Após a Revolução de 1917, muitos dos tesouros da família Romanov foram contrabandeados para fora do país. Isso aconteceu em uma escala tão ampla que é impossível fazer até mesmo uma estimativa aproximada de quantas joias se perderam assim.
Às vezes, estrangeiros e oficiais contrabandeavam diamantes para fora do país. Em 1918, por exemplo, o escritor americano John Reed foi detido na fronteira com grandes quantidades de joias pertencentes à irmã de Nikolai 2°, Olga (ele tinha pedras preciosas escondidas na sola dos sapatos).
Já as joias que não foram contrabandeadas e acabaram nas mãos dos bolcheviques foram vendidas sem remorsos em vários leilões europeus. Naquela época, o novo governo precisava de dinheiro, e as joias eram quebradas e vendidas em pedaços, literalmente "por quilo". Foi isso o que aconteceu com muitas tiaras e diademas dos Romanov.
Na década de 1920, catálogos de leilões de joias do Império Russo começaram a circular pela Europa e qualquer um que tivesse dinheiro podia comprar uma pedra preciosa ou um anel dele.
Em 1926, os bolcheviques leiloaram as joias da coroa imperial. Os lotes tinham 773 itens. Desses, 114 podem ser encontradas hoje no Fundo de Diamantes do Kremlin. As peças restantes foram colocadas em leilão várias vezes.
O antiquário britânico Norman Weiss comprou nove quilos de joias e pedras preciosas, por um total de apenas 50.000 libras esterlinas. Weiss as revendeu para a casa de leilões Christie's, onde as joias foram divididas em 124 lotes e colocadas em leilão em março de 1927. A peça mais valiosa era a coroa nupcial da última imperatriz, Aleksandra Fiódorovna, adornada com 1.535 diamantes.
A tiara com pérolas em gotas saiu por 310 libras esterlinas, enquanto a tiara “Feixe de Trigo " com um diamante amarelo de 35 quilates custou 240 libras esterlinas. Seu valor real era, claro, muito mais alto.
Os membros da família Romanov que conseguiram escapar da Rússia contrabandearam joias consigo e, depois, as venderam a outras famílias reais. Muitos deles acabaram na Grã-Bretanha.
As pérolas russas da Princesa Maria Cristina de Kent
A Baronesa Maria Cristinavon Reibnitz, esposa do Príncipe Michael de Kent (que por sua vez é prima de Elizabeth 2° e, por meio de sua mãe, tataraneta do imperador russo Aleksandr 2°), tem pérola em forma de gotas que já pertenceram à grã-duquesa Maria Pávlovna.
Trata-se da mesma Maria Pavlovna que conseguiu contrabandear algumas de suas joias mais suntuosas para o exterior dentro de capas de almofadas durante a Revolução. A grã-duquesa legou todas as suas joias a sua filha, Elena Vladímirovna, a princesa Nicolas da Grécia e da Dinamarca.
No entanto, ela foi forçada a vender algumas das joias de sua mãe devido a dificuldades financeiras. A própria Elizabeth 2° às vezes aparece com a “Tiara Vladímir”, de Maria Pavlovna, em recepções oficiais.
Quanto aos brincos de pérolas em forma de gotas, Elena os passou a sua filha, a princesa Marina da Grécia e da Dinamarca, que mais tarde os deixou a seu filho, Michael de Kent. Ele, por sua vez, os presenteou a sua esposa, que gosta de usá-los em passeios.
As pérolas podem ser usadas tanto como brincos quanto como pingentes de colar.
O broche de safira de Elizabeth 2° com pingente de pérola
A rainha Elizabeth 2° fez uma visita oficial à Rússia em 1994. Para seu encontro com o presidente Borís Iéltsin, ela escolheu usar um casaco azul adornado com um broche que tem uma enorme safira do Ceilão de corte cabochão cercada por dezenas de diamantes e um elegante pendente de pérola solta.
