Estoques atuais nos depósitos permitem à Ucrânia viver confortavelmente somente até o Ano Novo Foto: Reuters
As conversações entre a Rússia e a Ucrânia com a mediação da UE voltaram a falhar mais uma vez. Moscou não esconde que a principal causa do fracasso desta rodada foi o fato de Bruxelas não conseguir alocar US$ 1,6 bilhão para Kiev, quantia que seria destinada à compra de gás da Gazprom em sistema de pré-pagamento.
Após uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, o chefe de Estado russo Vladímir Pútin sugeriu que os europeus pagassem a dívida ucraniana por meio de um empréstimo ou garantias do Banco Europeu. Até o momento, nenhum representante oficial da UE confirmou se a questão estaria sequer sendo analisada.
Paralelamente, o comissário europeu Günther Oettinger deu a entender que a Ucrânia deveria encontrar por si própria o capital necessário, recorrendo à assistência macroeconômica já alocada pela UE. “Nos próximos dias vamos fazer de tudo para que os nossos amigos ucranianos determinem uma soma específica que possa ser usada para pagar o gás”, disse Oettinger.
A UE acredita também que o uso de uma empresa intermediária entre a russa Gazprom e a ucraniana Naftogaz poderia ajudar a sair do impasse. “Se a Naftogaz não pode pagar, então essa empresa europeia assume o pagamento do gás e depois revende o produto à Naftogaz”, explicou Oettinger. De acordo com o jornal “Kommersant”, não se exclui a possibilidade de o pagamento pelo trânsito de gás russo rumo à Europa ser usado para amortizar os fornecimentos à Ucrânia.
“A principal razão para a necessidade de um mediador europeu é o fato de a Gazprom não querer incluir no contrato uma cláusula sobre a responsabilidade pelo não fornecimento de combustível e multas”, declarou uma fonte do Ministério da Energia ucraniano citada pelo “Kommersant”.
As relações russo-ucranianas referentes ao gás quase sempre se mantiveram na base de esquemas de mediação. No início dos anos 2000, o gás da Ásia Central era fornecido à Ucrânia através da Itera, que foi posteriormente substituída pelo trader suíço RosUkrEnergo. Após a assinatura do contrato vigente, em 2009, acabaram sendo eliminados os mediadores entre a Gazprom e a Naftogaz.
Segundo a fonte, Kiev teme que a Gazprom, no caso de quedas bruscas de temperatura, não seja flexível em aumentar o fornecimento. Isso pode levar a interrupções no fornecimento de gás na Ucrânia, uma vez que “o gás armazenado nos depósitos é mínimo” e os picos de consumo dificilmente conseguirão ser satisfeitos por completo.
Enquanto os europeus têm receio de conceder um financiamento direto à Naftogaz, pois “a empresa não é transparente, existe um enorme cruzamento de subsídios e baixo nível de pagamentos dos consumidores”, a Gazprom foi enfática ao recusar a proposta europeia de mediação. “Não consideramos a opção de uma empresa intermediária europeia que compraria o gás na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia”, disse o CEO da petrolífera russa, Aleksêi Miller.
A próxima rodada de negociações está prevista para esta quarta-feira (29). No entanto, como o mandato da atual equipe da Comissão Europeia vai expirar na próxima sexta-feira (31), o cargo de Oettinger, que está envolvido em questões de gás há cerca de 10 anos, será ocupado por outra pessoa. O período de adaptação do novo encarregado deve, portanto, prolongar ainda mais as negociações.
Até que uma decisão seja tomada, a Naftogaz deve enfrentar muitos problemas. Isso porque a temporada de frio já começou no país. Em 20 de outubro, o volume de gás extraído dos depósitos de armazenamento subterrâneo ultrapassou pela primeira vez a entrada de gás. Os estoques atuais nos depósitos permitem à Ucrânia viver confortavelmente somente até o Ano Novo.
Publicado originalmente pelo jornal Kommersant
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