Entre medalhas e recordes, patinadoras russas dão o tom nas Olímpiadas

Jon Olav Nesvold/Global Look Press
Evguênia Medvedeva e Alina Zagitova elevaram tanto o nível da competição nos Jogos da Coreia do Sul que provas se tornaram uma corrida contra si mesmas.

As competições de patinação artística feminina nos Jogos Olímpicos de PyeongChang, na Coreia do Sul, tiveram especial importância para Rússia. Duas atletas do país, Alina Zagitova e Evguênia Medvedeva, não só conquistaram as duas primeiras colocações, como bateram recordes olímpicos consecutivamente.

Surpresa no pódio

A patinação feminina costuma ser um esporte cheio de emoção. Nem sempre os favoritos atendem às expectativas, sobretudo em eventos do porte de uma Olimpíada, onde força mental e sorte têm tanta ou mais importância do que habilidade técnica.

Muitos dos campeões olímpicos dos últimos anos apareceram quase do nada. E são pura estatística: casos como o de Sarah Hughes (Salt Lake City, em 2002), Tara Lipinski (Nagano, 1998) e Adelina Sotnikova (Sochi, 2014) são exemplos claros de como atletas subestimados podem ocupar o centro da competição. O mesmo ocorreu em 2018: um ano atrás, quem esperava que Alina Zagitova estaria no topo? 

Competição amigável

Os últimos anos nas competições femininas individuais, porém, foram muito previsíveis. Evguênia Medvedeva conquistou uma grande reputação graças a suas vitórias em praticamente duas temporadas consecutivas, desde o final de 2015.

Medvedeva, que bateu vários recordes em termos de pontuação total, foi alçada à fama rapidamente e se tornou a principal embaixadora dos esportes de inverno da Rússia. Foi ela que, com apenas 18 anos, representou os atletas russos em uma reunião com oficiais do COI (Comitê Olímpico Internacional), em Lausanne (Suíça), após a investigação sobre as acusações de um suposto sistema de doping patrocinado pelo governo russo nos Jogos Olímpicos de Sochi, em 2014.

A própria participação de Medvedeva nos Jogos de PyeongChang também esteve em risco, e só foi confirmada após a liberação da lista limitada de atletas autorizados a participar do evento sob a bandeira olímpica – tornando-se a principal esperança de obter a medalha pela empobrecida equipe chamada “Atletas Olímpicos da Rússia”.

Ainda assim, as perspectivas olímpicas de Medvedeva não eram tão claras. Em outubro de 2017, pouco antes de completar 18 anos, a atleta sofreu uma lesão no pé.

Devido à lesão, Medvedeva não estava em plena forma para o Campeonato Europeu, realizado em janeiro passado em Moscou, onde perdeu para sua colega de equipe Alina Zagitova, de 15 anos – marcando sua primeira derrota desde novembro de 2015. Como Zagitova e Medvedeva treinam no mesmo centro, os jornalistas imediatamente começaram a sugerir uma rivalidade entre as duas; as atletas, porém, afirmam ser amigas e garantem que não há nenhuma tensão entre elas.

Também não se pode dizer que Zagitova tenha conquistado a vitória apenas por causa dos problemas de saúde de Medvedeva. Ela se mostra uma excelente patinadora desde suas primeiras competições em categorias inferiores. Nativa de Ijevsk, a terra natal do fuzil Kalashnikov, Zagitova teve grande estreia nas categorias superiores, vencendo duas das seis provas das quais participou na Final do Grand Prix de Patinação Artística no Gelo de 2017–18, realizada em Nagoia (Japão) .

“Eu a vi treinando no início da temporada e estava claro que ela já era muito forte. Agora ela está perto de seu melhor estado possível”, disse o treinador e coreógrafo Iliá Averbukh em entrevista ao canal R-Sport.

A matemática da vitória

Uma série de saltos complexos, como triple axel (um dos movimentos mais complicados da patinação artística, que consiste em um salto acompanhado de três giros e meio sobre o próprio eixo), fizeram Medvedeva obter resultados históricos em nível técnico. Além disso, geralmente ganha pontos extras por colocar um braço acima da cabeça quando salta – técnica que já se tornou sua marca registrada.

Enquanto isso, a jovem colega de Medvedeva, Alina Zagitova foi ainda mais adiante, introduzindo outros elementos complexos, como um triple lutz. Mas não são só os truques, como também a ordem, que faz os cálculos funcionarem para a russa. Zagitova tende a realizar todos os seus saltos na segunda parte do programa, para obter um bônus de 10% por cada um. A estratégia utilizada já gerou inclusive reações mistas. A norte-americana Ashlee Wagner acusou Zagitova de explorar as possibilidades do sistema de pontos, matando tempo e arruinando a performance.

O bicampeão olímpico Evguêni Plúchtchenko discorda. “Como ficar indiferente ao estilo de patinação de Zagitova? Ela está escrevendo uma nova página na história do nosso esporte. Ninguém está perto da complexidade que ela vem demonstrando”, diz Plúchtchenko, citado pelo jornal Sport Express.

Don Quixote vs. Anna Karênina

Confiantes da perfeição técnica, a única preocupação para os russos era a pontuação por características mais abstratas, como atuação, transições e composição. O treinador de ambas, Eteri Tutberidze, apoiou-se, no entanto, em coreografias consistentes. Tanto Zagitova como Medvedeva passaram uma impressão de maturidade com seus programas de patinações “Don Quixote”, de Ludwig Minkus, e “Anna Karênina” de Dario Marianelli, respectivamente.

Tatiana Tarásova, treinadora russa que trabalhou com Mao Asada, Sasha Cohen e Aleksêi Iagudin, elogiou sobretudo a escolha de Medvedeva. “Ela é fantástica com essa música, sua patinação é como um sussurro”, disse Tarásova ao Match TV.

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