nacionalizado. Um ano depois, Vladímir Lênin assinou uma resolução ordenando que uma "quantidade suficiente" de telefones públicos fossem instalados em Moscou urgentemente. Mas o plano fracassou: em 1921 havia apenas 10 orelhões na cidade.

No início da década de 1930, quando toda a rede telefônica estava sendo modernizada, os telefones públicos se tornaram totalmente automáticos. Os bolcheviques entenderam que o telefone público era sinal de uma sociedade industrial e progressista. Mas, mesmo naquela época, havia uma grave escassez deles: era típico naquele tempo haver um telefone público por bairro.

Mas a introdução de orelhões ganhava força. No ano de 1938 surgiu o telefone público soviético "V", que também podia receber chamadas — já que cada telefone tinha seu próprio número.

Na década de 1960, havia 6.000 telefones públicos somente em Moscou e, naquela época, não havia restrições quanto à duração das chamadas. Com dois copeques (por muito tempo, esse foi o preço da ligação) as pessoas podiam falar o tempo que quisessem. Havia uma intensa atividade em torno das cabines telefônicas: formavam-se filas para usá-las, as pessoas faziam amizades ao lado delas e ali se abrigavam da chuva ou para tomarem uma bebida com os amigos etc.

O regulamento mudou na década de 1980, quando as chamadas passaram a ser limitadas a um determinado número de minutos. Quando o tempo acabava, era preciso inserir outra moeda.

Mas nem todo mundo concordava com a nova política de preços e havia uma infinidade de maneiras de "enganar" o mecanismo dos orelhões: por exemplo, havia quem pendurasse as moedas por um fio e as puxasse de volta e também quem batesse no aparelho até que ele devolvesse as moedas.

Orelhões em Moscou, 1960.

Moscou alcançou seu maior número de telefones públicos em 1991: quase 34.000. Este foi o recorde da cidade. Depois disso, os números caíram sem parar.

Na segunda metade da década de 1990, quando os telefones públicos passaram a aceitar cartões (que limitavam a duração das chamadas), um tipo específico de golpe floresceu. Os bandidos adulteravam o equipamento para fazê-los engolirem os cartões e, depois, pegavam os cartões presos e vendiam.

Com o desenvolvimento da comunicação móvel e da internet, as pessoas começaram a esquecer os telefones públicos, que se tornaram uma espécie de monumento a uma época passada. Mas, para surpresa de muitos, eles continuaram funcionando — apesar da baixa demanda. Em 2019, os orelhões chegaram até a se tornar gratuitos!

A provedora de serviços de comunicação Rostelecom observou que a demanda por telefones públicos aumentou novamente durante a pandemia de coronavírus. "O fenômeno parece estar ligado ao impacto das restrições e ao aumento da preocupação das pessoas com a saúde de parentes e amigos", anunciou em comunicado a assessoria de imprensa da companhia.

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