Atleta russa Serafima Safónova conquistou o ouro no “belt wrestling” Foto: RIA Nóvosti
Na última terça-feira, a atleta russa Serafima Safónova conquistou o ouro no “belt wrestling” (luta livre de cintos) na Universíada de Kazan.
Historicamente conhecido como “kerechu" ("ker", em turco significa, "rico, corajoso”), a modalidade não tornou-se apenas um esporte nacional, mas também um cartão de visita dos povos turcos que vivem no território da Rússia.
Este ano, ele foi incluído pela primeira vez no programa de um grande evento esportivo –a Universíada. Por que um esporte popular na República Russa da Tchuváchia, mas pouco conhecido em Moscou e no exterior, conquistou os corações dos povos turcos e do presidente Vladímir Pútin?
Enrolando faixas nas palmas das mãos, abraçando com ele a cintura do adversário, o lutador deve, com um lance, derrubar o oponente de costas, mas conseguir manter-se em equilíbrio. O lance é executado corretamente quando ambos os pés do adversário são arrancados do chão e ele cai no tatame apoiado nas espáduas. As regras da luta variam ligeiramente dependendo da região. Como regra geral, o “kerechu” dos tchuvaches e dos cazaques inclui o ativo trabalho das pernas, já os tártaros não usam essa técnica.
O “kerechu”, como qualquer tipo de luta, é cruel. Não é raro atletas ficarem com traumas graves após uma luta. Muitos treinadores acreditam que o principal no “kerechu” é aprender a cair corretamente. Elvir Karimov, lutador experiente, explica:
"Nós não brigamos, lutamos com a finalidade de nos sentir mais fortes, mais rápidos, mais hábeis do que os outros e também para sentir a adrenalina no sangue.”
Quanto às brigas de rua, os atletas afirmam evitar.
“Os lutadores do ‘kerechu’ são pessoas calmas, pacíficas, tranquilas, modestas e justas", diz Aleksandr Lesnikov, treinador e juiz da modalidade.
A época exata do surgimento do esporte permanece desconhecida. Historicamente, as competições eram realizadas em casamentos, grandes feiras e outras festividades.
Um desses eventos era o Festival de Primavera, dedicado à agricultura dos tchuvache Akatui. Nas aldeias, os homens esperavam impacientemente pela festividade. Desde a infância, os adultos contavam às crianças sobre as táticas usadas e treinavam com elas. Os primeiros a competir eram os meninos, seguidos pelos jovens e pelos adultos.
Todos os lutadores obrigatoriamente competiam com o peito nu, em pé, com os pés descalços no chão. Acreditava-se que a terra daria força ao homem. A luta simbolizava os confrontos das forças do mal e do bem. Essa filosofia se refletiu também nos atributos externos da competição. O primeiro que for chamado para o tatame usará um cinto vermelho, simbolizando o mal; seu adversário ganhará o preto, personificando o bem. Os atletas competem vestindo calças brancas, que simbolizam a pureza celestial e a serenidade.
Antigamente, o vencedor ganhava um carneiro, além do título de "Pattar”, que em turco significa "homem forte". E os lutadores derrotados muitas vezes iam tentar a sorte em competições realizadas em outras aldeias e vilas.
No inicio dos anos 1990, o lutador Nikolai Petrov iniciou a criação de regras unificadas para o “kerechu”. Além disso, procurou levar as informações sobre esse esporte até os jovens. Juntamente com os seus colegas, visitava escolas, explicava as regras para as crianças e mostrava, usando exemplos pessoais, as vantagens e as desvantagens da luta.
Em 1995, foi realizada a primeira competição da modalidade na República da Tchuváchia. Dezenove atletas participaram. Em 2006, o “kerechu” foi reconhecido como esporte nacional do povo Tchuvache. E o primeiro campeonato oficial na Rússia foi realizado em 12 de abril deste ano, em Tcheboksari.
Atualmente, as competições são realizadas em sete regiões da Rússia. Também foram criadas uma federação russa e uma internacional para a modalidade.
Em fevereiro de 2013, o presidente Pútin declarou a necessidade da inclusão de esportes tradicionais como “kerechu” ou “mas-wrestling” (esporte nacional do povo Iakut, em que uma vara é puxada pelos oponentes) no programa olímpico. Enquanto isso, os lutadores profissionais de “kerechu” estão satisfeitos com a participação na Universíada de Kazan.
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