Finanças islâmicas não têm a ver com ideias políticas e religiosas, alerta especialista
Getty Images/FotobankO primeiro banco que trabalhará na Rússia de acordo com os princípios da sharia (lei islâmica) será inaugurado em março na cidade de Kazan, conhecida como capital muçulmana do país. O objetivo do banco, chamado The Partnership Banking Center, é atrair investimentos islâmicos.
A nova instituição, que estará associada ao Banco Islâmico de Desenvolvimento, uma das maiores organizações financeiras islâmicas do mundo, se tornou possível graças a uma nova lei que versa sobre a abertura de contas bancárias e estipula restrições ao investimento dos fundos.
A ideia é que os clientes tenham certeza de que seus fundos não estejam sendo investidos em áreas proibidas pela sharia, como empresas de bebida alcoólica, cassinos e indústria do sexo.
Segundo previsão dos economistas, a medida possibilitará a entrada de mais US$ 2 trilhões no mercado financeiro do país.
O Kremlin começou a estudar o sistema bancário islâmico como mecanismo de atrair financiamento ainda em 2013. Entretanto, após a introdução da sanções financeiras pelos EUA e países da União Europeia, a necessidade de encontrar fontes de investimento alternativas se tornou ainda mais urgente.
Para muçulmanos, mas não somente
Um banco islâmico é um sistema ou atividade bancária que seja compatível com os princípios da sharia (lei islâmica): proíbe a cobrança de taxas pelo empréstimo de dinheiro, bem como investir em empresas que fornecem bens ou serviços considerados contrários aos preceitos da religião.
No entanto, o presidente da Fundação para o Desenvolvimento dos Negócios e Finanças Islâmicos na Rússia e conselheiro do premiê do Tatarstão, Linar Iakupov, acredita que o conceito de “finanças islâmicas” seja mal interpretado e associado a ideias políticas e religiosas.
“Trata-se trata de apenas um conjunto de instrumentos financeiros que não têm nada a ver com a religião em si. Os diretores e proprietários dos bancos e instituições financeiras islâmicos, bem como os seus clientes, frequentemente não são muçulmanos”, explica Iakupov.
Zonas especiais
Iakupov afirma, porém, que a Rússia não teria intenção de abrir bancos islâmicos independentes, mas “janelas islâmicas” que prestam serviços financeiros islâmicos nos maiores bancos russos, a exemplo da estratégia usadas por grandes bancos internacionais como HSBC e Citibank.
“Isso permitirá reduzir a concorrência entre as instituições financeiras comuns e islâmicas”, diz.
Segundo o vice-presidente da Comissão dos Mercados Financeiros e um dos autores da nova lei, Dmítri Savéleiv, o governo planeja criar zonas especiais para a introdução de bancos islâmicos.
A primeira zona especial será provavelmente criada no Tatarstão, “que tem experiência em projetos internacionais e estabeleceu contatos com investidores de países muçulmanos”.
Barreira superável
Apesar das vantagens, a principal dificuldade na colaboração com instituições financeiras islâmicas é, segundo o vice-diretor de política financeira do Ministério da Finanças russo, Serguêi Platonov, a falta de padrões internacionais dos bancos islâmicos.
“Assim, a Rússia não pode ‘copiar’ a base jurídica, é preciso criar sua própria única legislação que permite trabalhar com finanças islâmicas”, aponta Platonov.
No entanto, o vice-presidente do Banco Central da Rússia, Aleksandr Tórchin, que também apoia a chegada das finanças islâmicas à Rússia, diz que não existe a necessidade de reescrever as leis. “Os banqueiros apenas têm que arregaçar as mangas e começar a trabalhar”, dispara.
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