Decisão do BCE indica fragilidade da economia europeia
ReutersA decisão do Banco Central Europeu (BCE) de cortar a taxa básica de juros a zero, antes fixada em 0,05%, torna os mercados em desenvolvimento, que estão interessados em dinheiro barato e acessível, mais atraentes para os investidores europeus.
A medida, que visa a impulsionar o crescimento econômico na zona do euro até 1,4% do PIB e reduzir o nível de desemprego regional, tende a aumentar os investimentos da UE na Rússia, sugerem os especialistas.
“A decisão do BCE aumentará a atratividade dos mercados relacionados, como já aconteceu no Japão, no Reino Unido e nos EUA. O mercado russo receberá injeções adicionais”, prevê o analista da empresa financeira Grand Capital, Serguêi Kozlóvski.
Para o especialista, a vantagem obtida com o corte da taxa básica de juros na Europa pode ser, porém, coibida pela atitude negativa em relação aos russos devido a questões políticas.
Atração mútua
A taxa básica de juros na Rússia é atualmente de 11%, o que encarece o crédito para empresas e a população. Por exemplo, a taxa preferencial para crédito imobiliário por meio do Sberbank, o maior banco nacional, é de 12,5% ao ano.
Nesse contexto, enquanto os mutuários russos estariam interessados em um financiamento europeu mais barato, os investidores da UE buscam taxas mais elevadas, como na Rússia.
“Essa decisão estimulará a demanda pelos ativos de alto risco, como é caso do mercado russo”, diz o analista da empresa de investimento Finam, Bogdan Zváritch.
A decisão do BCE também pode alavancar os preços do petróleo e a moeda de países emergentes, incluindo o rublo, segundo o economista da ING Group Rússia, Dmítri Polevoi.
Entrave político
O cenário político global seria o principal obstáculo para o crescimento dos investimentos. “Os investidores europeus prestam atenção não apenas às taxas de juros”, diz o analista da MFX Broker, Artiom Zviáguilski. “No caso da Rússia, eles consideram também o efeito das sanções, os rankings das agências de classificação de risco e os preços do petróleo”, completa.
No início deste mês, por exemplo, o governo russo propôs a 25 bancos estrangeiros a venda de eurobonds (títulos de dívida publica em euros), no valor de US$ 3 bilhões.
No entanto, segundo o jornal “The Wall Street Journal”, Washington teria solicitado aos maiores bancos norte-americanos que não investissem nos economicamente lucrativos, porém politicamente arriscados títulos russos, sob a justificativa de que os acordos poderiam minar a base das sanções econômicas contra o país.
A situação difícil na própria zona do euro também aparece como obstáculo para o crescimento dos investimentos. Para Zváritch, as ações do BCE mostram que a situação na economia europeia é muito pior do que se pensava anteriormente. “Isso significa que todas as medidas anteriores do regulador europeu não ajudaram a sanar os problemas econômicos da região”, arremata.
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