O casal Sergio Marconato, 54, e Lieege Marconato, 32, vive e trabalha em Karatchai-Tcherkessia, no Cáucaso do Norte, onde sonha em adotar uma menina, mas já enfrentou uma enorme burocracia e uma derrota após a outra na papelada.
Vários meses após tentarem iniciar o processo, eles receberam uma negativa, mas depois de receberem ajuda do conglomerado de mídia estatal RT (Russia Today), que contatou o próprio ombudsman para os Direitos da Criança na Rússia, Sérgio e Lieege estão finalmente com os documentos prontos para dar continuidade ao procedimento.
“Estou tão feliz por finalmente termos conseguido esses documentos! Eu e meu marido tínhamos muita esperança de resolver essa questão antes do Ano Novo, para podermos começar o processo de adoção", disse ao RT Lieege Marconato, 32.
"Nos sentimos em casa aqui"
Sergio e Lieege nasceram e cresceram no Brasil, mas decidiram se mudar para a Rússia depois da Copa do Mundo de 2018.
"Meu marido sempre foi fascinado pela Rússia e pela cultura russa, desde a infância, e sempre quis visitar o país. Em 2018, ele veio a Moscou para a Copa do Mundo e decidiu que queria viver na Rússia. Na época, ele já tinha mais de 50 anos de idade e me disse: ‘A Rússia não é o que a gente pensava! Temos que dar uma chance, não podemos perder esta oportunidade’", conta Lieege Marconato.
O casal já tinha experiência vivendo em outros países: eles moravam na China, onde ela ensinava inglês para crianças e Sergio tinha uma renda proveniente de negócios no Brasil.
Quando o casal se mudou para a Rússia, Lieege foi convidado a ensinar em uma escola de idiomas em Tcherkessk.
Ela conta que os dois se adaptaram bem rápido à nova morada, e se apaixonaram especialmente pela natureza. Além disso, Lieege e Sergio já estavam acostumados a viver em cidades pequenas.
O casal logo percebeu que queria ficar na Rússia para sempre e ter um bebê. Mas, ainda no Brasil, Sergio contou à Lieege que não podia ter filhos. Agora, o casal sonha em adotar uma menina.
"Mesmo quando nossa filha se casar, ela ainda vai continuar perto da gente, não vai perder o contato. Um menino é mais livre, nesse sentido", diz Sergio.
"Eu sei que poderia ser uma boa mãe", acredita Lieege.
Os advogados já explicaram ao casal que o procedimento para a obtenção da cidadania pode levar vários anos. Assim, eles decidiram primeiro iniciar o procedimento de adoção internacional da criança na Rússia, reunindo todos os documentos necessários.
"Não queremos arrastar o processo"
Depois de uma batalha em que o conselho tutelar local jogava o casal ao Ministério das Relações Exteriores e este, à Embaixada do Brasil e assim por diante para emitir um documento necessário à abertura do processo, Lieege e Sergio contataram o RT para pedir ajuda. O conglomerado estatal de mídia russo, por sua vez, escreveu a Maria Lvova-Belova, a ombudsman para os Direitos da Criança na Rússia.
Assim, em uma reunião com o casal Marconato, o ombudsman regional para os Direitos das Crianças em Karatchai-Tcherkessia disse que o casal tinha direito de obter o certificado do conselho tutelar local autorizando o início do processo de adoção. Esse documento será emitido após os dois se formarem na Escola de Pais Adotivos – e eles já se preparam para ingressar na próxima turma, em março de 2022.
Quando o treinamento estiver concluído, o casal poderá começar a buscar sua futura filha por meio do banco de dados dos orfanatos. A decisão final sobre a adoção será tomada pelo tribunal regional.
Porém, a lei russa dá prioridade aos cidadãos russos na adoção de crianças, e o processo ainda poderá levar bastante tempo.
Enquanto estudam na Escola de Pais Adotivos, Sergio e Lieege planejam obter a residência temporária na Rússia e, depois, a permanente — e, para tanto, terão que passar em um teste de língua russa. Eles sonham que a filha leve adiante as tradições pátrias e cresça dentro da cultura russa.
"Vamos ensinar o português e o inglês para ela, mas queremos que ela conheça perfeitamente sua língua nativa e que não se afaste de suas raízes. É por isso que minha mulher e eu também estamos aprendendo russo", conta Sergio.
LEIA TAMBÉM: Adoção em massa de crianças salva uma aldeia siberiana de desaparecer do mapa