De acordo com especialistas, a cooperação entre a Gazprom e o Brasil assume novos significados em função das sanções impostas à Rússia pelos EUA e pela União Europeia Foto: AP
Uma subsidiária da gigante de gás russa Gazprom, a Gazprom International, decidiu aumentar a sua presença na América Latina. A agência Reuters relatou que a declaração foi dada pelo diretor do escritório de representação da Gazprom no Brasil, Chakarbek Osmonov. De acordo com ele, a empresa está negociando a compra de ações de campos de petróleo da plataforma continental do Brasil e também planeja iniciar a produção de gás nos campos da Bolívia daqui um ano.
No Brasil, a companhia ficou particularmente interessada nos depósitos que já estão sendo explorados, mas ainda não se sabe exatamente quais são eles. Na Bolívia, por sua vez, a empresa planeja iniciar a produção de gás já em 2016.
Novos mercados
"A América Latina é rica em hidrocarbonetos que interessaram à Gazprom. A produção de gás será realizada pela Gazprom International, subsidiária da Gazprom que está engajada em projetos internacionais", diz Ivan Kapitonov, vice-chefe do Departamento de Regulação Estatal da Economia da Academia Russa de Economia Nacional e da Administração Pública junto ao Presidente da Federação Russa.
De acordo com ele, “essa decisão permite à Gazprom diversificar a sua própria base de recursos, bem como expandir a sua presença em uma região extremamente atraente do ponto de vista da demanda".
"Está sendo levado em conta que nos projetos conjuntos com os parceiros europeus, a Gazprom provavelmente terá acesso não só a uma parcela das receitas provenientes da atividade como também às tecnologias, tão necessárias em um período de sanções", afirma Kapitonov.
Bolívia
Na Bolívia, a principal parceira da Gazprom é a companhia francesa Total. Grigori Birg, analista da agência Investcafe, lembra que a Gazprom, a Total e a estatal boliviana YPFB assinaram, ainda em 2008, um contrato de serviço de pesquisa e exploração de hidrocarbonetos no bloco Acepo. As reservas desse bloco são estimadas em 51 bilhões de metros cúbicos de gás, e os investimentos futuros no desenvolvimento serão equivalentes a US$ 1 bilhão.
Ao lado dele existem dois outros blocos, dos quais foram extraídos aproximadamente 176 bilhões de metros cúbicos de gás e 15 milhões de toneladas de condensado de gás natural. Nesses projetos, a Gazprom é uma acionista minoritária, a sua participação no desenvolvimento dos blocos é de 20%, sendo que a parcela da empresa Tecpetrol, pertencente a um grupo argentino-italiano, também é de 20%, enquanto que a parcela da companhia francesa Total, operadora do projeto, é de 60%.
"Numa situação em que as reservas de hidrocarbonetos do mundo estão diminuindo gradualmente, praticamente todas as empresas anseiam aumentá-las de uma forma ou de outra, para dar continuidade à sua atividade no futuro", diz Dmítri Baranov, especialista da empresa de gestão Finam Management.
De acordo com ele, os países da América Latina apostaram na aceleração de seu desenvolvimento. Logo, precisarão de muito mais petróleo e gás nos próximos anos.
"A cooperação com os Estados latino-americanos irá reforçar os laços políticos e econômicos da Rússia com esses países e aumentará o nível de confiança das suas relações. Além disso, a experiência de trabalho obtida poderá ser utilizada pelas empresas russas em outras regiões do mundo", acrescenta Baranov.
Contexto mundial
De acordo com o serviço de imprensa da Gazprom, a América Latina é uma região promissora para a companhia. Ainda em fevereiro de 2007, a empresa assinou um acordo de cooperação com a Petrobras na área de prospecção, extração, transporte e venda de hidrocarbonetos. Tratava-se principalmente da exploração de depósitos marinhos, incluindo um segmento promissor para a Gazprom, a produção de gás natural liquefeito. A Gazprom também está desenvolvendo projetos semelhantes na Venezuela.
Em setembro de 2008, a gigante russa e a companhia local Pdvsa assinaram um memorando de entendimento para o projeto "Blankilla Este y Tortuga”, que inclui a prospecção e a produção de gás natural na plataforma continental da Venezuela, o seu fornecimento para o mercado interno, bem como a liquefação e a venda de gás para exportação.
Parceria e sanções
De acordo com especialistas, a cooperação entre a Gazprom e o Brasil assume novos significados em função das sanções impostas à Rússia pelos EUA e pela União Europeia.
"Num contexto de intensificação das sanções, a expansão da cooperação entre a Rússia e os países do grupo Brics é um processo sequencial lógico. Na Rússia, antes da crise ucraniana que conduziu a política dos países ocidentais em direção ao confronto, dava-se preferência às empresas ocidentais em detrimento aos países do grupo”, diz Kapitonov.
No entanto, de acordo com ele, a guinada provocada pelas sanções, que estabeleceram a proibição do fornecimento de alguns tipos de equipamentos para extração de petróleo e gás, deu um impulso para a realização de projetos da Rússia e dos países do grupo há muito planejados, mas que nunca haviam sido iniciados por várias razões.
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