Complexo de bobsleigh em Sôtchi, cidade russa à beira do mar Negro
Mikhail Mokruchin/RIA NôvostiQuase uma semana após a publicação das novas revelações de doping pelo presidente de comissão uma comissão da Wada (Agência Mundial Antidoping), Richard McLaren, em 9 de dezembro, a Rússia se deparou com as primeiras consequências.
Em consideração às denúncias de um programa de doping patrocinado pelo Estado, a Federação Internacional de Bobsleigh e Skeleton (IBSF) cancelou na terça-feira (13) os campeonatos mundiais que aconteceriam em Sôtchi em fevereiro de 2017.
Ao ser informado da notícia, o porta-voz da presidência russa Dmítri Peskov alegou que a decisão havia sido politizada. Mas será que a Rússia conseguirá desafiar o cancelamento do torneio no tribunal, com apenas dois meses antes de seu início?
A Gazeta Russa foi atrás de especialistas esportivos para responder a esta e outras perguntas acerca do recente escândalo que atinge o esporte russo.
A Rússia pode ser legalmente privada de sediar os campeonatos mundiais de bobsleigh e skeleton?
Sim. A IBSF tem esse direito, pois, assim como outras federações, é um instituto autônomo e independente. As federações esportivas podem, por exemplo, alterar as regras de competição para sua modalidade, desqualificar e reabilitar atletas, bem como confirmar e alterar os locais onde serão realizados os campeonatos.
A IBSF aprovou Sôtchi como sede dos campeonatos mundiais. Por que os planos foram cancelados apenas dois meses antes do início?
Sôtchi ganhou o direito de realizar os campeonatos mundiais durante um congresso da IBSF em Gdynia, na Polônia, em junho de 2013. Na época, a cidade, que se preparava para sediar os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno na Rússia, levou a melhor entre os concorrentes Whistler (Canadá), Lake Placid (EUA) e Altenberg (Alemanha).
Os delegados do congresso ficaram impressionados com a então recém-construída pista de bobsleigh, chamada Sanki, que os atletas testaram em novembro de 2012, e nos ano seguinte foi palco da primeira Copa do Mundo da modalidade no país.
Não há reclamações sobre a pista – o cancelamento dos campeonatos foi resultado de outras circunstâncias. “O clima atual tornaria quase impossível apreciar os esforços do Comitê Organizador (...) ou a qualidade da pista Sanki”, lê-se em nota publicada no site oficial do IBSF. Mas não é difícil detectar a reação da organização ao relatório de McLaren, cuja segunda parte foi apresentada no último dia 9 de dezembro.
Depois que a recente denúncia veio à tona, dois dos maiores corredores de skeleton do mundo – a campeã olímpica em Sôtchi, Elizabeth Yarnold (Reino Unido), e o atual campeão mundial Martin Dukurs (Letônia) – sugeriram que as provas na Rússia fossem boicotadas. Diante do apelo de Dukurs, toda a equipe de skeleton letã, uma das mais fortes do mundo, recusou-se a ir a Sôtchi.
Mais tarde, a seleção sul-coreana também se uniu ao boicote.
Onde acontecerão os campeonatos agora?
A nova sede do campeonato ainda não foi oficialmente selecionada. No entanto, tudo indica que as provas serão transferidas para Konigssee, na Alemanha. O secretário-geral da Federação Alemã de Bobsleigh e Luge, Thomas Schwab, que havia proposto transferir o torneio para a Alemanha antes mesmo do comunicado oficial da IBSF, informou que o órgão internacional está avaliando essa possibilidade.
Os atletas russos participarão da competição?
Por enquanto não se falou sobre uma possível desqualificação da equipe russa ou de atletas individuais. No entanto, esse cenário não pode ser excluído, pois, juntamente com seu relatório, McLaren enviou informações sobre as amostras falsas fornecidas por alguns atletas russos às federações esportivas. A questão da proibição de atletas devido à dopagem dependerá das respectivas federações.
A Rússia será compensada pelo cancelamento dos campeonatos?
Do ponto de vista do direito esportivo, a federação internacional não tem nenhuma obrigação para com o lado russo, pois o direito de cancelar a competição a qualquer momento está descrito em seu regulamento, explica o advogado Valéri Fedoreiev. Segundo ele, a compensação só é possível no caso de dissolução dos contratos de publicidade e de patrocínio assinados para os campeonatos. Mas isso é determinado por meio de processos cíveis e não tem relação com o esporte.
O país pode desafiar a decisão da federação no tribunal?
A Rússia pode abrir uma ação no Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne, mas suas chances de ganhar são mínimas, acredita Fedoreiev. “O tribunal não analisa as razões da decisão, apenas confere se as normas processuais foram violadas ou não. A federação atua de acordo com sua carta, e o tribunal não teria motivos para mudar a decisão da federação.”
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