Com 53 casos de covid-19, coronavírus altera rotina da população em Moscou

Estilo de vida
VICTÓRIA RIABIKOVA
Muitas empresas estão permitindo que os funcionários trabalhem de casa. Como em outros países, prateleiras vazias e medo de sair são comuns na capital russa. 

Nesta segunda-feira (16), o número de casos de coronavírus na Rússia cresceu quase 50% – de 63 para 93 pessoas, segundo a vice-primeira-ministra da Rússia, Tatiana Golikova. Do total, 53 dos pacientes diagnosticados com covid-19 estão em Moscou, segundo o mapa de distribuição do novos vírus criado pelo portal Yandex.

Diante da atual situação, o prefeito de Moscou, Serguêi Sobiânin, introduziu novas restrições que mudaram drasticamente a vida de muitos moscovitas.

Trabalho e estudo remotos

Desde segunda (16), todas as empresas de Moscou devem medir a temperatura de seus funcionários e afastar os casos positivos e suspeitos do espaço de trabalho.

Todas as escolas de Moscou foram temporariamente fechadas, e os estudantes da maioria das universidades da cidade começaram a receber aulas à distância.

No entanto, algumas empresas introduziram trabalho remoto para os seus funcionários antes mesmo de a medida oficial entrar em vigor.

“Fomos informados em 13 de março de que o trabalho no escritório seria suspenso por, pelo menos, 2 a 3 meses. No início, todos ficamos felizes, mas agora é assustador”, disse um dos funcionários da agência de notícias Tass ao Russia Beyond.

A maior empresa de internet russa, Mail.ru Group, também solicitou que a maior parte da equipe começasse a trabalhar de casa.

“Alguns continuarão a trabalhar de casa até, pelo menos, 31 de março. O escritório continuará aberto para aqueles que não podem desempenhar as suas funções remotamente, mas o restaurante, a cozinha e o ginásio estarão fechados”, declarou a porta-voz da Mail.ru Group. Todos os funcionários que continuarão trabalhando na sede da empresa vão receber cupons para se locomover de táxi.

Prateleiras vazias

Assim que surgiram as notícias de quarentena, os moscovitas correram para os supermercados para comprar sobretudo sal, açúcar, cereais e produtos de higiene.

“Consegui achar papel higiênico e álcool em gel, mas carne em conserva e cereais estão em falta. A situação no [supermercado] Auchan é a mesma”, escreveu um usuário do Instagram.

De acordo com o Ministério da Indústria e Comércio da Rússia, as prateleiras se esvaziam rapidamente porque os funcionários dos supermercados não conseguem repor as mercadorias a tempo.

Os supermercados, porém, já aumentaram as encomendas com fornecedores, de modo que não haverá falta de produtos, segundo a pasta.

Paralelamente, muitos moscovitas deixaram de ir aos supermercados e lojas, encomendando os produtos em casa.

“Hoje recebi uma caixa com produtos da [empresa de vendas on-line] Ozon; o entregador deixou a caixa do lado porta, ligou e desapareceu. Essa entrega sem contato é ótima para mim”, disse a moscovita Natália, de 24 anos.

Autoisolamento em vez de tratamento

Em 16 de março, Tatiana Morôzova, de 25 anos, acordou com tosse e corrimento nasal. A jovem tentou chamar um médico em casa para fazer o teste de coronavírus, mas não conseguiu: os médicos do posto local não atenderam ao telefone. Foi apenas quando a temperatura subiu para 38,5 graus que ela conseguiu chamar um médico.

“Ele escutou os pulmões, verificou a garganta, perguntou se eu tinha tido contato com estrangeiros durante as últimas semanas. Então receitou aspirina e paracetamol, aconselhou a beber mais água, e se recusou a fazer qualquer teste”, reclama Tatiana.

No mesmo dia, o prefeito de Moscou ordenou que os postos municipais façam testes coronavírus em todos os pacientes com sintomas respiratórios.

“Cada novo caso [de coronavírus] requer hospitalização não apenas dos infectados, mas também de várias outras pessoas. Todos que entraram em contato com o doente devem ficar no hospital”, escreveu o prefeito Sobiânin no Twitter.

O governo de Moscou já começou a construção de um novo hospital para os infectados pelo novo coronavírus. Todos os moscovitas que chegaram recentemente da Europa são obrigados a ficar de quarentena.

Diversão, mas em casa

O governo da capital russa também proibiu todos os eventos públicos com participação de mais de 50 pessoas até 10 de abril.

Diversos teatros e museus cancelaram os eventos, segundo o jornal “Vedômosti”.

As empresas de TV a cabo russas estão permitindo acesso gratuito a filmes e séries. Ainda não se sabe se cinemas, restaurantes, bares e centros comerciais serão fechados.

Mas o estudante moscovita Aleksêi, de 18 anos, garante que não vai desistir de ir a bares nos fins de semana. “Não pode privar as pessoas da sua última alegria, senão a gente morre de tédio, e não de coronavírus”, diz.

Outros moradores da capital, porém, entraram em autoisolamento.

“Estou tentando não sair de casa há duas semanas”, conta Natália, funcionária da Russian Railways. “Já comprei comida suficiente e máscaras.”

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