Como vivem os esquimós de Tchukotka, no extremo nordeste da Rússia

Estilo de vida
ALEKSANDRA ELISSEEVA
Nativos de região ártica ainda mantêm antigas tradições animistas.

“Um mês por ano é ruim; dois meses, muito ruim; durante nove meses, o tempo é horrível”, é a frase favorita dos habitantes de Tchukotka, distrito autônomo situado no nordeste da Rússia, a menos de 90 quilômetros do Alasca.

Na tundra, o inverno é longo, e o verão é curto e frio (com temperatura média entre 10ºC e 15ºC). Na região, existe apenas uma estrada natural compartilhada pelas várias aldeias, e os moradores se locomovem de motoneve, SUVs, barcos e helicópteros.

Essa terra é habitada pelos nativos de Tchukotka, os esquimós, que tradicionalmente se ocupam da caça de animais marinhos.

Na Rússia, há somente 1.700 esquimós – são esquimós siberianos ou asiáticos, chamados yupiks siberianos. Os esquimós de Tchukotka são parentes dos da Ilha de São Lourenço, no Alasca: falam a mesma língua e se visitam de barco pelo estreito de Bering. A Ilha de São Lourenço fica a 60 quilômetros da costa de Tchukotka.

Como alimentar os espíritos

No entanto, há uma diferença essencial entre os esquimós de Tchukotka e os do Alasca – a fé. Enquanto os moradores do Alasca se converteram ao protestantismo, seus parentes de Tchukotka permanecem pagãos. Sua fé é animista: eles acreditam que todo objeto (pedras, grama, terra) possui alma.

Devido às crenças diferentes, os moradores de Tchukotka e do Alasca muitas vezes entram em choque. Os de Tchukotka têm a obrigação de alimentar os espíritos, e por isso são vistos atirando pedaços de comida ou gotículas de chá no ar.

Devido às crenças diferentes, os moradores de Tchukotka e do Alasca muitas vezes entram em choque. Os de Tchukotka têm a obrigação de alimentar os espíritos, e por isso são vistos atirando pedaços de comida ou gotículas de chá no ar.

Os esquimós acreditam que na vida após a morte as pessoas também precisam se alimentar. É por isso que, ao passar por uma aldeia abandonada, os esquimós deixam  comida para os espíritos das pessoas que ali viviam.

Culinária tradicional para homens fortes

Os esquimós são quase os únicos povos da Rússia que têm permissão para caçar animais marinhos: entre três e cinco baleias por ano, morsas e focas.

Para os esquimós, a melhor iguaria é a carne semidecomposta de morsa. Eles também gostam da gordura e pele de baleias, carne de foca, e coração e fígado de morsa. 

Os caçadores mantêm tradições vivas

As famílias de caçadores são responsáveis por manter vivas as tradições dos esquimós. Conhecem os locais sagrados e todo o território da tundra, sabem preparar comida tradicional e realizam rituais para obter ajuda dos espíritos durante a caça.

Segundo o etnólogo Dmítri Oparin, deixar a aldeia é motivo de celebração para os esquimós. “Eles não gostam de ficar em casa. Tentam viajar pela tundra sempre que surge a oportunidade: de colher frutos ou cogumelos na floresta, caçar aves no lago, ou pescar. A tundra e o mar, segundo eles próprios, é o verdadeiro “lugar dos esquimós”.

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