"Acho que as sanções são uma arma prejudicial para todos as partes", diz Potánin Foto: Press Photo
Um dos empresários mais ricos da Rússia, com um patrimônio avaliado em US$ 12,6 bilhões, Vladímir Potánin, coproprietário e diretor-geral do maior produtor de níquel do mundo, a Norilsk Nickel, conversou com a Gazeta Russa sobre as mudanças de estratégia da empresa e das implicações das sanções à Rússia.
Gazeta Russa - Durante o ano passado, o senhor vendeu vários ativos nos Estados Unidos e na Austrália. Por que a empresa decidiu sair de vários mercados? Isso é uma parte da estratégia da companhia?
Vladímir Potánin - Estamos nos livrando dos ativos não estratégicos que impedem o desenvolvimento da empresa. Decidimos sair de todos os projetos de investimento na Austrália, mantivemos apenas uma licença australiana. Agora, estamos avaliando a possibilidade de sair dos projetos na África. A saída desses ativos foi planejada muito antes da turbulência política, em nossa estratégia de longo prazo.
A turbulência política influenciou o trabalho da Norilsk Nickel?
A Norilsk Nickel é uma empresa privada que age de acordo com a legislação russa. A empresa é controlada por todos os sistemas de regulação, estamos representados nas bolsas de valores internacionais. Os produtos da nossa empresa têm uma grande importância na economia. Em particular, fornecemos níquel para a indústria de aço europeia. A tensão geopolítica não deve influir a nossa empresa, que está profundamente integrada nos processos econômicos mundiais.
Acho que as sanções são uma arma prejudicial para todos as partes. As sanções econômicas prejudicam todos os parceiros e sempre levam a uma derrota política. Quando os políticos introduzam sanções, ou seja, reduzem o valor dos ativos, isso significa que alguma coisa não está funcionando.
A Norilsk Nickel está ligada com os consumidores europeus e americanos. Como as novas sanções podem prejudicar a empresa?
A Norilsk Nickel comercializa ativamente os seus produtos na Europa e nos Estados Unidos. Fornecemos paládio para catalisadores de ônibus, por exemplo. O mercado de paládio terá um déficit estrutural durante os próximos anos, o que, provavelmente, aumentará os preços. Ao mesmo tempo, nos comportamos com lealdade aos consumidores, assinamos contratos a longo prazo que são mutuamente vantajosos. O paládio é utilizado na produção de coletores de emissão do dióxido de carbono. É um elemento pequeno, mas importante para os fabricantes de automóveis. Por causa do catalisador, cujo preço não ultrapassa US$ 1.000, o carro que custa US$ 30 mil não pode ser vendido. A empresa se sente confortável nas condições atuais. Não acho que as sanções ou quaisquer outras medidas de persuasão política e econômica poderão nos afetar.
No entanto, em qualquer caso, temos um plano alternativo, que prevê a diversificação de moedas e a reorientação da nossa empresa aos mercados asiáticos.
A empresa não teme a redução da demanda por seus produtos nos mercados ocidentais?
A maioria dos nosso produtos é vendida nas bolsas de valores e pode ser redirecionada de um mercado para outro. Não trata-se de um produto de consumo, como quando uma pessoa compra um vestido especial, sapatos ou um carro específico. As pessoas compram simplesmente níquel. Por isso não podemos dizer que a empresa enfrentará problemas com a venda de níquel. A indústria siderúrgica europeia e as empresas americanas estão acostumadas ao níquel de alta qualidade produzido pela nossa empresa.
Por que você decidiu elaborar uma nova estratégia da Norilsk Nickel em 2013?
Todas as empresas precisam de uma estratégia clara para que os investidores possam avaliar as suas capacidades. A nossa nova estratégia simbolizou a conclusão de divergências entre os acionistas. Basicamente, a estratégia prevê investimentos no melhoramento da gestão. A Norilsk Nickel sempre se posicionou como uma empresa fora da competição por causa da qualidade dos ativos.
O senhor conseguiu atrair novos investidores?
Sim, graças ao rendimento de dividendos, conseguimos atrair novos investidores que buscam retornos elevados com baixo risco. Todos sabem que quanto mais a base de investimento, tanto menos a volatilidade das ações. Assim, a Norilsk Níquel é uma boa opção.
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Quais são as realizações mais importantes da nova estratégia?
Em primeiro lugar, conseguimos controlar os custos de produção. Em segundo, melhoramos todos os procedimentos corporativos. Em particular, introduzimos um sistema de comitês de investimento, aprovamos as regras de organização de licitações. Em terceiro lugar, mostramos uma margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e a amortização) de 44%. Em quarto lugar, melhoramos significativamente os contatos com bancos e agências de rating e reestruturamos os empréstimos bancários. Em particular, aumentamos o período de empréstimo, excluímos os empréstimos hipotecários e melhoramos a flexibilidade na gestão da carteira.
A decisão de realizar uma parte de pagamentos em dólares de Hong Kong foi uma parte dessa estratégia?
Sim, decidimos reorientar o negócio aos mercados asiáticos quando Vladímir Strjalkóvski foi o diretor-geral da empresa. Naquele tempo, tentamos entrar no mercado chinês, abrimos vários novos escritórios. Agora, nossa presença nos mercados asiáticos aumentou muito. É uma tendência natural, todos prestam muita atenção aos mercados que são os motores da economia mundial e determinam os preços de produtos. Mas eu não chamaria esse processo de reorientação do Ocidente para o Oriente, é uma busca de novas oportunidades no Oriente. No entanto, por causa da turbulência geopolítica, tivemos que acelerar esse processo. Além disso, temos um projeto de construção de uma planta de mineração e processamento em Bístrinski, na região de Transbaikal, que vai produzir concentrado de minério de ferro e minério de cobre. A China será um consumidor natural desses produtos.
A Norilsk Nickel é a segunda empresa siderúrgica mais eficaz do mundo. Você planeja ultrapassar a BHP e ocupar o primeiro lugar?
Não estamos falando de um esporte. Planejamento estratégico de longo prazo sempre tem duas alternativas. Dependendo da política de mineração, podemos aumentar o volume de produção e acabar com uma margem Ebitda menor, ou podemos diminuir a produção e acabar com uma margem Ebitda maior. Agora, fazemos tudo para manter a rentabilidade em 40%.
Negócio não é esporte, é sobre como ganhar dinheiro, mas a BHP Billiton não deve estar relaxando.
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