Depois do choque de terminar na 11ª posição em Vancouver-2010, a Rússia definiu o objetivo de conquistar a glória em Sôtchi Foto: AFP/East News
Foram sete anos e mais de US$ 50 bilhões para que a Rússia seja bem-sucedida em seu primeiro evento de grande porte. O que resta agora é colocar os espaços em uso. A grandiosidade da operação já garante que Sôtchi-2014 se torne tema de conversas por muitos anos.
Assim como a extravagância de Pequim-2008, o evento de Sôtchi foi acompanhado pelo governo em todas as etapas. Marcado por ambiciosos projetos arquitetônicos e impulsionado pelo capital dos recursos naturais – em meio a denúncias de corrupção e ao desespero dos organizadores para impressionar a comunidade internacional –, o evento é um “avatar nacional”.
O desafio corresponde ao objetivo do presidente Vladímir Pútin de restaurar o peso e a credibilidade da Rússia, perdidas após o fim da União Soviética. Para ter ideia do alcance do projeto, basta lembrar que esses Jogos Olímpicos de Inverno acontecerão em uma região subtropical. Só a estrada que conecta os locais de competição nas montanhas custou quase a mesma quantia do evento inteiro de Vancouver em 2010.
Locais de competição
O espectador presente no Estádio Olímpico Fisht terá uma visão completa de Sôtchi-2014 em dois planos espetaculares: de um lado da arena estão as montanhas cobertas de neve do Cáucaso; do outro, o mar Negro.
Essas duas imagens resumem a filosofia de Sôtchi-2014, a primeira Olimpíada de Inverno a dividir os locais de competição em dois complexos separados. Trata-se de uma tentativa consciente de replicar o burburinho da Vila Olímpica de cidades que sediaram Jogos Olímpicos de Verão.
Localizado à beira-mar, o estádio Fisht fica próximo aos locais de competição de hóquei, patinação e curling, em um parque costeiro projetado para o evento. Uma série de estações de esqui pontuam os cumes das montanhas ao redor. As locações são um lembrete dos planos da cidade de se tornar tanto um resort de praia como uma base para esportes de inverno.
Os preparativos para o evento foram conduzidos com tranquilidade, apesar da corrida para finalizar o estádio Fisht, que só receberá as cerimônias de abertura e encerramento. Um ano atrás, os organizadores ficaram assustados ao observarem o derretimento de neve em algumas montanhas durante os testes. Mas as preocupações praticamente sumiram. Recentes nevascas contribuíram para formar uma grossa manta de gelo ali. A exemplo de Pequim-2008, o esquema de segurança foi reforçado – haverá o dobro de policiais em comparação a Londres-2012. Protestos estarão limitados uma pequena cidade a 13 quilômetros dos locais de competição.
Hóquei no gelo
O hóquei masculino é o principal evento de qualquer Olimpíada de Inverno. Mas neste ano tem um significado ainda maior para o anfitrião. Sem medalhas de ouro desde os tempos soviéticos e com uma torcida barulhenta, a equipe russa está sob pressão.
Ela certamente tem todos os ingredientes para a vitória, com o poder de fogo dos jogadores Alex Ovechkin, Evguêni Malkin e Iliá Kovaltchuk, que vêm jogando em quadras de tamanho olímpico durante a atual temporada em São Petersburgo. “É uma equipe poderosa”, disse o comentarista canadense Tony Ambrogio à Gazeta Russa. “Resta ver o quão rápido eles irão se entrosar e como lidarão com a pressão.” O desafio dos russos será a seleção canadense.
Patinação artística
A modalidade não mantém o status de sua época áurea, nos anos 1990, mas promete voltar com tudo em Sôtchi-2014. Os torcedores da América do Norte têm motivos para vibrar com as atuações do patinador canadense Patrick Chan, detentor do recorde mundial masculino, e do veterano americano Jeremy Abbott.
A equipe russa tem chances de conquistar três medalhas de ouro. A campeã Yuna Kim e a dupla Tatiana Volosojar e Maksim Trankov são boas apostas.
Esqui alpino
O evento contará com a participação da americana Mikaela Shiffrin, que, apesar de ter apenas 18 anos, carrega o titulo de campeã mundial, e marca a despedida da lenda Bode Miller, aos 36 anos. A grande promessa das pistas na categoria masculina é o austríaco Marcel Hirscher. Os 36 mil habitantes de Liechtenstein torcem para que Tina Weirather possa levar a sua bandeira ao pódio pela primeira vez em 26 anos. E ela possui “pedigree”, já que os membros de sua família conquistaram seis medalhas olímpicas na história do evento.
Curling
Desde que esse esporte, supostamente criado na Escócia medieval, entrou para a programação olímpica em 1998, sua popularidade disparou. Idiossincrático como só um jogo envolvendo uma vassoura poderia ser, o curling é um contraponto ao ritmo frenético dos esportes de Sôtchi-2014. “Creio que a competição vai ser mais acirrada do que os torcedores de curling norte-americanos imaginam”, diz o comentarista escocês Thomas Edmunds. Para ele, Suécia, Noruega e Reino Unido serão os principais adversários do campeão Canadá no masculino, enquanto o time feminino britânico “se mostra em sua melhor forma”.
As russas venceram os campeonatos europeus em 2012, mas com atuação inconsistente. Fora das pistas e quadras, elas mostram personalidades envolventes. Anna Sidorova é uma especialista em RP dedicada a acabar com a imagem das atletas de curling como “garotas bonitas agarradas a vassouras e que limpam bem o chão de casa”. Sua colega Kira Ezekh é uma das poucas atletas negras tanto na seleção russa como no universo do curling. A Rússia “nunca deve ser descartada”, diz Edmunds. “Mas não creio que será medalha de ouro.”
Bolas da vez
Um dos esportes mais novos incorporados à programação de Sôtchi-2014 é o
slopestyle, modalidade do snowboarding e esqui com manobras sobre caixas, trilhos e rampas. O esporte vai integrar o programa de estilo livre. Até os maiores fãs de esportes de inverno podem se surpreender ao ouvir que demorou até 2014 para a categoria feminina de saltos de esqui se tornar esporte olímpico. A japonesa Sara Takanashi é a favorita ao primeiro ouro da modalidade. Halfpipe de esqui, revezamento misto de biatlo e luge em equipe estão entre os estreantes nas Olimpíadas.
Equipe russa como nunca antes
Depois do choque de terminar na 11ª posição em Vancouver-2010, a Rússia definiu o objetivo de conquistar a glória em Sôtchi. Grandes quantias foram injetadas em esportes pouco comuns no país e legiões de treinadores foram importadas – e até atletas estrangeiros. O patinador de velocidade Ahn Hyun-Soo, que já conquistou três medalhas de ouro em Olimpíadas, imigrou da Coreia do Sul e agora se chama Viktor Ahn. Nas pistas, uma dupla pouco comum composta por um casal de verdade está entre as promessas de medalha no snowboarding.
Da patinação artística no Cluster Costeiro às descidas pelas montanhas de Roza Khutor, evento têm atrações para todos os gostos.
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