Russa é mais jovem medalhista de ouro das Olimpíadas de Inverno

A patinadora russa Iúlia Lipnitskaia venceu a competição por equipes dos Jogos Olímpicos de Sôtchi. A atleta conquistou o título com 15 anos e 249 dias de idade.

A patinadora russa Iúlia Lipnitskaia, que venceu a competição por equipes dos Jogos Olímpicos de Sôtchi, se consagrou como a mais jovem campeão da história dos Jogos Olímpicos de Inverno. A atleta conquistou o título com 15 anos e 249 dias de idade.

O recorde pertencia à americana Tara Lipinski, que conquistou o ouro em Nagano, em 1998, com 15 anos e 255 dias. A propósito, na véspera dos jogos de 2014, Lipinski disse em uma entrevista ao “New York Times” que poderia se esperar qualquer surpresa de Lipnitskaia, referindo-se principalmente à competição individual, onde a russa poderá ganhar o ouro que falta à equipe russa: o da patinação artística feminina.

O companheiro de equipe de Iúlia, Evgeni Pluchenko, que ganhou o seu primeiro campeonato mundial adulto quando Lipnitskaia não tinha ainda nascido, chamou-a de pequeno gênio. Elvis Stojko, que conquistou por duas vezes a prata olímpica –em Lillehammer e Nagano– escreveu em seu Twitter: "Iúlia Lipnitskaia pode se tornar a próxima superstar. Se ela se mantiver durante anos na patinação artística irá inspirar muita gente."

Fonte: YouTube

Primeiros Passos

Iúlia nasceu em Ekaterinburgo e aos quatro anos de idade começou a praticar patinação. Em 2009, sem grandes perspectivas no local, foi para Moscou para treinar com a jovem especialista Eteri Tutberidze. Lipnitskaia lembra que estava pronta para largar tudo se Tutberidze não a tivesse aceitado em seu grupo. Mas Tutberidze imediatamente disse que Iúlia poderia se tornar uma verdadeira campeã.

Na temporada 2011/2012, Lipnitskaia venceu todas as provas juvenis das quais participou, inclusive a final do Grande Prix e o campeonato mundial. No ano seguinte, foi duas vezes vencedora de modalidades já adultas do Grand Prix, mas foi forçada a se retirar das finais: se feriu com um corte no queixo e uma leve concussão num treinamento.

Idade transitória

Naquela altura, em 2012, Lipnitskaia teve que enfrentar os problemas da puberdade: um desafortunado aumento de altura e de peso.

A primeira treinadora de Iúlia, Elena Levkovets, recorda que, de novo, ela quis encerrar a carreira esportiva: "Ela não entendia o que estava acontecendo –onde colocar as mãos e colocar os pés. Nos treinos, ela não conseguia fazer tudo."

Quem pensaria que esta frágil garota vive uma luta diária contra o peso. Tutberidze não se cansa de admirar a tenacidade da sua pupila, que na escola de patinação é conhecida como "tantchiki" (diminutivo da palavra russa “tanque”, o mesmo que “tanquezinho”):

“Eu nunca me deparei com ninguém assim durante toda a minha carreira. Ela simplesmente não pode comer nada. Quando precisa perder peso, apenas toma fibras em pó para lhe dar energia. Mas, graças a Deus, dá conta do recado. Ela tem um caráter muito forte.”

Sem descanso

Quem assiste às performances de Lipnitskaia pode até pensar que ela executa com incrível facilidade essas piruetas surpreendentes que faz em espacate de absoluta verticalidade e pelas quais recebe quatro níveis superiores de dificuldade. No entanto, na vida esportiva de Lipnitskaia nada vem com facilidade.

"Se vocês soubessem o quanto eu tenho que trabalhar os alongamentos. Se eu parar tudo por dois dias que seja, eles ficam com a flexibilidade de madeira. Os músculos deixam logo de obedecer”, suspira Iúlia.

Ela é uma perfeccionista. Consegue ficar insatisfeita mesmo com a volta vencedora. Foi o que aconteceu depois da segunda apresentação olímpica: "Os saltos não eram os meus e a última rotação não ficou muito boa. Não consigo ainda me perdoar pelos os erros, talvez isso venha com a experiência e eu venha a conseguir, tal como Carolina Kostner, sorrir mesmo depois de uma queda em um Campeonato da Europa."

Tutberidze concorda com a aluna: "Ainda há trabalho a fazer. Iúlia ficou nervosa no meio do programa. Mas isso é normal, ela não é uma boneca de corda. Vamos corrigir todos os erros para a próxima apresentação."

O próximo start é a competição individual, que ocorrerá em 19 e 20 de fevereiro. Para escapar da euforia em torno da primeira medalha de ouro, se esconder dos olhares curiosos e admirados e conseguir treinar calmamente, Iúlia regressou no dia 10, junto com a treinadora, para Moscou, onde tem o ringue todo à sua disposição

As adversárias

O desejo de trocar a festiva atmosfera olímpica pelo silencioso ringue velho conhecido é perfeitamente compreensível. A medalha já conquistada é algo bom, mas ninguém eliminou a elevada competição que ela terá ainda que enfrentar em Sôtchi.

Às adversárias de Lipnitskaia não falta experiência ou medalhas. Entre elas está a italiana campeã do mundo em 2012 e cinco vezes campeã europeia Carolina Kostner e a japonesa a vencedora da prata nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010 e duas vezes campeã mundial (2008, 2010) Mao Asada, que a russa já venceu na competição por equipes. Está também na lista a coreana campeã dos Jogos Olímpicos de Vancouver e bicampeã mundial Yu Na Kim. E, finalmente, uma outra russa, Adelina Sotnikova, que ficou junto com Lipnitskaia no pódio do Campeonato da Europa em 2014.

É improvável, no entanto, que elas recebam agora apoio igual das arquibancadas.

“Eu fui muitas vezes avisada de que o público iria gritar e que eu nem mesmo a música conseguiria escutar. E que isso seria assim mesmo durante os aquecimentos, sempre e em toda parte. Em princípio, eu estava pronta para isso, mas não pensei que fosse realmente tão barulhento. Graças a Deus que isso ajudou”, diz Iúlia.


“O mais importante é que eu estou preparada e me sinto confortável no gelo: ele é bem lisinho e desliza bem, solta poucas partículas. Vou tentar continuar apenas a cumprir o meu trabalho. E só conseguirei me sentir campeã olímpica depois que terminem todas as competições.”

 

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