Por que os malandros foram apelidados de gopniks na Rússia?

Russia Beyond (Foto: Pavel Bardin/Leopolis, 2010; Domínio público)
A que tudo indica, o termo provém de uma abreviação e tem ligação com a Revolução de 1917.

"Antes mesmo do surgimento da alta tecnologia, eu fazia pagamentos usando meu celular algumas vezes", dizem os russos brincando na internet. Os jovens dos anos 1990 e início dos anos 2000 entendem imediatamente a piada: na época, os “gopniks” ameaçavam as pessoas comuns e roubavam em ruas escuras seus telefones celulares — um bem ainda escasso na época — e outros objetos de valor ou apenas dinheiro. Na língua russa, esses ataques são conhecidos como "gop-stop".

De onde vêm as palavras "gop" e "gopnik"?

De acordo com o "Dicionário Explicativo da Grande Língua Russa Viva", compilado pelo lexicógrafo e folclorista russo Vladimir Dal e lançado entre 1863-1866, "gop" significa "salto, salto ou golpe". Mas em um pequeno dicionário de gírias do mundo do crime compilado por Dal na década de 1850 (o "Jargão dos Trapaceiros de São Petersburgo, conhecido como música ou baetilha dos ladrões", ou, em russo, “Uslovni iazik peterburgskikh mochennikov izvestni pod imenem muziki ili baikovogo iazika”) o verbo "gopat" significa "dormir na rua".

Crianças desabrigadas.

Este significado corrobora com a explicação mais popular da origem das palavras "gop" e "gopnik", que seria relacionado à entidade GOP (abreviatura de “Gosudarstvennoie Obschestvo Prizora”, ou seja, “Sociedade Estatal de Prestação de Cuidados”), em São Petersburgo.

No final do século 19, a entidade foi instalada em um dos edifícios que antes abrigara o elegante hotel Znamenskaia (hoje, hotel Oktiabrskaia), no centro da cidade, em frente à Estação de Trem Moscou. Ela funcionava como orfanato para crianças pobres e jovens que haviam cometido delitos.

Hotel Znamenskaia.

Após a Revolução de 1917, o edifício foi nacionalizado, mas manteve sua função e a abreviatura — apesar da mudança no nome para Gosudarstvennoie Obschejitie Proletariata (Alojamento Estatal do Proletariado). O único detalhe é que, na década de 1920, a maioria de seus moradores eram crianças sem-teto, e não trabalhadores.

A guerra civil, as epidemias e vários anos de uma terrível fome levaram muitas crianças a ficarem desabrigadas por vários anos, e elas eram as moradoras deste albergue para os sem-teto que se autodenominavam GOPniks. Totalmente desestabilizadas, elas acabavam se envolvendo em pequenos furtos, vandalismo e roubos, e levavam adiante a má fama da área de Ligovka, em São Petersburgo, onde o albergue estava.

Área de Ligovka.

Da praça em frente à estação para os subúrbios

Na época, Ligovka era considerada a área mais perigosa e decadente de Leningrado. Era frequente vê-la em boletins de ocorrência como cenário de crimes que chocaram o país, fossem estupros coletivos ou ataques brutais a inspetores de polícia.

Menino pega rabeira em bonde de Leningrado, 1928.

Paulina Onuchonok, a primeira mulher a chefiar um departamento de polícia na URSS, foi quem conseguiu erradicar o crime da área de Ligovka. Ela também resolveu o problema da delinquência juvenil e dos sem-teto entre as crianças da cidade e do país: acredita-se que foi por iniciativa dela que, em 1935, foram instalados quartos para menores delinquentes na polícia, que passou a realizar trabalhos educativos com os pequenos infratores.

Assim Paulina Onuchonok conseguiu restaurar a reputação de Ligovka. Quanto aos “gopniks”, com o tempo eles "migraram" do centro da cidade para a periferia, para os chamados “bairros dormitórios”.

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