'Brics não vão criar novas instituições todo ano', diz Uliukaev

Segundo ministro, atitude prática do grupo tem sido provada especialmente desde a presidência russa.

Segundo ministro, atitude prática do grupo tem sido provada especialmente desde a presidência russa.

Alexandr Korolkov/RG
Às vésperas da 8ª Cúpula do Brics, que ocorre entre 15 e 16 de outubro em Goa, na Índia, ministro da Economia russo faz balanço do grupo.

Às vésperas da 8ª Cúpula do Brics, que ocorre entre 15 e 16 de outubro em Goa, na Índia, o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia avalia grupo em entrevista exclusiva à Gazeta Russa. Para Aleksêi Uliukaev, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul passa a priorizar mecanismos criados anteriormente:

Como a Rússia pretende intensificar a cooperação com os países do Brics?

O Brics não tem o objetivo de surpreender a comunidade internacional criando novas instituições todos os anos. No momento, nossa principal tarefa é organizar o trabalho dos formatos já existentes e iniciar a aplicação prática das iniciativas.

Pretendemos intensificar a cooperação na área do comércio eletrônico, desenvolver a cooperação entre pequenas e médias empresas (PME), criar um recurso eletrônico especial para essas e simplificar o acesso dessas aos contratos públicos e de grandes empresas.

Também apoiamos as iniciativas da Índia na área do comércio e de serviços e na eliminação de barreiras não tarifárias. A implementação dessas iniciativas ajudará a criar uma economia inovadora e reforçar o comércio e os laços econômicos entre os países do grupo.

No ano passado, em Ufá, os países-membros aprovaram a Estratégia de Parceria Econômica do Brics. O que foi feito durante o ano?

Esse é um documento muito difícil e complexo, cuja implementação exige um trabalho coordenado de diferentes departamentos, tanto em nível nacional, como no âmbito do Brics. Na área econômica, estamos intensificando a cooperação no comércio eletrônico.

Por iniciativa da Rússia, será realizado o segundo “Diálogo dos Especialistas”, onde representantes de governos e de empresas unificarão as abordagens dos países do Brics no conceito do comércio eletrônico.

Há questões internacionais onde o Brics já tenha se tornado um player global e possa ditar seus termos?

O Brics não pretende ditar termos. Todos os cinco países têm alta autoridade moral na arena internacional. É um dos instrumentos mais poderosos da nossa influência sobre as decisões na agenda global.

O Brics busca apoio, agindo no interesse de todos os países em desenvolvimento, entre eles Argentina, México, Indonésia, Egito, Arábia Saudita etc. Prestamos muita atenção à cooperação na área de segurança alimentar, energia, tecnologias de informação.

O Novo Banco de Desenvolvimento do Brics visa à cooperação com outras instituições financeiras, entre elas o Banco Mundial, AIIB e o Banco de Desenvolvimento da Eurásia. Assim, o Brics já se tornou centro da atração de outros países que levam em alta conta relações internacionais mais justas, inclusive as relações econômicas.

Não é segredo que os países do Brics frequentemente têm abordagens diferentes na resolução de questões no âmbito da OMC ou do G20. Isso é normal, já que cada membro do grupo tem suas próprias características nacionais de desenvolvimento. Mas o fato de que os cinco países em desenvolvimento decidiram coordenar suas posições é um passo enorme.

Não combinamos esforços contra ninguém. Pelo contrário, nos concentramos na promoção de uma agenda positiva e unificadora nas relações internacionais.

Como a economia russa é afetada por sua participação no Brics?

Originalmente, o Brics foi concebido como uma associação de países iguais. O clube já provou sua viabilidade e sua resistência a crises. Apesar do declínio no crescimento econômico, os países do bloco, onde vivem mais de 40% da população mundial, continuam a ser atraentes e promissores.

Dentro do curto período de sua existência, o grupo já alcançou resultados significativos: criou o Novo Banco de Desenvolvimento do Brics e conseguiu formar uma visão comum de cooperação econômica e comercial, cujos principais objetivos foram incluídos na Estratégia de Parceria Econômica do Brics.

Apesar dos fatores econômicos externos negativos, no primeiro semestre de 2016, o comércio entre a Rússia e os países do Brics, em volumes físicos, cresceu 12,6%, em comparação com o mesmo período do ano anterior.

O Brics é frequentemente acusado de retardar os trabalhos práticos. Essa situação mudou durante o ano da presidência da Rússia?

Acho que essas acusações são completamente infundadas. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics e do fundo de moeda de reserva é uma prova disso. O banco já começou a financiar os primeiros projetos nos países do grupo.

Durante sua presidência, a Rússia ofereceu a seus colegas a Estratégia de Parceria Econômica, além de uma lista de projetos para implementação conjunta no formato multilateral.

Somos gratos aos indianos pela continuidade e aprofundamento do trabalho iniciado pelos russos. Especialmente na implementação da Estratégia. Além disso, entre 12 e 14 de outubro será realizada a Feira do Brics, que é considerada um dos eventos mais importantes da presidência indiana.

Quando começará a implementação dos primeiros projetos do Banco do Brics?

Os primeiros projetos já foram aprovados. Os países-membros receberão US$ 911 milhões para a implementação de projetos de energia renovável. A Rússia, por exemplo, receberá investimentos na construção de miniusinas hidrelétricas na Carélia [região russa que faz fronteira com a Finlândia]. Além disso, o Banco também está interessado em outros projetos na Rússia, inclusive no desenvolvimento de infraestrutura de transporte.

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