O que leopardo, urso e lebre têm a ver com Sôtchi-2014?

Em fevereiro de 2011, o leopardo, o urso branco e a lebre foram finalmente selecionados como os mascotes dos Jogos Olímpicos de Sôtchi-2014 Foto: PhotoXPress

Em fevereiro de 2011, o leopardo, o urso branco e a lebre foram finalmente selecionados como os mascotes dos Jogos Olímpicos de Sôtchi-2014 Foto: PhotoXPress

O mascote de uma Olimpíada não é apenas um desenho, mas uma mensagem que o país anfitrião transmite para o mundo. Entenda o processo de seleção e simbologia por trás dos mascotes das Olimpíadas de Inverno.

A primeira votação para os mascotes das Olimpíadas de Sôtchi foi organizada em 2008, quando o golfinho esquiador da artista Olga Beliaeva venceu a disputa. No entanto, a escolha foi esquecida e depois adiada pelo comitê organizador. Dois anos mais tarde, o concurso nacional foi novamente lançado.

A competição oficial, que contou com a participação de profissionais e amadores, foi incrementada com a votação de internautas. Na época, o favorito foi o anfíbio sem rabo “Zoych”, produzido pelo designer moscovita Igor Jgoon. Mas o júri, que incluía artistas famosos do país, ignorou a escolha do público e sequer incluiu o símbolo eleito entre os finalistas.

Entre os finalistas restaram, então, Ded Moroz (“Papai Noel russo”), ursos pardo e polar, leopardo, lebre, sol, menino de fogo, menina de neve, matriochkas (bonequinhas de madeira) e golfinho. Antes da votação, o júri excluiu o Papai Noel, alegando que o símbolo deveria ser inédito, já que os direitos transferidos para o Comitê Olímpico Internacional.

Em fevereiro de 2011, o leopardo, o urso branco e a lebre foram finalmente selecionados como os mascotes dos Jogos Olímpicos de Sôtchi-2014, assim como o raio e o floco de neve viraram os símbolos das Paralímpíadas.

Urso carinhoso

Foto: RIA Nóvosti

Após a escolha, muitas pessoas não entenderam por que havia tantos símbolos se a Olimpíada tem o objetivo de unir, e não dividir. Para esclarecer as dúvidas, a Gazeta Russa entrou em contato com Victor Tchijikov, ilustrador infantil e criador do famoso urso Misha, mascote dos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980.

“O urso russo era associado a algo negativo”, disse Tchijikov, “mas graças ao meu mascote, a atitude em relação a esse personagem mudou”. Segundo ele, os símbolos têm que refletir não só um evento, mas trazer ao mundo uma informação positiva sobre o país. “Nesse sentido, um grande número de símbolos pode apenas dividir a atenção”, explicou.

Nas Olimpíadas de Inverno de Salt Lake City-2002, por exemplo, os organizadores também recorreram a mais de um mascote e selecionaram a lembre, o coiote e o urso.  “É bom que pelo menos os animais podem representar traços emocionais. Os animais podem ser antropomórficos, é possível atribuir-lhes a expressão facial humana, com emoção própria”, acrescentou o ilustrador.

Entre esporte e ideologia

Os observadores nacionais têm opiniões diferentes sobre os mascotes de Sôtchi, contudo. O famoso designer russo Erken Kaganov acredita que a solução visual da Olimpíada atual é eclética, porém fraca. “As soluções simpáticas, junto com a quantidade exagerada de símbolos inadequados, dão a sensação de que não havia diretor artístico ou de que vários não conseguiram chegar a um consenso”, critica.

Anna Novikova, professora da Escola Superior de Economia, acredita que o material gráfico atual não é pior do que o dos jogos anteriores e garante que é preciso ver os jogos dentro de um contexto mais amplo. “Cada símbolo tem o seu próprio caráter, em conformidade com a narrativa da cultura mundial”, argumenta.

Mesmo assim, Novikova aponta que os mascotes de Sôtchi-2014 não possuem nenhum aspecto irônico e que não há conflito capaz de dar margem para interpretação. “Nossos símbolos também são excessivamente fabulosos e brilhantes”, critica.

Ao compará-los com o urso das Olimpíadas de 1980, a designer ressalta que, naquela época, a ideologia estatal era perceptível na simbologia e coordenação dos eventos públicos. “O objetivo de fazer um espetáculo e mostrar ao mundo que somos os melhores não fica claro pelos mascotes atuais”, conclui. 

 

Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies