A política russa na Nova Rota da Seda

Em discurso na abertura do fórum, Pútin ressaltou “a importância de Moscou para Pequim”

Em discurso na abertura do fórum, Pútin ressaltou “a importância de Moscou para Pequim”

Reuters
A exemplo de Pequim, interesse de Moscou no projeto vai além de fatores econômicos. Apesar de importância da iniciativa, fórum recente demonstrou que, por enquanto, as relações comerciais entre os países não sofrerão grande impacto.

Nos dias 14 e 15 de maio, Pequim sediou o 1º Fórum da Nova Rota da Seda, com a participação de 29 líderes nacionais, entre eles o da Rússia. Embora o país seja considerado um dos principais parceiros e promotores da iniciativa, por enquanto, não há resultados práticos da cooperação russo-chinês no âmbito desse projeto.

“Grande Eurásia” de Moscou

Os benefícios da Nova Rota da Sede para a Rússia são, sobretudo, políticos, segundo Aleksandr Gabúiev, diretor do programa da Rússia na região Ásia-Pacífico, do Centro Carnegie. “Em um discurso na cerimônia de abertura, após Xi Jinping, Pútin salientou a importância de Moscou para Pequim”, disse Gabúiev à Gazeta Russa.

Do ponto de vista do Kremlin, a oportunidade de Pútin falar em um evento internacional sobre o projeto da “Grande Eurásia” e promover a Rússia como um parceiro igualitário da Rota foi o principal resultado para Moscou.

“Cabe lembrar que a ‘Grande Eurásia’ é uma importante ideia de cooperação internacional anunciada por Pútin no ano passado, durante o Fórum Econômico de São Petersburgo”, acrescentou Gabúiev.

Até agora, o único resultado concreto da Nova Rota para Moscou é a criação do Fundo de Investimento China-Rússia para Desenvolvimento Regional da Cooperação, que irá promover parcerias entre o nordeste chinês e o Extremo Oriente russo.

Presidentes chinês Xi Jinping e russo Vladímir Pútin (centro) antes de foto de grupo do fórum (Foto: Reuters)Presidentes chinês Xi Jinping e russo Vladímir Pútin (centro) antes de foto de grupo do fórum (Foto: Reuters)

As autoridades da porção oriental da Rússia demonstram, no entanto, desconfiança em relação aos investidores chineses, o que dificulta a cooperação com empresas do país vizinho. Ao término do fórum, Pútin reforçou “que não há razão para temer que as empresas chinesas assumam o comando da economia russa”.

A discussão detalhada das questões econômicas da cooperação bilateral foi adiada para a próxima visita do presidente Xi Jinping a Moscou, que ocorrerá em julho. “É um pecado não aproveitar as oportunidades dessa cooperação”, concluiu Pútin.

Propaganda para China

Em entrevista à Gazeta Russa, o pesquisador sênior do Centro de Estudos da Organização para Cooperação de Xangai, da universidade Migmo, Ígor Deníssov, descreveu o fórum como “a primeira experiência da China organizando uma plataforma global, com várias autoridades, para discutir uma grande iniciativa sua”.

Durante o evento, o presidente chinês Xi Jinping aludiu ao papel universal da iniciativa no desenvolvimento internacional e apresentou dados promissores: um investimento de US$ 14,5 bilhões na Rota da Seda; US$ 55 bilhões de suporte ao Banco de desenvolvimento da China e o Banco de Exportações e Importações (Exim), ambos estatais; e 113 bilhões adicionais para financiar projetos de infraestrutura.

O fórum e a iniciativa da Nova Rota da Sede podem ser considerados triunfos de Xi Jinping meses antes do mais importante evento político na China – o 19º Congresso do Partido Comunista Chinês, em outubro.

Em discurso, Xi Jinping chamou participantes a brindar Nova Rota (Foto: Reuters)Em discurso, Xi Jinping chamou participantes a brindar Nova Rota (Foto: Reuters)

Nova rota de negociação

Em 2015 a Rússia e a China assinaram um acordo de cooperação entre a União Econômica Eurasiática (UEE) e a Nova Rota da Seda. O resultado foi o início das negociações para a criação de uma zona de comércio livre entre UEE e China.

Em termos de relações bilaterais, Moscou é percebida por Pequim como um dos parceiros mais ativos na Rota da Seda, mas não há muitos projetos concretos. Entre os mais expressivos estão um contrato de gás entre a Gazprom e a Corporação Nacional de Petróleo da China (2014), o investimento do Fundo da Rota da Seda em Sibur e no projeto Iamal GNL (2015) e a estrada da Europa Ocidental ao ocidente da China.

Os investidores chineses tem demonstrado maior exigência em relação aos projetos que financiam. Em 2016, o investimento total das empresas chinesas nos países do Nova Rota caiu pela primeira vez em três anos – 8,5% do investimento total das companhias na China, dos 12,6% registrados em 2015.

O empresariado chinês também demonstra ceticismo quanto às vantagens econômicas da Nova Rota da Seda. Enquanto as rotas de transporte terrestre na Eurásia ajudam a economizar tempo, o suporte logístico por mar ainda é, pelo menos, 50% mais barato.

Para analistas europeus, a Nova Rota “não é tanto um plano prático quanto uma visão política mais ampla”. O fluxo de comércio da China para a Europa por rotas terrestres tem praticamente “sentido único”, ressaltam.

“Os investidores chineses estão se tornando mais experientes e pragmáticos. Se um projeto não é bem preparado e apresentado, não há como obter financiamento chinês. E a Rússia não é exceção a essa regra”, diz Oleg Remiga, diretor do Laboratório de Estudos Chineses da Escola de Administração de Moscou, em Skôlkovo.

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