Duas décadas atrás, a população da remota vila de Barkhatovo, na região de Kemerovo (sul da Sibéria), estava diminuindo vertiginosamente. Não havia trabalho nem lazer e até mesmo as ligações telefônicas eram ruins. Com isso, os jovens estavam deixando a aldeia em massa e se mudando para cidades maiores. Por volta dessa época, alguns moradores locais decidiram adotar crianças de orfanatos, e isso se tornou cada vez mais comum. Durante a produção do censo populacional, publicado recentemente, descobriu-se que havia 126 crianças adotadas morando em Barkhatovo - sendo que a população total da vila é de 247.
Três filhos próprios e 20 adotados
“Em 2001, minha filha e eu ouvimos sobre a campanha regional ‘Encontre-me, mãe!’ na TV”, contou Tatiana Fadiuchina a um jornal local. “Minha filha disse: ‘Mãe, vamos adotar uma?’ Então, à noite, disse ao meu marido ao ele voltar do trabalho: ‘Vamos adotar uma?’.” Tatiana já tinha criado três filhos, todos adultos. Mas percebeu que a situação demográfica da aldeia era catastrófica, quase sem crianças e com a população envelhecendo rapidamente.
A primeira criança que a família trouxe para casa foi um bebê de 11 meses chamado Sasha. Depois veio Andrei, que tinha dois anos na época. Quando Tatiana foi orfanato pela terceira vez para adotar outra criança, sua vizinha, Lidia Bondareva, decidiu acompanhá-la. Eventualmente, outros vizinhos também seguiram. No final, Lidia adotou quatro crianças órfãs, e Nina Krasnova, 10. Tatiana, por sua vez, deu lar a 20 crianças vindas do orfanato.
Para acomodar todas essas crianças, os moradores de Barkhatovo tiveram que fazer reparos em suas casas e praticamente reconstruíram toda a aldeia.
“Filhos adotivos ajudaram a salvar a família”, disse Elena Starodumnova ao Canal 1 em 2008. “Não havia lugar para trabalhar, não tínhamos para onde nos mudar, tínhamos que criar nossos próprios dois filhos. E agora estamos trabalhando como pais adotivos.”
Starodumnova tem 21 filhos adotivos em sua família. A região de Kemerovo paga aos pais de 3.000 a 4.000 rublos por mês (cerca de US$ 50) para cada filho adotivo. Para os padrões de Barkhatovo, essa é uma grande quantia de dinheiro. Elena e seu marido conseguiram fazer reformas na casa, construíram uma cozinha grande o suficiente para toda a família e os filhos adotivos e compraram computadores para as crianças.
Todos da família ajudam os adultos nos trabalhos domésticos e na horta (não há supermercado na aldeia, por isso o cultivo é para subsistência). Diante do número massivo de adoções, o orfanato local foi fechado e todas as crianças vivem agora em famílias.
Crianças adotivas se tornam pais adotivos
Alguns dos primeiros pais adotivos já morreram, mas, quando seus filhos cresceram, alguns deles continuaram a tradição e também se tornaram pais adotivos.
Um dos filhos de Tatiana, Serguêi, está agora com 32 anos. Ele e sua esposa estão criando sua própria filha biológica e outros nove filhos de um orfanato. Serguêi conta que todos os filhos adotivos os chamam de mãe e pai, embora ninguém os tenha obrigado a fazê-lo. Para ele, o mais importante é encontrar uma abordagem única com cada criança individualmente.
“Agora está claro que a aldeia ainda está viva”, diz Serguêi. “Quando há crianças, há vida.”
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