As competições aconteceram de maneira dramática e imprevisível Foto: Tatiana Andréieva
A seleção do Japão ficou em primeiro lugar no Campeonato Mundial de Judô, realizado de 25 a 31 de agosto em Tcheliabinsk (a 1.500 km de Moscou), conquistando quatro medalhas de ouro, duas de prata e três de bronze. A França ficou em segundo lugar (2 ouros, uma prata e 4 bronzes) e Brasil e Cuba (ambos com um ouro, uma prata e 2 bronzes) compartilharam a terceira posição. A equipe russa acumulou oito medalhas - duas de prata e seis de bronze -, ocupando o 11º lugar.
Participaram do Campeonato Mundial em Tcheliabinsk 639 atletas de 110 países. Foi a primeira vez que a cidade, situada próxima aos montes Urais, na fronteira entre a Europa e Ásia, sediou um evento esportivo dessa dimensão.
Surpresas e expectativas
As competições aconteceram de maneira dramática e imprevisível. Quem diria, por exemplo, que a judoca Kim Polling, da Holanda, líder no ranking mundial, e o atual campeão olímpico, o russo Taguir Khaibuláiev, aos quais era profetizado o ouro, acabariam sem medalhas em Tcheliabinsk? Ou ainda que a brasileira Rafaela Silva (57 kg), campeã mundial de 2013, no final ficaria apenas com o quinto lugar?
No entanto, também existiram “exceções” no campeonato. O francês Teddy Riner, peso-pesado e favorito do torneio, venceu todos os duelos em grande estilo e se tornou campeão mundial pela sétima vez.
O presidente russo, Vladímir Pútin, visitou o campeonato no último dia das competições. Ele torceu com emoção pelos russos que estavam lutando pelo ouro contra o Japão na final do torneio masculino por equipes. E apesar da equipe dos anfitriões ter perdido para a equipe dos fundadores do judô (2 a 3), o presidente russo não parecia chateado e disse que perder para os japoneses "não é vergonhoso".
Fantasiado de Jórik
A cerimônia de abertura contou com a presença de 7.00 espectadores. Com a ajuda de um show de laser, 1.500 líderes de torcida, dançarinos, atletas e trapezistas recriaram toda a história do judô no mundo.
O ponto alto do espetáculo foi o episódio no qual uma jovem conduziu calmamente, numa guia, um tigre vivo através da arena e o introduziu em uma jaula que um mágico cobriu com um tecido escuro. Mas quem saiu de lá foi um homem fantasiado como o tigre Jórik, mascote do campeonato.
O presidente russo, Vladímir Pútin, visitou o campeonato no último dia das competições Foto: Tatiana Andréieva
Um filhote de tigre de verdade tornou-se o protótipo do mascote do campeonato mundial. Em 2009, devido a uma doença, o animal havia sido dispensado por um zoológico móvel que estava se apresentando em Tcheliabinsk. Karen Dallakian, um veterinário famoso na cidade, resolveu tratar do tigrinho Jórik. O dinheiro para os medicamentos foi arrecadado por ativistas defensores dos direitos dos animais e por cidadão que não permaneceram indiferentes à causa, e no fim das contas Jórik foi salvo e se transformou em uma lenda urbana.
O colorido russo
O campeonato se tornou uma festa não só para os atletas, mas também para os espectadores. Em um espaço de 5.000 metros quadrados, em frente à arena, foi montado para eles um parque recreativo e educacional, o parque Judô. Na Casa Russa, trabalhava um ferreiro que forjava, aos olhos dos visitantes, moedas com os símbolos do campeonato. Foi recriado ainda o cotidiano de uma aldeia russa com uma cabra de verdade, um galo e coelhos. Todos os visitantes recebiam como presente um aromático chá servido diretamente de samovares (utensílios culinários de origem russa utilizados para ferver água e servir chá), enquanto um sanfoneiro tocava em um banco improvisado.
Marius Vizer, presidente da Federação Internacional de Judô, agradeceu os organizadores pelo alto grau de profissionalismo na preparação do campeonato e os convidados e participantes pela solidariedade manifestada "em um momento difícil para a comunidade mundial".
O passeio dos atletas
Os atletas passavam o seu tempo livre de maneiras diferentes. Os africanos ficaram encantados com o balé russo e com os passeios de bonde, enquanto os cubanos, nas horas vagas, seguiam para as lojas de produtos automotivos, a fim de comprar peças de reserva para seus Lada, automóveis populares em Cuba.
“O que mais me impressionou em Tcheliabinsk foi a hospitalidade e as pessoas bondosas”, disse Tsueshi, fotojornalista do Japão.
Foto: Tatiana Andréieva
Logo no primeiro dia da competição, Kiyoshi Uematsu, judoca espanhol campeão europeu de 2014, perdeu a carteira com dinheiro e documentos, e o mais importante, com a autorização para a entrada na arena de competições Trator. Aproveitando o tempo livre, o atleta decidiu ir às compras em um dos centros comerciais de Tcheliabinsk e não notou que havia deixado a carteira cair.
De acordo com o que a voluntária Anna informou aos jornalistas, depois de fazer as compras, o espanhol foi para o hotel sem desconfiar que os seus documentos haviam ficado no chão. A carteira sem dono foi encontrada por Mikhail Panov, um morador de Tcheliabinsk de 28 anos. Ao descobrir que dentro da carteira havia documentos em nome de um cidadão estrangeiro, ele mesmo começou a telefonar para os hotéis onde os participantes do Campeonato Mundial de Judô estavam hospedados.
Fuso horário e frio
Passeando pela principal rua de pedestres de Tcheliabinsk, Kírovka, o judoca argentino Alfredo Èffron contou que ao todo levou dois dias para chegar até os Urais – passou por Atlanta, Nova York e Moscou. Porém, uma vez no torneio, perdeu logo na primeira luta.
“Não, eu não lamento nem um pouco ter vindo até aqui”, disse o atleta. “Afinal, o esporte é isso e vou continuar lutando. E gostei muito de Tcheliabinsk, é uma bonita cidade! Visitei a igreja no centro histórico da cidade, visitei o Museu de História Regional, onde está o meteorito, e tirei uma foto para guardar de lembrança.”
Em Tcheliabinsk, os lutadores de judô britânicos se hospedaram no hotel Viktória. “Em nossa equipe há apenas quatro pessoas, mas todos estão determinados”, disse Sally Conway, que participou dos Jogos Olímpicos de Londres. “Chegamos com antecedência para termos tempo de nos adaptar, afinal existe uma diferença de fuso horário de cinco horas. Por exemplo, eu terei quase uma semana antes de me apresentar na competição. Não é a primeira vez que venho a Tcheliabinsk, já me apresentei aqui no Campeonato Europeu. Desde então, nada mudou: uma excelente arena, o mesmo povo amigável, um bom hotel”, continuou.
De acordo com a atleta, por enquanto ela não tem tempo de pensar em programas culturais e excursões pela cidade (os hóspedes foram convidados a visitar teatros, concertos de música clássica e balé). Como entretenimento, por enquanto, apenas os procedimentos do spa do hotel.
"Está tudo bem em Tcheliabinsk, só que é muito frio", queixou-se a brasileira Rafaela Silva, campeã do mundial realizado no Rio de Janeiro no ano passado, apesar do fato de que durante toda a última semana de agosto a temperatura durante o dia em Tcheliabinsk não ter caído abaixo de 25 ºС.
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