Jovens russos não querem saber de vodca (nem de vinho ou cerveja)

Millenials não gastam com a balada como antes - e nem com bebida.

Millenials não gastam com a balada como antes - e nem com bebida.

Mikhail Metzel/TASS
Cidadãos perdem uma de suas principais “características nacionais”: eles pararam de beber! Em 2017, país ocupava sexto lugar no ranking dos que mais ingerem bebidas alcoólicas. A rica cultura à mesa dos brindes em qualquer ocasião da vida, as conversas “cheias de alma” na cozinha e as superstições – tudo terminou de uma hora para a outra.

 “Já se passaram duas semanas desde meu grandioso misto de reality show e experimento social ‘30 dias sem álcool’. Faz duas semanas que eu parei de beber”, diz o youtuber Iúri Khovanski, de 28 anos, à webcam presa ao monitor.

Khovanski tem uma popularidade e reputação escandalosa como “blogger-alcoólatra”, sempre com um copo de cerveja na mão. Mais de 3,5 milhões de assinantes do seu canal têm acompanhado de perto como ele está deixando de beber.

“Em primeiro lugar, p%&ra, pessoal, eu nunca tive duas semanas de vida tão cheias na minha vida!”, conta Khovanski ao começar sua história de abstemia. Então, ele ainda não sabia que aguentaria três vezes mais: 90 dias. E sua história é apenas uma entre muitas.

Estatísticas

Sociólogos:

A julgar pelas pesquisas, na Rússia contemporânea bebe-se quase 80% menos álcool que há sete anos atrás. Além disso, são justamente russos jovens que se abstém em massa de bebidas alcoólicas, ou seja, os chamados “millenials”, que nasceram entre os anos 1982 e 2000.

A informação é amparada por pesquisas de opinião pública também do Ministério da Saúde russo. Nota-se uma queda do interesse por bebidas alcoólicas em todas as gerações sem interrupção desde 2008. Mas é justamente entre a juventude russa e as gerações precedentes que se nota a maior queda, de 25%.

Inicialmente, os institutos de pesquisas supunham que os “millenials” simplesmente ainda não haviam começado a beber e que haviam adiado este consumo. Mas as pesquisas mostram que o pico de consumo já passou.

“Além disso, eles não apenas trocaram a vodca por cerveja e vinho. O interesse por todo tipo de bebida caiu”, diz o professor da Escola Superior de Economia Vadím Radaev, que estuda a geração dos “millenials”.

“Eu vivia de sexta-feira a sexta-feira esperando o salário para pegá-lo e correr para gastá-lo em roupas para ir para a balada. Depois, ia elegantemente ao bar e comprava, com orgulho, uma garrafa de vinho para mim mesma”, conta a analista de marketing Ekaterina Issakova.

Como resultado, uma ida ao bar custava, para ela apenas, cerca de 5.000 rublos (R$ 295). Isto incluía a ida e volta de táxi, bebida alcoólica, aperitivo e café da manhã.

“Agora, em dois, gastamos 500 rublos (R$ 29). São dois sem bebidas alcoólicas e vamos no meu carro”, explica.

Questão ainda sem resposta

É difícil dizer o qual o motivo da queda. Pode-se supor que ele esteja relacionado com a manifestação de um pragmatismo coletivo.

“A geração mudou, a época mudou, e com ela chegaram novas estratégias de adaptação. A recusa da bebida alcoólica e do fumo é recebida, por muitos, como um fator que os ajuda a resistir à concorrência, ter uma posição melhor no trabalho, ganhar mais dinheiro, ter uma aparência mais favorável”, diz o pesquisador-chefe do Instituto de Sociologia da Academia Russa de Ciências Leônti Bizov.

Ele relembra que outro tipo que começou a desaparecer  foi o do colegial que ingere bebidas alcoólicas, tão popular nos anos 1990.

“Nós bebíamos nas entradas dos prédios e nos carros quase todos os dias. Na maior parte, era tudo por causa da pobreza. Eu me recordo disso às vezes com meus amigos... O que mais nós poderíamos fazer para nos ocupar? Um dinheirinho para jogar nos computadores em rede na lan house ou para cerveja sempre havia!”, diz.

Desde então, muita coisa mudou. Conduz-se uma reforma para diminuir o consumo de bebidas alcoólicas já há quase dez anos, os impostos sobre consumo aumentaram e, com eles, os preços das bebidas alcoólicas. Mas os sociólogos ainda não entenderam o que aconteceu com os russos.

“Não acredito que isto esteja relacionado à carreira, algo do tipo ‘vou beber menos e trabalhar mais’. Mas vemos, com certeza, que a cultura do brinde começa a ficar no passado, não é mais um atributo de comunicação. E, além disso, observa-se como todos começaram a virar fanáticos por um estilo de vida saudável. Apesar de também nos tempos soviéticos todos falarem da importância dos esportes, mas todos beberem. Mas agora, de repente, funcionou”, diz Radaev.
O fenômeno da queda de interesse pelo álcool também não é exclusivamente russo. O mesmo ocorre com jovens suecos, finlandeses, americanos, britânicos, australianos etc. Ou seja, moradores de países desenvolvidos economicamente onde sempre se bebeu demasiadamente.

A tendência é mundial. O que surpreende é que ninguém consiga compreender o motivo por trás dela.

“Nem os próprios millenials sabem isso. Quando perguntamos ‘por que você não bebe, visto que seus pais e avós bebiam?’ eles também são evasivos. Dizem apenas ‘não gostamos, não precisamos disto’”, conta Radaev.

Outra tendência entre os jovens russos é a de... permanecer solteiro. Sabia? Descubra aqui.

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