No último sábado (2), uma das regiões mais remotas do país, Kamtchatka, a 6.760 quilômetros a leste de Moscou, foi parar nas manchetes depois de agentes do Serviço Federal de Segurança (FSB, na sigla em russo) invadirem um armazém clandestino e descobrirem 25 toneladas de caviar extraído ilegalmente, no valor de US$ 1,2 milhão.
O alimento aprendido foi totalmente destruído, seguindo as normas da legislação nacional. As cenas deixaram muitos russos impressionados, já que a grande maioria dos habitantes do país sequer pode pagar pela iguaria. Mas o FSB garante ter motivos.
Caixão cheio de caviar
A extração ilegal de caviar e sua posterior venda no mercado negro é um negócio em expansão em regiões da Rússia onde há abundância de salmão-cão e esturjão europeu – duas espécies de peixes que põem ovos vermelhos e pretos.
Com a queda dos volumes de captura durante a época de desova e o aumento constante dos preços, o negócio ilícito tornou-se tão lucrativo que o FSB, normalmente encarregado de perseguir terroristas e operações de contrainteligência, foi obrigado a atuar.
Em outra apreensão no Extremo Oriente russo, a polícia de trânsito parou um carro funerário ao perceber que havia algo estranho e descobriu 551 quilos de caviar preto escondido dentro de um caixão. O contrabando havia sido registrado como cadáver, e o valor estimado da venda posterior passada dos R$ 225 mil. Mais uma vez, todo o alimento foi destruído; o motorista recebeu uma multa alta e teve a habilitação suspensa.
Preço alto estimula baixa qualidade
Não se sabe a quantidade exata de caviar que é produzido ilegalmente a cada ano, mas os especialistas estimam que representa metade do mercado na Rússia.
“A capacidade anual do mercado legal de caviar preto na Rússia pode ser estimada em cerca de 19 toneladas”, diz um estudo de 2012 (link em russo) realizado pela Agriconsult, empresa especializada em serviços de consultoria em setores alimentares e agrícolas.
Um estudo alternativo realizado pelo Alto Consulting Group em 2016 estimou (link em russo) a produção anual de caviar é de 9,6 toneladas.
O rápido declínio da produção de caviar tem empurrado os preços para o teto: de 2014 a 2017 o produto teve uma alta de 45%.
Com aproximação da temporada de Ano Novo, as latas de 100 gramas de caviar preto saem de R$$ 275 a R$ 325 nos mercados de Moscou. Os mesmos 100 gramas de caviar vermelho são vendidos a cerca de R$ 25 a R$ 32 na capital.
No Extremo Oriente, as regras são radicalmente diferentes. Locais vendem caviar para passageiros nas estações de trem em quantidades muito maiores, não contabilizadas. Embora as autoridades alertem as pessoas contra a compra de caviar sem selo de origem e produção, para a população local é difícil resistir à oferta.
Diversos relatórios sobre caviar de má qualidade produzido por empresas no Extremo Oriente – onde famílias ganham a vida vendendo ovos de peixe ornamentais – não assusta potenciais compradores, e incontáveis quilos de caviar não certificado deixam a região e se espalham por todo o país (e sobre os blíni Rússia afora).