O broche pertencia, inicialmente, à imperatriz russa Maria Fiódorovna, esposa de Aleksandr 3°, mãe de Nikolai 2° e irmã de Aleksandra da Dinamarca, rainha consorte da Grã-Bretanha (que inicialmente deu início à moda das tiaras "estilo russo").
Durante a Revolução, Maria Fiódorovna conseguiu deixar a Rússia fugindo pela Crimeia a bordo de um navio de guerra britânico. Ela acabou chegando à Grã-Bretanha e, depois, foi para a Dinamarca, onde viveu até sua morte, em 1928.
Historiadores acreditam que a imperatriz viúva tenha conseguido contrabandear o broche e algumas de suas outras joias para o exterior. O broche, que tinha sido um presente de casamento de sua irmã, acabou voltando à Grã-Bretanha.
Em 1930, as filhas de Maria Fiódorovna venderam o broche para a nora de Aleksandra, Maria de Teck, que o passou a sua neta, Elizabeth 2°, em 1953.
Mais um broche de safira
Maria Fiódorovna gostava muito de joias e, principalmente, de safiras. Ela tinha uma coleção impressionante de joias que foram a leilão depois de sua morte. Maria de Teck, também conhecedora de joias russas, adquiriu várias peças que são usadas até hoje em passeios pelos membros da família real. A coleção de Elizabeth 2° inclui outro broche de safira que pertenceu a Maria Fiódorovna.
A imperatriz tinha um conjunto completo de safira, composto por uma tiara, dois broches, um colar e um adorno de corpete. O conjunto inteiro também pode ter sido vendido em partes, mas uma coisa é certa: o broche foi parar nas mãos da rainha britânica. Elizabeth 2° o usa com bastante frequência para enfeitar algum vestido ou casaco.
Gargantilha de pérola e safira da princesa Anne
Esta é uma das gargantilhas favoritas da princesa Anne, filha de Elizabeth 2°, e tem uma safira enorme.
Ela também pertenceu a Maria Feodorovna. Maria de Teck a adquiriu em 1931 por 6.000 libras esterlinas (equivalente a cerca de 400.000 libras esterlinas hoje).
Com sua grande safira, diamantes, quatro fileiras de pérolas e incrustação de ouro, ela ainda tem um visual muito contemporâneo na atualidade.
O broche com letras eslavas pertencentes a Camilla Parker Bowles
Entre as joias da família real britânica há itens preciosos que foram presenteados pelos imperadores russos. Este broche de diamantes com safiras do Ceilão, por exemplo, é usado por Camilla, mulher do Príncipe Charles.
Ele é feito na forma original de um coração com a letra “ksi” dentro, denotando o número 60 no alfabeto cirílico antigo. Ele foi presenteado à rainha Vitória, em 1897, em homenagem ao seu aniversário de 60 anos e sua ascensão ao trono por seus netos de Hesse, que incluíam a última imperatriz da Rússia, Aleksandra Fiódorovna, e sua irmã, a grã-duquesa Elizabeth Fiódorovna.
O broche ficou escondido dos olhares do público por muitos anos. Mas Camilla, duquesa da Cornualha, começou a usá-lo em 2007 e continua a fazê-lo até hoje.
A pulseira de diamantes de Elizabeth 2°
Elizabeth se casou com Philip Mountbatten em 1947. Como presente de casamento, sua mãe, a Princesa Alice de Battenberg (bisneta da rainha Vitória e sobrinha da imperatriz Aleksandra Fiódorovna), deu ao filho uma tiara de diamantes que ganhou de Nikolai 2° e Aleksandra em seu casamento, em 1903. Isto ocorreu durante os difíceis anos do pós-guerra, quando até mesmo famílias reais ocasionalmente passavam por dificuldades financeiras e, assim, a tiara foi dividida.
O maior dos diamantes da tiara foi usado para fazer um anel de noivado, enquanto as outras pedras foram colocadas em uma pulseira de platina que Philip deu a Elizabeth. Ela a usa até hoje, emprestando-a de vez em quando a Catherine, duquesa de Cambridge e esposa de seu neto, William.
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