O último imperador da Rússia Nikolai 2º e a sua família inteira foram mortos a tiros pelos comunistas em 17 de julho de 1918. Os seus corpos foram jogados em um túmulo sem marcação e queimados. Isso colocou um ponto final na história de séculos da monarquia russa, e sua retomada jamais foi sugerida seriamente.
O paradoxo, porém, é que 101 anos depois, o último tsar ainda é popular entre os russos. De acordo com a pesquisa feita pelo Centro de Estudos da Opinião Pública da Rússia, os russos são mais favoráveis a Nicolau 2º do que a Lênin ou Stálin.
Quantas pessoas apoiam a monarquia?
Aqueles que se lembram do governo dos Romanov são tão poucos na Rússia que experiência pessoal não é, definitivamente, um fator determinante.
“Desde a infância me interesso por história e aos poucos fui me tornando um monarquista”, explica o jovem Alik Danielian, de 20 anos. Na rede social VKontakte, a mais popular da Rússia, Danielian comanda o grupo Enclave da Monarquia, que conta com quase 29 mil membros.
O debate sobre monarquia voltou à tona na Rússia em 2017, quando foi celebrado o centenário da Revolução de Outubro.
Segundo a pesquisa de opinião pública, hoje, 8% dos russos querem o retorno da monarquia; 19% não são contra, mas depende de quem seria coroado; e 66% dos russos são categoricamente contra o retorno do regime monárquico.
“Depois de 70 anos de propaganda soviética, os russos acham que monarquia é uma ditadura de um homem só, o que não corresponde com a percepção de monarquia na Europa”, diz o analista político Fiódor Krachenínnikov.
Além disso, a maioria dos russos, por exemplo, acredita que a queda da monarquia “não foi uma perda significativa” para o país, acrescenta o especialista.
O que pensam os russos sobre a execução da família real?
Os restos mortais da família real foram cerimonialmente enterrados em julho de 1998 – exceto do príncipe Aleksêi e de sua irmã Maria, cujos restos mortais foram achados mais tarde e estão no Arquivo Estatal Russo.
Durante o funeral, o então presidente russo Boris Iéltsin disse que o massacre dos Romanov é “uma das páginas mais vergonhosas de nossa história”, acrescentando que os culpados foram “aqueles que justificaram isso décadas depois”.
Atualmente, apenas 3% dos russos creem que a execução da família real foi uma retribuição justa pelos erros do imperador.
Em 2000, a Igreja Ortodoxa Russa canonizou os Romanov assassinados como mártires. Igrejas foram construídas nas propriedades da Casa de Ipátiev, onde ocorreu o massacre, e no local onde os corpos foram queimados.
Em 2018, mais de 100 mil fiéis da Rússia, Ucrânia, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos visitaram esses lugares para homenagear a família imperial.
No entanto, muitos historiadores garantem que esse apoio não tem a ver com monarquismo. “Em Iekaterinburgo, onde estão ocorrendo os maiores eventos que marcam o centenário das mortes dos Romanov, os imperadores são santos martirizados, mas sem referências políticas ou ideológicas”, escreve Ala Creciun Graff, historiador da Universidade de Maryland. A canonização dos Romanov os transformou de figuras políticas em símbolos religiosos.
Onde estão os descendentes vivos dos Romanov?
Após queda do regime tsarista, parte da família real que conseguiu fugir dos bolcheviques buscou refúgio no exterior.
A maioria dos descendentes dos Romanov – principalmente dos quatro filhos do Imperador Nikolai 1º – vivem na Europa Ocidental e nos Estados Unidos.
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Os membros restantes dos Romanov costumam visitar a Rússia no aniversário da execução da família real e permanecem isentos no cenário político, com apoio implícito a Vladimir Putin. De acordo com a grã-duquesa Maria Vladimirovna, a Casa Romanov se opõe à restituição da monarquia, e não reivindica qualquer propriedade que tenha pertencido a seus antepassados.
Segundo o historiador russo e especialista na genealogia dos Romanov, Evguêni Ptchelov, nenhum dos descendentes poderia reivindicar direitos ao trono.
“Somente os membros da Casa Imperial Russa dos Romanov podem reivindicar o direito ao trono. Essas pessoas devem, antes de tudo, nascer de um casamento igualitário, ou seja, entre descendentes de dinastias reais. O último Romanov a satisfazer essas exigências foi a princesa Catarina Ivanovna (1915 - 2007), que passou os últimos anos de vida no Uruguai”, explica Ptchelov.
“Atualmente, não há membros dos Romanov nascidos de casamentos igualitários. Assim, seguindo a Lei Imperial Russa, ninguém pode reivindicar direitos ao trono.”