Não há casos confirmados de coronavírus na Rússia, mas, de acordo com o relatório do Centro Nacional de Pesquisa Médica em Fisiopulmonologia do Ministério da Saúde, o risco para o país é alto. Apesar disso, a imprensa em geral divulga que a probabilidade de uma epidemia na Rússia é pequena. O vírus pode chegar à Rússia em fevereiro de 2020, de acordo com relatório publicado pelo jornal econômico independente russo RBC.
Mas a indústria farmacêutica e as farmácias russas já começaram a faturar com as notícias sobre o coronavírus. Desde meados de janeiro, as vendas de medicamentos antivirais cresceram bastante nas redes de farmácias russas “Doktor Stoletov”, “Oziôrki” e “36,6”, com um aumento entre 50% e 80%, de acordo com o jornal econômico russo “Kommersant”.
Vitaminas para “tratamento” do coronavírus
No final de janeiro, a empresa farmacêutica russa “Otisifarm” anunciou em duas estações de rádio do país o medicamento antiviral “Arbidol” para combater o coronavírus. O medicamento, porém, não tem nenhuma eficácia comprovada contra o novo vírus, de acordo com o RBC, e normalmente é usado para tratar gripe e Sars - mas nem mesmo contra esses sua eficácia é comprovada.
“Aumenta o número global de pacientes com novo coronavírus, que causa uma pneumonia perigosa. O vírus é transmitido de pessoa para pessoa. O risco de infecção é alto. Estudos comprovaram: o ‘Arbidol’ é ativo até mesmo contra o coronavírus. O ‘Arbidol’ é um antiviral de amplo espectro para proteger crianças e adultos. Para contraindicações, consulte um especialista”, ouvia-se na publicidade de rádio.
O Serviço Federal Antimonopólio da Rússia já recebeu reclamações sobre a publicidade e se comprometeu a enviar questionamentos à empresa, de acordo com a agência de notícias RIA Nôvosti.
Já o portal “Open Media” descobriu que na busca no Google por “como tratar o coronavírus”, surge um anúncio de “Ingavirin”, outro medicamento cuja eficácia não é comprovada para o novo vírus e usado para tratar infecções respiratórias virais. Este medicamento também não tem nenhuma eficácia comprovada.
Além disso, os usuários de redes sociais descobriram em farmácias de Moscou anúncios do suplemento “Omega-3” contra o coronavírus. O suplemento geralmente é recomendado para crianças a partir dos 11 anos de idade e adultos, sobretudo mulheres grávidas e mães amamentando. Havia farmácias também divulgando contra o vírus o “Remantadin”, medicamento usado para tratar e prevenir a gripe comum. Como os dois anteriores, este não tem nenhuma eficácia comprovada.
Máscaras na moda
As vendas de máscaras cirúrgicas também aumentaram significativamente na Rússia. Desde 21 de janeiro, na rede de farmácias “Rigla”, as vendas de máscaras octuplicaram, segundo o Kommersant. No final de semana de 25 e 26 de janeiro, a demanda por máscaras também aumentou na rede de farmácias “36,6”: foram vendidas 13 vezes mais máscaras que no final de semana anterior, nos dias 18 e 19 de janeiro, de acordo com o diretor-geral de varejo Aleksandr Kuzin.
As máscaras também ganharam popularidade em lojas on-line.
“As vendas de máscaras cirúrgicas começaram a crescer a partir de 20 de janeiro e sextuplicaram em uma semana. Assim, se no outono-inverno, os usuários on-line das grandes cidades compravam centenas de máscaras todos os dias, agora eles compram milhares e milhares”, disse ao Russia Beyond a assessoria de imprensa da loja on-line russa “Ozon”. A empresa acrescentou que as vendas de antissépticos para as mãos também aumentaram em 30%.
A assessoria de imprensa do portal “Yandex.Market” (um equivalente do “Google shopping” na Rússia), anunciou que, entre 22 e 28 de janeiro de 2020, a demanda por máscaras cirúrgicas aumentou mais de 13 vezes.
Na loja on-line “Beru”, também pertencente à “Yandex”, as vendas de máscaras cirúrgicas e filtros nasais quadruplicaram. Houve também um aumento na demanda por desinfetantes, cuja demanda praticamente dobrou na “Beru”.
Em outra loja on-line, a “Wildberries”, de 20 a 27 de janeiro, as vendas de máscaras quintuplicaram, em comparação com a última semana de dezembro de 2019, de acordo com o Kommersant.
Trolagem com o coronavirus
Em Magnitogorsk, cidade 1.700 quilômetros a leste de Moscou, em meio a notícias sobre o coronavírus, um grupo de blogueiros resolveu zombar dos residentes locais. Em uma rua da cidade, um homem tossia e caía “morto” na frente dos transeuntes.
Um minuto depois, homens em trajes de proteção química levavam o corpo. Os moradores ficaram assustados, achando que o homem tinha o coronavírus. As fotos da brincadeira foram parar na comunidade da cidade na rede social russa vk.com.
Nos comentários sobre o post, os usuários diziam que a cena era falsa: os blogueiros usavam luvas de construção que tentavam fazer passar por equipamento de proteção química. Mais tarde, o vídeo da brincadeira foi publicado no Instagram pelo blogueiro local “Dani”.
No site do canal de televisão de Moscou 24, divulgou-se outra ação: no metrô de Moscou, um homem vestido com roupas de proteção química pendurou um cartaz que dizia “Coronavírus, vá para o c¨%&)$#@”. Abaixo da frase, ele pedia que as pessoas se inscrevessem em seu canal no “Telegram”.
No final de dezembro de 2019, foi registrado um surto de pneumonia causado pelo coronavírus 2019-nCoV em Wuhan, um grande cidade na China. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 28 de janeiro de 2020, havia 4.593 pessoas infectadas com coronavírus mundo afora - das quais 4.537 estavam na China). Segundo o Centro de Ciências de Sistemas e Engenharia da John Hopkins University, porém, o número de pessoas infectadas pelo vírus na mesma data já totalizava 6.057. Entre elas, 5.970 estão na China. Dentre os infectados, 132 morreram, e outras 110 pessoas foram curadas.