Na última sexta-feira (4), a Petrobras anunciou que chegou a um acordo com o grupo russo Acron, que fabrica fertilizantes, para a venda de 100% de sua Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III), no município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul.
As negociações sobre a venda da fábrica, com capacidade de mais de 2 milhões de toneladas de fertilizantes nitrogenados por ano, duraram mais de quatro anos.
Segundo especialistas, a UFN-III, que ainda está em fase de construção, tem uma capacidade potencial de 0,8 milhão de toneladas de amônia e 1,3 milhão de toneladas de ureia.
Os especialistas nesse mercado entrevistados pelo jornal econômico russo Kommersant acreditam que a empresa russa poderá comprar o ativo com grande desconto, porque ainda terá que investir muito na finalização da construção da planta e encontrar fornecedores de matérias-primas para futura produção.
Os economistas consideram o ativo promissor devido ao tamanho do mercado brasileiro. Após a publicação da notícia sobre o fechamento do acordo com a Petrobras, as cotações da Acron na bolsa de valores saltaram para um máximo histórico.
O presidente do conselho de administração do grupo Acron, Aleksandr Popov, declarou ao jornal Kommersant que as negociações ainda estão em andamento, e as partes pretendem discutir os termos finais do acordo durante a visita do presidente brasileiro Jair Bolsonaro à Rússia entre 14 e 17 de fevereiro. O grupo Acron, porém, é o único candidato à aquisição do ativo brasileiro. Popov não divulgou o valor do acordo.
A Petrobras esclarece que a assinatura do contrato de venda depende ainda de tramitação na governança da Petrobras, após as devidas aprovações governamentais.
A UFN-III está em construção há mais de uma década e está quase 80% concluída. A fase ativa de construção se iniciou em 2011. Mas, três anos depois, o projeto foi congelado e, desde 2017, a Petrobras está em busca de possíveis investidores. Em 2018, a Acron já negociava a compra desse ativo, além de outra usina estatal, a Ansa, com capacidade para produzir 475 mil toneladas de amônia e 720 mil toneladas de carbamida, inaugurada em 1982. Mas, segundo Popov, a parte brasileira não ficou satisfeita com a oferta do grupo Acron.
Naquele momento, especialistas estimavam o custo de ambas as usinas em US$ 1 bilhão, mas o comprador devia receber um desconto significativo devido aos problemas com a construção da UFN-III. Desde então, os custos de construção subiram e, agora, só a UFN-III pode custar cerca de US$ 1,3 bilhão.
Segundo Kommersant, os riscos da compra do ativo brasileiro hoje incluem a baixa qualidade de trabalhos de construção, a corrosão devido ao clima local e uma possível escassez de peças da usina, cuja produção pode levar muito tempo.
O grupo Acron não é a primeira empresa de fertilizantes russa no mercado brasileiro. A empresa química russa EuroChem construiu três plantas de fosfato no Brasil e comprou uma da norueguesa Yara por US$ 410 milhões. Além disso, em 18 de janeiro, o Conselho Administrativo de Proteção Econômica (CADE) do Brasil permitiu que a maior empresa de fertilizantes russa, a Uralkali, comprasse a UPI Norte, acionista da maior distribuidora de fertilizantes do país, a FertGrow S.A.
O economista do banco Raiffeisenbank, Serguêi Garamita, disse ao Kommersant que a UFN-III é um ativo interessante, porque o Brasil é um dos principais consumidores e importadores de carbamida do mundo. Segundo ele, o volume de produção da nova planta de carbamida no Brasil é comparável à produção atual desse tipo de fertilizante do próprio grupo Acron.
De acordo com o economista Leonid Khazanov, a importação brasileira de fertilizantes nitrogenados é de aproximadamente 9 a 10 milhões de toneladas por ano. Segundo ele, o grupo Acron terá que investir até US$ 200 milhões para iniciar a produção da nova fábrica no Brasil.
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