Como o coronavírus está afetando a economia russa?

Economia
EKATERINA SINELSCHIKOVA
Voos cancelados, importações de alimentos suspensas e preço do petróleo em queda – eis um breve resumo das consequências do surto de coronavírus até o momento.

No último dia 30 de janeiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de coronavírus como uma emergência de saúde global. No mesmo dia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) admitiu que o surto afetaria toda a economia global. Quanto à Rússia, a disseminação do vírus, contra a qual ainda não há vacina, terá inevitável impacto: a China responde por mais de 12% de todas as exportações russas. A única questão é quão prejudicial será esse efeito. Veja aqui que se sabe até agora.

Petróleo e rublo entram em queda 

Os preços do petróleo foram os primeiros a reagir, uma vez que a China é um dos maiores consumidores da commodity. A demanda por combustível na China caiu, e os preços em dólar do petróleo entraram em colapso. Em janeiro, o petróleo tipo Brent caiu 12,6%, enquanto o petróleo tipo Urals apresentou uma queda no valor tanto em dólar como em rublo. Em 10 de fevereiro, o petróleo tipo Urals atingiu o menor nível em dois anos, sendo comercializado abaixo de 3.400 rublos (US$ 56) por barril. Esse preço já está abaixo do valor registrado no orçamento federal.

Como resultado, a taxa de câmbio do rublo mudou, embora ainda não de forma crítica: desde o início de janeiro, a moeda russo perdeu 3,35% em relação ao dólar.

Varejistas se recusam a comprar alimentos chineses

A Rússia compra anualmente US$ 50 bilhões em mercadorias da China; desse montante, quase metade são importações de carros, computadores e smartphones. Até então, as empresas russas não receberam notificação de atrasos nas entregas da China.

Quanto aos produtos alimentares chineses, a participação no mercado russo não passa de 2%. Os principais produtos alimentares importados são gengibre, alho, tomate, pimentão, tangerina, uva e pomelo, mas, de acordo com os varejistas, eles podem ser facilmente substituídos por importações de outros países.

Em 3 de fevereiro, uma das principais redes de varejo russas, a Magnit, anunciou que deixaria de importar frutas e vegetais da China devido ao risco de disseminação do vírus e às complicações adicionais em termos de logística. Em vez da China, a empresa importará, por enquanto, frutas e legumes da Turquia, Israel e Marrocos. Outro grande varejista, o X5 Retail Group, também revelou estar procurando novos fornecedores. Lenta e Metro não têm planos de suspender as entregas da China, enquanto os demais varejistas (como Ashan ou Diksi) não comentaram a situação.

O problema, no entanto, é que a maioria dos suprimentos chineses segue para o Extremo Oriente e o Distrito Federal da Sibéria – regiões que dependem muito das importações – e as prateleiras dos mercados já estão vazias. Segundo a imprensa local, pepinos e tomates tiveram um aumento acentuado de preço, e os mercados em Vladivostok, Khabarovsk e Ussurisk enfrentam a escassez de alguns tipos de produtos. Nesse cenário, as bananas se tornaram a primeira “vítima” do coronavírus em Vladivostok – com o boato de que as frutas estariam infectadas (apesar de terem chegado do Equador), as bananas simplesmente apodreceram nas prateleiras.

Setor turístico pode perder US$ 100 milhões

Esta é a previsão da Associação de Operadores Turísticos da Rússia para o período de janeiro a março de 2020, diante das medidas de quarentena impostas após o início do surto. Como a China era o maior ‘exportador’ de turistas para a Rússia, o país está perdendo agora, pelo menos, 1,3 milhão de turistas chineses.

As conexões aéreas com a China foram parcialmente suspensas desde 1º de fevereiro: agora existem apenas quatro rotas, operadas pela Aeroflot e seus parceiros, para Pequim, Guangzhou, Xangai e Hong Kong. Mas, ao que parece, não se espera que as perdas no setor sejam tão grandes: segundo a analista da VTB Capital Elena Sakhnova, as rotas chinesas respondem por apenas dois milhões de passageiros ao ano de um total de quase 130 milhões anuais. Para a Aeroflot, maior companhia aérea da Rússia, isso representa 4% do volume de passageiros e 5% da receita da empresa.

Demanda por máscaras aumenta em 220%

Até agora, são as empresas farmacêuticas e as farmácias que ganharam com a situação. As vendas de alguns produtos e medicamentos antivirais aumentaram vertiginosamente – como não há cura para o coronavírus, as pessoas saem e compram o que podem levadas pelo princípio de “tentar de tudo e qualquer coisa”. Por exemplo, de acordo com o operador de dados fiscais OFD Platform, as vendas de máscaras cirúrgicas aumentaram em 220% desde o começo da crise. 

E o que esperar pela frente?

Até agora, o impacto do vírus da China não é considerado ‘desastroso’ na Rússia. Apesar das atuais consequências adversas, Guêrman Gref, diretor do maior banco da Rússia, o Sberbank, descreveu-as como “não muito significativas”.

No entanto, tudo pode mudar se for impossível brecar o vírus e a situação atual se prolongar. Se isso ocorrer, a expectativa é de tempos difíceis para a economia russa: a Câmara de Auditoria da Rússia prevê sérias conseqüências. Eis aqui apenas um exemplo: o fabricante de automóveis Nissan já alertou que suspenderá a produção de veículos na Rússia em março, se as fábricas chinesas de peças automotivas continuarem paradas após 17 de fevereiro.

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