Ao contrário dos outros treinadores no Brasil, Capello também tem a tarefa de preparar uma equipe para o mundial de 2018, quando a Rússia sediará o evento Foto: RIA Nóvosti
Muitas vezes flertando com a Europa, mas nunca dedicando-se inteiramente a se tornar um país europeu, a Rússia optou por seguir seu próprio caminho. Algumas vezes, isso significou desafiar as potências mundiais; outras, uma vida na periferia da Europa, tanto em termos geográficos como sociais. E o mesmo tem sido verdade no esporte.
Salvo um breve florescimento na década de 1950 e 1960, quando a inovação tática e a organização de jogo ajudaram a conquistar sucesso europeu e olímpico, a União Soviética nunca integrou a elite do futebol mundial. Com bastante frequência, os soviéticos representavam a tela na qual mestres de algum outro país pintariam a história – a exemplo do mito Pelé, na vitória por 2 a 0 no mundial de 1958.
Uma coisa deve ser dita, contudo. Os soviéticos sempre foram um mistério, montando equipes com base em ligas que poucos estrangeiros acompanhavam, nas quais os jogadores eram, paradoxalmente, amadores em tempo integral financiados pelo Estado.
A União Soviética pode estar muito longe da realidade atual, mas parte desse mistério está voltando ao campo. A Rússia pode muito bem ser a única equipe na Copa do Mundo do próximo mês com uma seleção que é integralmente composta por jogadores que atuam somente em seu país de origem.
Embora o YouTube e as opções de transmissão global impeçam que a velha mística soviética retorne por completo, a primeira divisão russa está suficientemente longe do mainstream global, de modo que os seus jogadores serão relativamente desconhecidos das equipes adversárias. Por outro lado, as seleções que enfrentarão a Rússia na fase de grupos da Copa – Bélgica, Argélia e Coreia do Sul – têm estrelas que jogam nas superligas da Inglaterra, França e Alemanha.
Se estar ligeiramente fora do holofotes representa um potencial negativo para a Rússia, também poderá ajudar a equipe – isso significa que os russos estão menos familiarizados com a forma como os outros países jogam. É aí que o técnico italiano Fabio Capello, gênio tático e ex-treinador da Inglaterra, entra em cena. A aposta da Federação Russa de Futebol é que a sua experiência permita aos russos diminuir o vão entre o esporte praticado em casa e o cenário mundial.
Até então, tudo corre conforme planejado. A Rússia venceu nas qualificatórias, enfrentando seleções de peso como Portugal, para chegar à Copa do Mundo pela primeira vez em 12 anos. No Brasil, os russos têm pela frente um grupo relativamente fácil, aumentando as chances de cumprir a meta mínima de atingir as quartas de final. A Bélgica ressurgiu nos últimos anos e, como diz Capello, trata-se de “uma das melhores equipes da Europa”, além de ter uma dupla de espiões – os jogadores do Zenit de São Petersburgo, Nicolas Lombaerts e Axel Witsel –, que sabem exatamente como russos jogam.
Os sul-coreanos decaíram muito desde que chegaram às semifinais na Copa de 2002, enquanto a equipe da Argélia é, em grande parte, composta por jogadores que não conseguiram subir o degrau para a seleção francesa. É improvável que Capello subestime os argelinos, no entanto, já que essa seleção travou sua ex-equipe da Inglaterra em um frustrante empate sem gols na última Copa de 2010.
A Rússia iniciará a sua campanha na Copa em 17 de junho contra a Coreia do Sul, em Cuiabá. Cinco dias depois, será a vez de encarar a Bélgica no famoso estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. O último jogo da rodada será contra a Argélia na cidade de Curitiba, em 26 de junho.
Os jogadores russos demonstram consistência, embora não apresentem uma espetacular multifuncionalidade, e sua maior força é provavelmente a boa organização em campo – algo que ajudou por ter 17 dos 24 pré-convocados selecionados em apenas três clubes nacionais. O goleiro Igor Akinfeev vai trabalhar com os mesmos zagueiros com quem mantém parceria há quase uma década no CSKA Moscou, enquanto os meias do Zenit, Viktor Faizulin e Roman Shirokov, têm muita experiência em armar jogadas não só para o seu clube, como também para o atacante Aleksandr Kerjakov.
De um modo geral, o treinador italiano sempre favoreceu o pragmatismo em detrimento de talentos meteóricos durante seu tempo na Rússia. Exemplo disso é Alan Dzagoev, jogador do CSKA Moscou. Em seus dias de glória, Dzagoev pode ser um dos jogadores mais criativos e emocionantes do mundo, mas, em outros, pode desaparecer no fundo ou simplesmente ser expulso da partida em um de seus ataques kamikaze. E por isso Capello o deixou de escanteio. Claro que ele está no elenco, mas não há sinal de que será um jogador-chave no Brasil.
No ataque, também pode haver alguns problemas. Nem o veterano Kerjakov nem o extraordinário Aleksandr Kokorin têm se mostrado particularmente produtivos este ano, e as opções de substitutos são basicamente centroavantes convertidos. O peso-pesado das antigas Pável Pogrebnyak, que integra o time inglês Reading, estava entre os 30 pré-convocados, mas foi rapidamente excluído sem grandes explicações.
Ao contrário dos outros treinadores no Brasil, Capello também tem a tarefa de preparar uma equipe para o mundial de 2018, quando a Rússia sediará o evento. Para tanto, apenas sete dos atuais 24 têm mais de 30 anos de idade, com veteranos como ex-Arsenal, Andrêi Arshavin, e o lateral-direito do Zenit, Aleksandr Aniukov, deixados de lado sem cerimônias. E mais um jogador deve ser retirado dos atuais 24 colocados até 2 de junho, dez dias antes do início do torneio no Brasil.
A Rússia iniciará a sua campanha na Copa em 17 de junho contra a Coreia do Sul, em Cuiabá. Cinco dias depois, será a vez de encarar a Bélgica no famoso estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. O último jogo da rodada será contra a Argélia na cidade de Curitiba, em 26 de junho.
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