Daniil Gleikhengauz é um jovem de 30 anos, educado e vestido de maneira impecável, que cria quase quarenta apresentações de patinação no gelo por ano e dá entrevistas equilibradas à imprensa. Mas, mesmo com seu terno e relógio de ouro, ele parece jovem demais em comparação a outros treinadores russos. Gleikhengauz se juntou, nos idos de 2014, à equipe de patinação no gelo da treinadora Eteri Tutberidze, entrando para o lendário Rinque Khrustalni ainda muito mais jovem.
Mas, apesar dos campeões que ajudou a preparar, Gleikhengauz ainda recebe algumas críticas exacerbadas na internet. Acontece que, Na patinação artística, a coreografia tem particularidades que podem ser bastante limitadoras. A dança nesse esporte visa não apenas a um impacto visual, mas também à comodidade da performance para o patinador artístico e, assim, as ideias dos coreógrafos são incorporadas apenas na medida em que o componente técnico da apresentação permite.
Isso, por si só, engessa demasiado o coreógrafo. Além disso, no Rinque Khrustalni, em Moscou, Eteri Tutberidze é conhecida por ter a palavra final como treinadora. As apresentações dos alunos de Tutberidze são, muitas vezes, um produto da criatividade conjunta de Eteri com sua equipe coreógrafa. Mesmo assim, a maioria das ideias sai da mente genial de Daniil Gleikhengauz.
O início de tudo
Quando Daniil Gleikhengauz ingressou no Rique Khrustalni, a treinadora Eteri Tutberidze já era uma campeã olímpica na época: Iúlia Lipnitskaia tinha acabado de ganhar o ouro na competição por equipes das Olimpíadas de Inverno de Sôtchi.
Gleikhengauz era um ex-patinador artístico, que tinha brilhado nas competições infantis, mas tinha sido forçado a mudar para a dança no gelo por causa de uma lesão. Como seu pai tinha morrido, o jovem precisava pensar em modos mais práticos de ganhar a vida.
Daniil e Anna Scherbakova.
Joosep Martinson/International Skating Union/Getty Images“Quando decidi tentar ingressar na equipe de Tutberidze, a maioria dos meus conhecidos ficou incrédula, dizendo que ninguém parava muito tempo por lá”, conta Daniil.
No entanto, Gleikhengauz era diferente dos antecessores: filho de um famoso cinegrafista com uma bailarina do Teatro Bolshoi, apesar de jovem, ele tinha uma formação sólida. Sua mãe, que o treinou como bailarino, começou muito cedo a ensinar o menino.
Aos quatro anos, Daniil já estava no rinque — afinal, era jovem demais para entrar na escola de balé. Mas logo a patinação artística deixou de ser um meio temporário de treinar de balé para se tornar um trabalho para a vida.
Mas a mãe de Daniil não desistiu: “Para ser sincero, até os 17 anos eu simplesmente odiava coreografia. Imagine só: eu estava nessa idade de transição e todo mundo, depois de treinar patinação, ia ao McDonald's, mas minha mãe, bailarina, me dava as sapatilhas de balé e dizia ‘vamos praticar!’”
Aliás, a mãe dele, Liudmila Chalachova, tornou-se amiga de Tutberidze e também foi trabalhar no Rinque Khrustalni, seguindo os passos de Daniil.
Desde os primeiros dias, Daniil provou ser dedicado e receptivo. Ele levava os patinadores mais jovens para fazerem treinamentos adicionais — entre eles, a pequena Anna Scherbakova, que teve ajuda de Daniil para dominar os saltos triplos. Quando Scherbakova começou a fazer saltos quádruplos e quebrou a perna, Daniil a apoiava e a visitava.
Eteri Tutberidze e Daniil Gleikhengauz.
Vladímir Pêsnia/SputnikO Pigmalião e as três dúzias de Galateias
Daniil não consegue esconder que suas maiores apostas no gelo são Alina Zagitova e Anna Scherbakova — e seus instintos estão certos, pois ambas levaram o ouro olímpico com suas apresentações.
Zagitova, que tem 15 anos, fez o "Cisne Negro" em sua triunfante temporada de 2017-2018, com uma ideia há muito acalentada e que não era do gosto da dançarina anterior, Iulia Lipnitskaia. A ideia da apresentação é inspirada no thriller psicológico homônimo de Darren Aronofsky.
O desempenho impecável rendeu a Zagitova um recorde mundial na categoria de “programa curto”, que acabou determinando sua vitória sobre a competidora favorita, Evgenia Medvedeva.
Já o “programa livre” vencedor das Olimpíadas de Anna Scherbakova é baseado no romance “O Mestre e a Margarida”, de Mikhaíl Bulgákov. Ele abre com a composição “Ruska”, do grupo Apocalyptica, continua com o tema do baile de Satanás da trilha e termina com “Lacrimosa”, do “Requiem” de Mozart. Essa apresentação rendeu a Anna a medalha de ouro nas Olimpíadas.
Já a atração de Gleikhengauz por essas imagens demoníacas rendeu a Gleikhengauz o apelido de “Daniil Mefistófeles” entre os fãs russos.
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