Sôtchi amarga calendário invernoso pós-Olimpíadas

Na próxima temporada, Sôtchi vai sediar um único campeonato importante dentre os sete esportes olímpicos de inverno Foto: Alamy/Legion Media

Na próxima temporada, Sôtchi vai sediar um único campeonato importante dentre os sete esportes olímpicos de inverno Foto: Alamy/Legion Media

Cidade se transformou no centro dos esportes de inverno em fevereiro passado. Mas a próxima temporada será uma história completamente diferente. Cidades pouco conhecidas terão chance de exibir seu potencial em campeonatos ao longo de 2015.

Faz muito tempo que Sôtchi não tem um inverno tranquilo. Depois que, em 2007, a cidade ganhou o direito de sediar os Jogos Olímpicos de Inverno deste ano, a paz na estância no mar Negro e nas montanhas vizinhas do Cáucaso foi abalada por um imenso projeto de construção.

Um tecnológico cluster de instalações esportivas no gelo emergiu do pântano à beira-mar, enquanto, lá em cima, novas estações de esqui começaram a pontuar as pistas.

Em 2012, foram realizados os primeiros eventos-teste, e Sôtchi foi finalmente incluída nos calendários dos principais esportes de inverno, para que os melhores atletas pudessem competir ali e apontar eventuais falhas. Em fevereiro passado foi a vez de a cidade receber os Jogos Olímpicos de Inverno.

No próximo inverno, entretanto, não haverá quase nada. Sôtchi vai sediar um único campeonato importante dentre os sete esportes olímpicos de inverno, quando os principais praticantes de luge do continente chegarem em fevereiro de 2015 para disputar os torneios europeus.

Claro que não se pode sediar as Olimpíadas todos os anos. De fato, grande parte da atração de sediar os Jogos está na rara oportunidade de fazê-lo – a Rússia teve que esperar 34 anos entre os Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, e o evento de Sôtchi deste ano, enquanto o Reino Unido não realizava os Jogos havia 64 anos antes de Londres-2012.

Também não é comum que uma ex-sede das Olimpíadas de Inverno permaneça como figura central no calendário de todos os esportes de inverno. Afinal, nenhum lugar é perfeitamente adequado para receber todos eles. Sôtchi é provavelmente um pouco quente demais para abrigar competições regulares de esqui, e muito remota para atrair grandes multidões fora dos Jogos Olímpicos em esportes que a Rússia não é forte. Mas os organizadores da Olimpíada de Sôtchi levaram isso em conta nos projetos.

A arena de patinação de velocidade será convertida em um centro de exposições, e o local das provas de esqui estilo livre nas montanhas era tão temporário que se desmantelou duas semanas após a cerimônia de encerramento.

Inverno para todos

Este ano, a questão não é que a Rússia não está no calendário. A Rússia está. Sôtchi é que ficou de fora. O biatlo e o esqui cross-country, dois esportes de peso no país, ainda não têm rodadas como a Copa do Mundo, mas terão espaço nas pouco conhecidas regiões de Khanti-Mansisk e Ribinsk. E não se trata de uma coincidência – esses lugares podem não ser famosos, mas contam com torcedores fervorosos. Nem todo mundo pôde conseguir ingressos para Sôtchi, portanto, permitir que outros locais da Rússia sediem eventos esportivos alguns meses depois dos Jogos Olímpicos é provavelmente uma decisão sábia.

Fato é que o momento crucial para Sôtchi virá em dois ou três anos. Se não realizar eventos regulares de esportes de inverno nesse meio tempo, a cidade corre o risco de sair do mapa dessas modalidades. É também crucial saber como a região vai se desenvolver para tornar-se um resort de esportes de inverno. Se as encostas da cidade ficarem populares, será mais fácil para os organizadores atrair torcedores do exterior, tornando os eventos mais economicamente viáveis.

Sôtchi na pista

O legado olímpico de Sôtchi não se refere apenas às montanhas. O maior evento da cidade após os Jogos Olímpicos de 2014 não é um campeonato de inverno. A corrida de Fórmula Um, que significou o primeiro Grand Prix no país, atraiu dezenas de milhares de fãs do esporte no mês passado, apresentando a nova cara dos antigos espaços olímpicos ao redor da pista. Só não está claro ainda quão rentável foi a aposta.

A principal arena de hóquei, a Cúpula de Gelo Bolshoi, tem tido casa lotada ao sediar jogos da equipe local HK. Desmentindo a crença de que as cidades no sul do país nunca se tornariam fiéis ao hóquei, o clube vem atraindo até 10 mil torcedores em jogos contra as equipes que estão no topo da liga. Isso pode ser fichinha para os padrões da americana NHL, mas está bem acima da média esperada na liga russa.

Sôtchi foi bem-sucedida na disputa para receber a Copa Canal Um de hóquei, torneio que reúne as seleções nacionais da Rússia, Finlândia, Suécia e República Tcheca. O evento não é de conhecimento da maioria dos torcedores americanos, por exemplo, mas é um grande negócio para os russos. Além disso, sua tradicional realização em dezembro torna-o uma espécie de ritual pré-Ano Novo.

Permitir que o torneio deixasse Moscou pela primeira vez sugere que há um desejo real entre os chefes nacionais do esporte de transformar Sôtchi em uma “cidade do hóquei”. Mas, apesar de tudo isso, a cidade ainda ficará um pouco vazia, assim como as agendas de comentaristas esportivos russos em um inverno desprovido de voos constantes partindo de e para Sôtchi.

 

Esportes de Inverno na Rússia – Temporada 2014-15

Grand Prix de Patinação artística, Moscou, 13 a 15 novembro

Copa do Mundo de Salto de Esqui, Nijni Taguil, 12 a 14 dezembro

Hóquei, Copa Canal Um, Sôtchi, 18 a 21 dezembro

Copa do Mundo de Esqui Cross-country, Ribinsk, 23 a 25 janeiro

Copa do Mundo de Esqui estilo livre, Moscou, 21 fevereiro

Campeonatos europeus e Copa do Mundo de Luge, Sôtchi, 28 fevereiro a 1 março

Copa do Mundo de Biatlo, Khanti-Mansisk, 16 a 22 março

 

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