População tem reação negativa e acredita que inflação chegue aos 28%.
FotoimediaDesde maio passado, a moeda russa, que já tinha sofrido uma desvalorização de cerca de 30% em relação ao dólar e ao euro, vem atingindo mínimos históricos. A tendência de depreciação do rublo é, segundo economistas, motivada sobretudo pela adoção do regime de câmbio flutuante pelo Banco Central, em novembro de 2014.
“Diria que o governo não escolheu uma boa hora para realizar a reforma. O drástico colapso da moeda russa no final de 2014 ocorreu devido à recusa do Banco Central em apoiar a estabilidade do rublo”, diz o analista da holding de investimentos Finam, Anton Soroko.
“Seria lógico adiar a liberalização da taxa de câmbio do rublo até que as relações geopolíticas melhorem”, acrescenta Soroko.
Um mês antes da alteração, o Banco Central da Rússia vendeu 27,2 bilhões de dólares para apoiar a moeda nacional. Mas a iniciativa não teve efeito significativo sobre a taxa de câmbio.
Em resposta à drástica queda do rublo, o órgão regulador decidiu adotar o regime de câmbio flutuante, deixou de intervir no mercado e parou de vender dólares para apoiar a moeda nacional.
“A transição para a flutuação livre do rublo é, sem dúvidas, uma das principais decisões macroeconômicas da Rússia moderna”, diz o ex-vice-presidente do Banco Central da Rússia, Konstantin Koríschenko.
O Banco Central precisou ajustar o nível da taxa de câmbio entre 1995 e 2014. “A necessidade de regular a taxa surgiu no início dos anos 1990. A intenção era lutar contra a inflação, aumentar a confiança no rublo, financiar o deficit orçamentário e atrair investimentos estrangeiros. Mas havia o outro lado da estabilização da taxa: valorização excessiva da moeda”, diz.
Apesar de considerar a reforma questionável, Soroko destaca que a decisão do Banco Central ajudou os fabricantes nacionais e reduziu a pressão sobre as reservas internacionais.
Além disso, a partir de maio deste ano, o Banco Central começou a injetar dólares no mercado para repor as reservas.
Efeito dominó
Em junho passado, uma queixa foi apresentada no Tribunal de Moscou contra a decisão do banco de adotar o regime de câmbio flutuante. Mas o pedido acabou indeferido.
Além de promover a queda abrupta da moeda, a adoção do regime de câmbio flutuante também levou à redução dos salários reais e ao aumento da inflação, provocando uma reação negativa na população.
De acordo com o Centro de Análise Macroeconômica e de Previsão de Curto Prazo, até o final de 2015, os salários reais deverão cair 8% na Rússia. Pesquisas de opinião pública ainda revelam que os cidadãos acreditam que a inflação chegará aos 28% neste ano, e, em 2016, ficará em torno dos 15%.
Segundo dados do Banco Central, quase 45% dos depósitos de pessoas jurídicas no país são feitos em moedas estrangeiras. “Empresas, bancos e população estão tentando se adaptar às novas condições, convertendo as poupanças em moedas estrangeiras e solicitando mais financiamento estatal”, diz Koríschenko.
Para ele, o sucesso da taxa de câmbio flutuante do rublo requer mudanças na estrutura econômica e menor dependência de exportações de commodities.
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