“O que fizemos na quarentena? Quebra-cabeças, colagens, desenhamos imagens coloridas até que as canetas acabarem (...) ah sim, e estamos cultivando uma árvore”, descreveram as ginastas Dina e Arina Averina, 22 anos, sobre as atividades quando não estão se exercitando.
Dito isso, apesar do lockdown durante meses em 2020, as jovens tiveram poucos dias de folga – elas treinavam quase diariamente, seguindo uma rotina rígida.
“Você se levanta, lava o rosto, passa por avaliação médica e vai para o ginásio – coreografia e treino dia sim, dia não. Ou seja, não mudamos nem um pouco nossa programação”, contou Dina, em entrevista em um documentário da Match TV.
Para as ginastas, porém, treinos extenuantes não são algo excepcional; caso contrário, dificilmente teriam ganhado tantos ouros no Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica (Dina conquistou 13 e Arina, 4).
Nascidas em Zavoljie, uma pequena cidade na região de Níjni Novgorod (369 km de Moscou), Dina e Arina começaram a praticar ginástica antes mesmo de entrar na escola.
No início, as futuras campeãs combinavam escola e esporte, mas, aos 14 anos, mudaram-se para Moscou para treinar com a técnica olímpica Vera Chatalina, que também trabalhou com Alina Kabaeva.
“No primeiro treinamento, fomos direto para a Croácia, onde treinamos com estrelas da ginástica (....) Ficamos pasmos, porque para nós esta era uma oportunidade de um em um milhão”, diz Arina, ao lembrar das primeiras sessões de treinamento.
Alguns anos depois, elas conquistaram seus primeiros títulos – primeiro Dina venceu o Campeonato de Moscou em 2014; no mesmo ano, as jovens ginastas foram para o Grande Prêmio Holon, onde Arina levou o ouro. Em 2017, ambas as irmãs conquistaram uma medalha de ouro no Campeonato Mundial em diferentes disciplinas.
No começo, as duas se esforçavam para superar uma à outra.
“Foi difícil para Dina quando cheguei em primeiro e ela terminou em segundo; ela ficou muito chateada e até chorou”, admite Arina.
Mas, à medida que foram crescendo, as irmãs acabaram com a rivalidade e hoje não mostram nada além de preocupação e apoio uma pela outra em todas as competições.
Cada uma obtém sucesso em sua própria disciplina: Dina se sai melhor com o arco e as maças, e Arina com a bola e a fita. Elas também são bem diferentes em termos de personalidade, mas isso não as impede de serem amigas e passarem o tempo livre juntas.
“Eu tenho personalidade forte e séria, Aricha [Arina] é mais gentil, mais suave. (...) Mas compartilhamos os mesmos gostos e interesses, então sempre concordamos. Nunca ficamos entediadas e estamos sempre juntas, podemos bater papo horas a fio e contar uma à outra todos os nossos segredos e problemas, e ninguém saberá deles”, afirma Dina.
Em fevereiro de 2020, Dina machucou as costas, mas ainda assim competiu no Campeonato Russo. “A dor era brutal. Não pode ser comparada com nada, como nada que eu experimentei antes”, descreve Dina. Poucos meses depois, suficientemente recuperada, ela participou de mais uma competição internacional, que foi realizada on-line devido ao surto de coronavírus.
“No começo eu fiquei com medo. Pensei: o que está acontecendo? Meu estado de espírito não contribuiu porque minha lesão havia ocorrido no mesmo local [da competição]. Eu estava tremendo um pouco. Mas, quando apareci, vi o tatame e os jurados e me acalmei”, diz Dina.
Paralelamente, as irmãs estavam prestes a marcar presença nos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio, antes de o evento ser adiado devido à pandemia.
“Estávamos treinando quando soubemos que as Olimpíadas haviam sido canceladas. Trocamos olhares e nos sentamos. Por que se preocupar em treinar agora? (...). Mas, na verdade, ficou mais fácil. Agora estou treinando não para as Olimpíadas, mas simplesmente por prazer”, explica Dina.
Mesmo assim, as irmãs ainda têm expectativa de chegar aos próximos Jogos Olímpicos – seja lá quando e onde forem acontecer.
“Resta saber quem será selecionado para a equipe da Rússia, porque temos uma grande reserva de talentos e todos merecem uma chance nas Olimpíadas”, diz Arina.
“Não podemos relaxar, não podemos perder a nossa vaga, temos que vir todos os dias e dar o melhor de nós”, acrescenta Dina, confiante em relação ao futuro.