Autoridades ucranianas ameaçam cortar fornecimento de eletricidade na Crimeia

No final de abril, o Ministério da Energia da Rússia aprovou um plano que prevê a construção de usinas termelétricas a gás na Crimeia Foto: Taras Litvinenko/RIA Nóvosti

No final de abril, o Ministério da Energia da Rússia aprovou um plano que prevê a construção de usinas termelétricas a gás na Crimeia Foto: Taras Litvinenko/RIA Nóvosti

Rússia volta a discutir a necessidade de tornar a península energeticamente independente o mais rápido possível.

No dia 4 de setembro, a empresa ucraniana Ukrenerg, proprietária da rede energética da Crimeia, alertou os habitantes da península quanto a uma possível limitação do fornecimento de energia elétrica. Conforme foi explicado em uma entrevista coletiva, as restrições no fornecimento se devem ao déficit de energia elétrica para consumo da própria Ucrânia, causado pela dívida junto à Gazprom, que levou esta última a cortar o fornecimento de gás para o país, e pela interrupção dos trabalhos nas minas de carvão do sudeste ucraniano devido ao conflito militar.

Em caso de insuficiência de energia elétrica, as autoridades ucranianas informam que cortarão o fornecimento para a Crimeia durante seis horas por dia – das 9h às 11h e das 19h às 23h – e também começarão a efetuar cortes totais nos bairros residenciais e empresas da maior cidade da península, Sevastopol. A Ucrânia já limitou o fornecimento de energia à Crimeia na noite de 31 de agosto, quando ficaram sem eletricidade as principais cidades da península: Simferopol, Sevastopol e Kertch. Posteriormente, o fornecimento foi restabelecido.

Principais decisões

"Caso continuem os cortes de energia à Crimeia por parte da Ucrânia, é óbvio que serão utilizados os sistemas móveis de alimentação elétrica de emergência, aos quais a região já recorreu no final do mês de agosto", disse Dmítri Baranov, especialista sênior da empresa UK Finam Managment. Além disso, segundo ele, a produção elétrica da própria Crimeia pode ser aumentada. Com essa finalidade, autoridades russas já colocaram na península 15 geradores móveis de turbinas a gás com potência de 22 MW cada. Seis desses geradores se encontram na capital da península, em Simferopol, cinco estão na maior cidade da Crimeia, Sevastopol, e os quatro restantes foram colocados longe dos principais centros urbanos, na região da subestação de Zapadnokrimskaia. “No total, se trabalharem em regime de carga máxima, esses geradores conseguirão produzir 330 MW de energia”, calculou o principal analista da empresa de investimentos UFS IC, Iliá Balákirev. Segundo ele, o consumo diário da Crimeia até agora tem sido de cerca de 500 a 540 MW de energia. No entanto, durante os meses de inverno o pico da demanda energética na península sobe para cerca de 850 MW, por isso a Crimeia não consegue ser autossuficiente em energia elétrica.

Além disso, o custo da energia produzida pelos geradores móveis é maior do que o preço da energia importada da Ucrânia. De acordo com dados oficiais, ela custa até cinco rublos (US$ 0,14) por um quilowatt-hora, enquanto as exportações da Ucrânia saem a 3,42 rublos (US$ 0,09) por cada quilowatt-hora. Para efeito de comparação, o custo da energia solar na região é de cerca de 3 rublos (US$ 0,08) por quilowatt-hora. A Rússia está planejando reforçar o sistema elétrico da península e conectar as suas redes ao continente, mas, por enquanto, estão sendo elaboradas as condições técnicas para o estabelecimento das novas redes. Além disso, os investidores para o projeto de geração elétrica ainda não estão definidos.

Planos para o futuro

No final de abril, o Ministério da Energia da Rússia aprovou um plano que prevê a construção de usinas termelétricas a gás na Crimeia, com capacidade total de 700 MW. As novas usinas ficarão localizadas nas imediações de Simferopol e Sevastopol. O custo total de criação de uma nova infraestrutura energética na península está estimado em 71 bilhões de rublos (US$ 1,9 bilhão). Como resultado, as autoridades russas esperam tornar a península 100% independente da energia vinda da Ucrânia em 2017. "Kiev manteve conscientemente a dependência energética da península. Nós não nos conformamos com essa situação", disse à agência de notícias Itar-Tass o governador da Crimeia, Serguêi Aksionov.

"Existem várias maneiras de resolver o problema da dependência elétrica da Crimeia em relação à Ucrânia, mas infelizmente todas elas exigem tempo ou conseguem compensar a queda de fornecimento do continente apenas parcialmente", disse Iliá Balákirev. Segundo ele, enquanto a Crimeia não tiver estradas que a liguem à Rússia, o fornecimento direto da Ucrânia continuará sendo a principal fonte energética da região. "Esperamos que a questão do fornecimento de gás à Ucrânia seja resolvida num futuro próximo – isso deverá garantir também o abastecimento estável à Crimeia. Para o já altamente debilitado orçamento da Ucrânia esta é uma valiosa fonte de renda e seria absurdo desistir dela", concluiu Balákirev.

 

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