Trump assina decreto sobre retirada do TPP, entre o vice-presidente Mike Pence (esq.), e o chefe de gabinete da Casa Branca, Reince Priebus, em Washington
ReutersNo primeiro dia útil na Casa Branca após a posse, o presidente dos EUA, Donald Trump, cumpriu uma de suas promessas eleitorais assinando um decreto sobre a retirada dos EUA do Tratado Transpacífico.
Mais cedo, o governo dos Estados Unidos já havia informado que estava preparado para tomar medidas contra países que violam acordos comerciais e exigiu uma revisão dos termos e condições do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), entre os EUA, o Canadá e o México, para torna-lo “mais justo”.
As medidas da política nova comercial são consequência do deficit no comércio bilateral com os parceiros mais importantes dos EUA, justifica o presidente americano. No caso da China, que, segundo Trump, estaria depreciando o valor da moeda nacional, o yuan, para apoiar as exportações, esse déficit ultrapassou a marca dos US$ 290 bilhões durante os dez primeiros meses de 2016.
No entanto, especialistas internacionais alertam que o aumento unilateral de tarifas e impostos poderá ser contraproducente para os EUA. Em um discurso no fórum de Davos, o chefe da OMS (Organização Mundial de Saúde), Roberto Azevedo, lembrou sobre os riscos do efeito dominó, quando aumentos tarifários recíprocos resultam em uma forte redução tanto das importações como das exportações.
O que a Rússia tem a ganhar
De acordo com a previsão do Banco Mundial, a Rússia não sofreria qualquer efeito econômico direto do Acordo TPP após entrar em vigor; já a China, seria acometida por uma potencial redução no volume de exportações.
No entanto, se ambos o TPP e o Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (APT) tivessem sido implementados, a União Econômica Euroasiática (UEE), que engloba Rússia, Bielorrússia, Armênia, Quirguizistão e Cazaquistão, ficaria isolada em termos de comércio e investimento, diz Evguêni Vinokurov, diretor do Centro de Estudos de Integração do Banco Eurasiático de Desenvolvimento.
“Agora que os Estados Unidos se retiraram do TPP, isso está oferece à Rússia e à UEE a chance de desenvolver relações comerciais e econômicas com os países da região Ásia-Pacífico”, afirma o especialista.
A Rússia, enquanto membro da UEE, já possui um acordo de zona de livre comércio com o Vietnã (um dos signatários do TPP), e as fabricantes de automóveis russas KamAZ e AvtoVAZ já chegaram a acordos sobre a localização de produção no país.
Segundo os registros financeiros da KamAZ, por exemplo, a empresa conseguiu dobrar o tamanho das exportações para países fora do antigo espaço soviético em 2016 graças às entregas ao Vietnã, o maior mercado da empresa após a CEI.
Paralelamente, Moscou vem mantendo negociações para simplificar o comércio com outros países asiáticos, entre eles a China. Embora não preveja a redução de impostos, o acordo poderá simplificar a circulação mútua de mercadorias, com a suspensão de restrições não tarifárias e a uniformização dos processos para inspeção de qualidade.
O governo russo estuda ainda a possibilidade de estabelecer áreas de livre comércio com Cingapura, Coreia do Sul e Índia. Além disso, a Rússia faz parte do fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que está sendo usado como uma plataforma paralela para negociações da área de livre comércio.
“A China, por sua vez, terá maior liberdade para promover seu próprio projeto de Parceria Abrangente Econômica Regional ( RCEP), uma proposta de área de livre comércio de 16 nações”, diz Aleksêi Portanski, professor na Escola Superior de Economia e pesquisador sênior da Academia Russa de Ciências.
Segundo Portanski, porém, a alternativa da China pode revelar-se menos abrangente do que o TPP, já que os países que potencialmente participariam do acordo “estão até agora ativamente protegendo seus mercados”.
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